sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

E assim termina o ano

Confesso que passa por aqui muito boa gente a quem eu não consigo pronunciar o nome.
Eles são coreanos, japoneses, chineses, bascos, um sem número de povos de hábitos e costumes estranhos.
Mas no que toca a nomes verdadeiramente curiosos, o prémio de 2010 vai para uma futura advogada francesa que se apresentou como Marineige.
Sendo que passei grande parte dos meus anos de francês no liceu a pensar em futebol, matraquilhos, na rapariga que se sentava ao meu lado nas aulas, na geometria dos tacos do chão das salas dos anos 40 e na importância dos movimentos republicanos na Catalunha, não consegui perceber o nome.
Marinezzzz, pareceu-me.
Perante o meu ar de espanto, ela repetiu, naquele tom de superioridade civilizacional que marca os gauleses aquilo que me pareceu ser: Marinezzzzzz
Sorri e afastei-me. Contudo, ela, atenta a esta minha falha linguística confessou-me ser de origem espanhola e que o nome dela era, nem mais nem menos do que uma tradução para o francês de Marinieve, Maria das Neves em bom português.
Emocionado, contive um sorriso de escárnio, pus-lhe a mão no ombro e encetei conversa com o meu primeiro hóspede de Taiwan, que ao saber desta sua condição me deu um abraço esmagando-me de felicidade asiática.
E assim se acaba um ano na esperança de reacções menos eufóricas e pessoas com nomes mais pronunciáveis.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Eesti

De todas as estirpes de hóspedes que por aqui passam, há um género que me irrita particularmente:
Os indivíduos que vêm a outros países apenas para confirmar que o país de origem é melhor do que aquele que estão a visitar.
Pois ontem chegou-me um jovem de quase dois metros oriundo desse grande exemplo civilizacional que é a Estónia. Com pouco mais que um milhão de habitantes a Estónia é conhecida internacionalmente pelas coisas que todos nós conhecemos.
Pois a bela alma veio de lá com os seus conhecimentos adquiridos ao fim de um ano de aturado estudo da língua portuguesa com comentários como tudo é tão barato em Portugal, como as lojas portuguesas não aceitam pagamentos com cartão de multibanco para maquias de 1 e 2 euros, como o único café de uma aldeia ao pé de Góis não tem wifi, como o nosso leite ultrapasteurizado não presta, como o nosso leite fresco é apenas semelhante aos piores que têm na Estónia e de como é tão mais caro, de como o país é quente e de fácil vivência, de como é ridículo construir cidades em 7 colinas.
Depois de conversa aturada pelo pobre Alex sobre as especificidades e diferenças da língua portuguesa entre Portugal e Brasil com comentários como: no Brasil não se fala português correcto porque há imprecisões gramaticais, de como o português europeu soa a algo aristocrático, de como é uma língua simples e elementar, pese embora ainda não tenha da sua boca ouvido uma qualquer palavras portuguesa bem pronunciada.
Talvez seja este post uma homenagem à paciência do Alex que repetiu ad infinitum a palavra "moram" que a jovem alma dizia "mourão" e não se apercebia das diferenças fonéticas, afirmando, de forma convicta que estava a dizer bem e que não havia diferença.
O ponto alto da noite foi um magnífico berro afirmativo em pleno Bacalhoeiro sobre como eu não tinha percebido como o cantor brasileiro tinha cantado com sotaque português no início, tendo depois regressado ao registo natural dele.
Claro está que reconheci uma superioridade intelectual deste jovem, que saberá, melhor que eu ou qualquer outro nativo do português, reconhecer estas subtilezas.
Como tenho um hostel que se pauta pela mediocridade intelectual, convidei-o a sair.
Que isto o Natal não é todos os dias...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Como Lisboa influenciou Gogol

