sábado, 23 de outubro de 2010

Acordar é giro

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
(O Camões, algures n'Os Lusíadas)

Pois estava o pobre estalajadeiro posto em sossego a sonhar com profundas questões de índole metafísica, quando se viu, pela terceira vez consecutiva, acordado de forma brutal a horas brutais.
Sendo um dado adquirido que a maioria dos estrangeiros desconhece a lei que impede haver ruído e trabalhar antes das 9 da manhã, o estalajadeiro (vulgo EU) até demonstra uma certa tolerância para com estas animalárias que por aqui passam.
O que é verdadeiramente impossível de tolerar é a forma desmesurada com que tocam à porta a essa hora.
Entre um "não percebi se estava realmente a tocar" ou um "como era de manhã cedo resolvi tocar muito para me assegurar que acordavas" a paciência estalajadeira começa a conhecer alguns dos seus limites mais obscuros.
Fica assim declarado com o tom formal que marca todas as minhas manhãs de sábado que, a partir de hoje, passarei a dormir com uma catana de 26 cm debaixo da almofada para demonstrar de forma exemplar como se pode perder uma mão por se tocar de forma abusiva à campainha.


PS- Já agora, não deixa de me espantar a coincidência de terem sido asiáticos os três autores de tamanha proeza.
Se, ao passearem pela Graça encontrarem mãos asiáticas penduradas junto a uma campainha, já saberão onde vivo.

Sem comentários:

Enviar um comentário