Comentou-me uma cliente que, em Lisboa, lhe parecia ter visto muito personagem digno de livros de Gogol e Tchekov.
Sorri e limitei-me a educadamente ignorar os grandiosos planos de encerrarem as alas de psiquiatria dos nossos belos hospitais. Claro está que também a desmenti, começando desde logo a fazer contas mentais a fim de a desmentir.
Aqui neste canto da Graça onde habito só há o Preto do chapéu que fala sozinho ao fim de vários cartões de vinho, discutindo política de forma intensa com o seu "amigo", o do bigode que adopta em jardins públicos posições de fazer inveja ao family guy, o velhote corcunda que lê o expresso e carrega caixotes do lixo de um lado para o outro, um espadaúdo africano que consegue dormir nas mais estranhas e desconfortáveis posições nos muros do clara clara, o arrumador Raúl, oriundo de Badajoz e que recentemente lançou uma fatwa sobre um casal romeno, a senhora grande que repete ad infinitum "filho de uma granda vaca", o Alves que ameaça os clientes que não são do Benfica e que fala ao telemóvel no meio da estrada interrompendo frequentemente o trânsito, o senhor do lixo que cumprimenta e sorri a toda a gente que passa na rua mostrando o seu olhar esbórneo e os dentes podres, o drogado de olhar esbugalhado que tenta assaltar pessoas e que depois pede desculpa pelos sustos e maus jeitos, o buldogue francês que dá pulinhos maricas e o qualquer coisa velhote que me olha com um ar mais sapiete que a lagarta da Alice no País das Maravilhas.
Portanto, não vejo por aqui assim tantos personagens quanto isso e assumindo, como assumo, que o miradouro da Graça é um microcosmos de Lisboa, não haverá assim tantos por essas colinas fora.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Que persistência

Há coisas que, por muito que viva, creio nunca vir a entender na totalidade.
Uma delas é a paixão italiana por serem esmagados nos matraquilhos.
Confesso que fazia tempo que não jogava quando por aqui surgiram uns italianos que já por aqui estiveram duas vezes e que ainda não se aperceberam que sinto um especial prazer em tratá-los mal.
Pois não obstante a minha dissimulada falta de simpatia com que os recebi uma terceira vez, eles sorriram, eles entraram a falar de tal forma alta que todos os possíveis fantasmas de almas penadas que nesta casa existam acordaram sobressaltados e assumiram um à vontade normal de quem já conhece os cantos à casa.
Até aqui, tudo normal em relação a pessoas nascidas na bota da Europa onde se elegem pessoas como Berlusconi como primeiro-ministro apenas para lhe partir os dentes da frente.
O que foi realmente estranho foi o facto de um deles, depois de já ter sido humilhado mais vezes que eu paguei impostos (e refiro-me aos comuns produtos do dia a dia), me veio pedir para jogar matrecos à frente de todos os seus amigos.
Sendo uma pessoa a quem a violência física e psicológica pura e simplesmente repugna, evitarei descrever aqui a forma humilhante como fui marcando golos enquanto enunciava e enumerava velhas glórias do futebol italiano como Paolo Rossi, Vialli ou Ravenelli para desespero e surpresa dos presentes.
No final, e cumprindo uma secular tradição italiana, não houve direito aos tradicionais apertos de mão, mas sim a um andar acabrunhado enquanto se vocifera em dialecto da Calábria ou uma qualquer outra zona que produza vinho espumante.
Se o intrépido jovem italiano continuar a vir cá até me ganhar, acho que tenho o negócio mais ou menos garantido pelos próximos tempos.
Grazie mile!

domingo, 21 de novembro de 2010

Gosh bless America

Depois de me ter amigado de forma facebookiana de uns catitas americanos que por aqui passaram (os tais do Nabokov e Tarantino), resolvi partilhar a tipicamente francesa "Putain Bordel de Merde" numa questão de mera ajuda cultural a uma pobre rapariga que demonstrou verdadeira preocupação por ir a Paris e não falar francês.
Claro está que a menina não percebeu o que queria dizer e eu fiz questão de traduzir de forma a que o percebesse quando os franceses lho atirassem à cara depois de um belo repasto no McDonalds.
Uma vez feito, dei com o seguinte comentário da senhora sua mãe nesse tal mesmo de facebook:
"Hey, let's keep it clean, we have children and ladies reading our pages."
Depois de ter controlado o meu riso desbragado, resolvi esquematizar mentalmente uma série de coisas que nada têm que ver com nada:

1) a referida expressão foi-me ensinada por uma jovem francesa com quem partilhei casa em Southampton e que a dizia mais que amiúde
2) clean???? puritanos de um raio! wtf is clean?
3) pensei responder de forma imediata com alguma referência à falta de capacidade de encaixe e à hipocrisia generalizada nos EUA onde se dizem coisas tão belas e épicas como "the f**** word"
4) ah, e pôr um qualquer vídeo do South Park
5) pôr, pura e simplesmente, LOL

Mas nada disto fiz, tendo aguentado este meu espírito semi-valdevino, respondendo de forma educada:

"Dear Jeannette,

I'm terribly sorry for the swearwords, but do believe me things work quite differently in Europe and it was not meant to be offensive.
"

Confesso que até eu fiquei impressionado com tamanha demonstração de boa educação, mas temi que a americana jr fosse recambiada para os Estados Unidos por conhecer pessoas de tão terrível índole como este estalajadeiro que vos escreve.
Mas não fiquei tão impressionado quanto com a resposta subsequente da tal de Jeannette:

"Thank you, I appreciate the apology, but swear words are offensive, no two ways about it."

Gosto particularmente da abertura mental desta senhora. Quando quiser instaurar um governo ditatorial em Portugal, já sei quem hei-de chamar para Ministra do Bem Público, que substituirá de forma eficaz o Ministério da Saúde, da Educação e da Administração Pública, assim reduzindo os custos orçamentais. Ah, e dar-lhe-ei igualmente um simpático tempo de antena, substituindo o Marcelo Rebelo de Sousa e o Miguel Sousa Tavares, onde poderá falar com um simpático sorriso à Sarah Palin sobre a correcta postura dos cidadãos portugueses.
Haja decência, é o que vos digo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

De modas e modos

Deverá existir um qualquer ditado que nos põe de sobreaviso quando recebemos um telefonema de pessoas demasiado simpáticas que nos tratam de forma reverencial.
E assim fiquei no outro dia. Resulta que eram pessoas de uma seguradora a tentarem impingir sabe Deus o quê relacionado com saúde e higiene no trabalho.
Sendo que tomo banho bastante amiúde, não vi razões porque temer.
Mas aparentemente quem temeu foi uma mocita dos seus vinte e qualquer coisa anos e de acentuado sotaque coimbrão que, desde logo, passou ao ataque descrevendo um sem número de coimas e maldições eternas por desrespeito e falta de fé.
Claro está que tudo isto terminou num belo e claro "Então, assina?"
Não assinei.
Fazendo usufruto destas novas tecnologias da internet, pus-me em rápido contacto com quem de direito e cedo percebi que tamanhas ameaças não tinham razão de ser e que tomar banho amiúde bastava.
Quando liguei a comunicar esta brilhante verdade universal à roliça menina, assim me dispensando de gastar um dinheiro despropositado, fui brindado com um: "Então a que horas quer que passe por aí para assinarmos?"
Eu cá não sei, mas suspeito até agora que ela não percebeu o que lhe disse.
Seja como for, o encontro não se realizou, pois acabei por usar a cimeira da Nato como desculpa, que sempre é uma coisa que está na moda.

sábado, 13 de novembro de 2010

Quão assustadora pode ser a limpeza de um frigorífico?

Sei que poderá ser uma questão aparentemente simples, mas acreditem que de onde vos escrevo, é tudo menos isso.
O sentimento verdadeiramente altruísta que muito boa gente tem de achar que 2 tomates cherry poderão dar jeito a alguém ou que um resto de sumo invisível ao humano olho poderá matar a sede de todos os que se aventuram a subir até à Graça em dias de maior calor vai-se deteriorando até ao simples desleixo de deixar pacotes de saladas por abrir ou, pura e simplesmente, embalagens vazias.
Por muito desagradável que tudo isto seja, teremos que contar com a cumplicidade de todos os que não se importam e não comentam que os seus legumes estejam prestes a ser devorados de forma canibal por maioneses que foram trazidas para vida através de uma longa e saturada maturação. E isto para não falar em catranhurros que fazem os inspectores da ASAE parecerem playmobis e que fazem o processo de mutação das tartarugas ninja parecer coisa de meninos.
Uma vez equipado com luvas até ao pescoço e de cif power cream na mão (já que não se deve esquecer o meu diminuto olfacto) eis que, de tempos a tempos me lanço ao ataque de forma impiedosa.
Hoje foi dia disso. Amanhã não o será. E isso e só isso é que me faz sorrir no momento em que vos escrevo.

sábado, 6 de novembro de 2010

Californication

Contrariamente aos ditamentos de inúmeras associações anti-globalização, continuo a receber criaturas oriundas dos Estados Unidos, quer elas tenham votado Obama ou McCain. Recebo até alguns que não votaram. E isto sim, é abertura de espírito.
Pois acontece que ontem me surgiram 4 californianos e uma floridense ou como raio se chamam os habitantes da terra dos reformados americanos e dos imigrantes ilegais de Cuba.
Depois de ter ficado relativamente fascinado com o facto de estudarem coisas tão interessantes e diversas como Creative Writing (vulga Escrita Criativa) ou Cinema.
Fascinado, comecei a dissertar sobre Nabokov e Tarantino de forma descontraída até me aperceber, não muito tempo depois, que estes nomes nada diziam a estas boas almas.
Depois de se terem esquivado à minha pergunta inocente de quais eram as suas referências, fui invadido por expressões como "Gotcha" e "why speak another languages if English is so beautiful?".
Sorri então de forma profundamente cordial, fazendo mesmo inveja ao mais venerável sensei, e afastei-me em direcção a um tremendo Lapsang Souchong que me prometia salvação em goles prazenteiros.
Não me espanta que o Obama esteja a perder popularidade, que isto há coisas que o ser humano nem sempre aguenta

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ao tempo que não como uma boa cabidela

Pois faz-se este blogue não só de relatos pessoais, mas também de terceiros.
Depois de ter morto um(a) personagem, sinto que é meu divino dever construir uma nova.
Aos 35 anos, Alex, é um arquitecto brasileiro que se tem dedicado a remodelar a estalagem a partir do momento em que se apercebeu que os 3 dias iniciais que veio para ficar se prolongaram já por um período superior a um mês.
Pois acontece que este jovem resolveu ir conhecer ontem a lusa realidade das casas de fado. Estando acompanhado de brasileiros e franceses, eis que havia no grupo um jovem marroquino a residir em França a fim de terminar a sua brilhante carreira académica.
Pois foi precisamente com esse jovem que um idoso fadista resolveu dar uma de bom lusitano e perguntar que drogas tinha consumido por ter os olhos tão fechadinhos, assim denotando um profundo conhecimento sobre os jovens que tanto distúrbios causam em terras francesas.
Mas do outro lado, em vez de sorriso, houve um ar ofendido. Houve refilar. Houve conversa no final com o senhor fadista. Houve mão no pescoço do senhor fadista e gritos de falta de respeito e disto e daquilo.
Completamente alheado da realidade onde se encontrava, o jovem arabe (leia-se com o sotaque francês de Poitiers, local sagrado de travão ao avanço árabe na Europa há alguns anos atrás) levou uns merecidos sopapos (tapês, segundo o que me foi narrado, mas eu sou muito pouco fiel nestas coisas de narrar acontecimentos de terceiros), tendo sido posto no seu devido lugar pelo idoso fadista, pelo guitarrista, 2 empregados e mais alguns curiosos que não resistiram a juntar-se à garraiada.
Entre gritos de falta de respeito, lá foi posto na rua enquanto o Alex fazia contas à vergonha.
Neste episódio todo só lamento o facto de se ter passado num daqueles clubes de fado onde se paga bem e há gente benzoca. Houvera sido aqui na Tasca do Jaime e haveria cabidela para o jantar.
Por uma questão de respeito, claro está.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Besugfrei

Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem.

Bertolt Brecht


Se eu fosse uma pessoa letrada, acreditem que bem que punha um punhado de citações por cada post. Como não sou nem pretendo ser tal coisa, limito-me a achar piada quando tal coisa acontece, porque sempre dá um ar mais erudito aqui à coisa.
Mas indo directo ao gravoso assunto que aqui hoje me trouxe:
Queria anunciar a morte de uma das personagens. Depois de tempos e tempos de caracterização interior, até conseguir encontrar os adjectivos perfeitos para proceder a tamanha descrição, eis que o senhor estalajadeiro resolveu anunciar que o senhor Besugo só por cá poderá andar até fins do presente mês de Novembro.
Após acusações de perseguição pessoal quase fazendo lembrar o processo dos Távoras e de berritos de peixe, fui obrigado a dizer que não tinha paciência para tamanhas peixeiradas e dediquei-me a um empadão de carne que nesta coisa da culinária até é algo bem civilizado.
Portanto, eu, enquanto autor matei uma personagem. Enquanto estalajadeiro livrei-me de um puto que me consumia mais juízo do que o aceitável.
Sinto que estou a deitar material de posts fora, mas a vida real é mais violenta que a virtual.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Parem de comer, se faz favor

Numa altura em que parece que a ordem mundial se encontra ameaçada pelo aumento exponencial do consumo de carne e o hostel é invadido por fanáticos vegetarianos oriundos dos mais distintos pontos do planeta, eis que, no espaço de 4 dias, há quatro pessoas que resolveram parar de forma voluntária a sua digestão sem consultarem o centro de saúde mais próximo.
Devo confessar que era um sonho mais ou menos recorrente, tendo mesmo recorrido a várias pessoas que dizem saber o futuro (bruxas, professores oriundos de países africanos, políticos, o Alves e os carochos do Caracol da Graça) a fim de prever quando seria quebrado o jejum de limpeza asséptica das casas de banho, sendo necessário recorrer a medidas mais extremas e de cariz totalitário, fazendo a Líbia parecer uma democracia com a qual Portugal deveria fazer negócios.
Pois estes últimos dias trouxeram essa tal de cruel realidade que já andava a antever. Só não precisava de ser tão intensa, confesso.
Agradeço o atendimento dos meus sonhos, mas às vezes não precisavam de ser tão solícitos. Se isto é uma consequência directa da crise, então sou muito a favor do PEC.
Já agora, e à laia de consideração inocente, 3 dos 4 paralistas da digestão eram vegetarianos e a 4ª pessoa era hipo-termo-glicémica (ou qualquer assim), o que me faz enquadrá-la nos grupo dos defensores dos direitos dos animais.
Quando ao os vegetarianos a dar este tipo de exemplos, eu não sei, muito sinceramente, se o Benfica será capaz de ser campeão este ano.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

De onde se fala de coisas cultas

Indo eu para escrever um interessantíssimo artigo sobre grupos de pessoas oriundos de sítios específicos, como a recente onda de pessoas vindas daqui, quando vejo a minha liberdade criativa subitamente invadida por algo tremendamente mais criativo e brilhante.
Com a humildade que se reconhece na minha pessoa abandonei de pronto a minha actividade desinteressante de cogitar sobre comunidades e de que forma é que elas se reflectem no ambiente aqui da casa para prestar atenção às brilhantes tiradas que se seguem.
A personagem principal é o inevitável Besugo, que de olhos bem abertos, não hesitou em encetar conversa com um paquiderme britânico que afirmou ainda falar resquícios de ladino ao pequeno-almoço.
"So-so-so you-u-u speak luteran?", perguntou o jovem Besugo perante o ar de alguma incredulidade de todos os presentes.
Claro está que não satisfeito com esta brilhante tirada, resolveu igualmente comentar a morte de Deus por parte de Nietszche, saindo-se com um: "Nietszche é um anti-neo-nazi".
Pois é, meu querido, tivesse sido eu a responder-te e não um arquitecto brasileiro que te quer muito mais do que como amigo e já te dizia a resposta que levavas.
Infelizmente todo este ambiente criativo foi interrompido por dois pandas polares da Noruega que precisavam de companhia para se embriagarem. De pleno coração pio e cristão, Besugo levantou-se, abandonou a conversa e foi acompanhá-los.
Ámen.

domingo, 24 de outubro de 2010

Escreve Deus direito por linhas americanas

Ontem, e por divina força do Espírito Santo recebi uma criatura que ostentava um nome inenarrável e que, até que me provem o contrário, foi retirado à força da série norte-americana Big Bang Theory.
Depois de ter demonstrado facialmente o seu descontentamento pelo facto de eu não estar à espera dele 5 horas antes da hora marcada (do you guys really care about that? - referindo-se ao campo em que se preenche a possível hora de chegada), prosseguiu num tom macarrónico originário do outro lado do oceano (vulgos Estados Unidos) sobre as deficiências dos sistemas europeus. Dos transportes aos serviços turísticos, passando, claro está, pelo tenebroso sistema que tenho aqui no hostel, transformando as extintas casernas da Escola Prática de Cavalaria de Santarém num paraíso terrestre, creio que nada terá escapado.
Depois de me ter feito uma série de perguntas sobre a cidade e as suas ofertas turísticas, apenas como exercício para refutar e comparar as minhas respostas com as do Turismo de Lisboa, abandonei-o à triste sorte de turista americano sozinho e independente na pequena metrópole colonial que é esta nossa capital.
Ao chegar a casa tinha uma cara levemente mais abócrina que a inicial, não hesitando em descrever como o tinham "ripped off" em Lisboa. 19€ por um jantar de carne de porco à alentejana numa adega ribatejana no bairro alto, 15€ numa casa de fado onde todos os cantores lhe tentaram vender cds de forma insistente, um passeio a pé por um bairro alto ainda adormecido às 21h (no one in the bars...) e um regresso a pé até à Graça por ter ignorado o conselho de que o 28 é um transporte seguro.
Sendo que o jovem em questão estudará em Madrid nos próximos 3 meses, cheira-me que terá uma passagem ibérica bastante complicada.
Até porque cada qual tem aquilo que pede. E os ibéricos nunca hesitam em fazê-lo.


PS - Depois de me ter questionado hoje sobre a segurança de deixar o seu passaporte americano no hostel, não contive um sorriso de experimentado ribatejano, dizendo-lhe que tal passaporte não valia grande coisa numa Europa comunitária, embora a perspectiva de fazer dinheiro no Martim Moniz nunca me deixe de aliciar

sábado, 23 de outubro de 2010

Acordar é giro

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
(O Camões, algures n'Os Lusíadas)

Pois estava o pobre estalajadeiro posto em sossego a sonhar com profundas questões de índole metafísica, quando se viu, pela terceira vez consecutiva, acordado de forma brutal a horas brutais.
Sendo um dado adquirido que a maioria dos estrangeiros desconhece a lei que impede haver ruído e trabalhar antes das 9 da manhã, o estalajadeiro (vulgo EU) até demonstra uma certa tolerância para com estas animalárias que por aqui passam.
O que é verdadeiramente impossível de tolerar é a forma desmesurada com que tocam à porta a essa hora.
Entre um "não percebi se estava realmente a tocar" ou um "como era de manhã cedo resolvi tocar muito para me assegurar que acordavas" a paciência estalajadeira começa a conhecer alguns dos seus limites mais obscuros.
Fica assim declarado com o tom formal que marca todas as minhas manhãs de sábado que, a partir de hoje, passarei a dormir com uma catana de 26 cm debaixo da almofada para demonstrar de forma exemplar como se pode perder uma mão por se tocar de forma abusiva à campainha.


PS- Já agora, não deixa de me espantar a coincidência de terem sido asiáticos os três autores de tamanha proeza.
Se, ao passearem pela Graça encontrarem mãos asiáticas penduradas junto a uma campainha, já saberão onde vivo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Despertar

Este blogue não seria blogue se não apresentasse, logo de início, uma das mais vivas personagens que por aqui passeia as suas ossadas.
Trata-se do Besugo. Originário das profundezas da linha de Cascais, arrasta-se em idioma português do sofá para a cama, com aromas de chás estranhos, olhos assustados e uma relativa paranóia.
Pois foi esta bela criatura que cortou a beleza do fresco matinal com uma longa dissertação da qual seleccionei os excertos que se seguem:
"You know. Throw up not good. Hangover big. Be-be-be-cause if you drink much then throw up and then hangover. I-I-I do-do-don-don't like to throw up. Hangover is ok, but not throw up."

A vítima, desta feita, foi um paquiderme de origem americana que jura a pés juntos ter bebido uma garrafa de Porto sozinho que lhe vendi com o preço algo inflacionado e que despertou sem ressaca.
Só não percebi de onde é que veio a conversa do vómito.
Talvez para compor a manhã com belas imagens para todos os que frequentavam a sala com torradas hoje de manhã.

Prefácio

Depois de tempos afastado das lides blogoesféricas, eis que me vejo tremendamente invadido por situações de dura realidade que constituem indiscutível material de partilha.
Todos os textos serão, tal como aqui o eram, escritos sem qualquer tipo de revisão e ao sabor do momento.
Acusem-me de onanismo, que eu aguento.