Há dois meses houve eleições na Alemanha: CDU com vitória pouco convincente, o descalabro da SPD, o regresso da FDP e a escandalosa entrada da AFD nas contas parlamentares. Isto são os factos iniciais.
Ciente de que governar é uma coisa séria onde não pode haver contradições, a senhora Merkel iniciou negociações para formar governo. Perante a recusa de um SPD desgastado de uma coligação governamental de quatro anos e tendo em Schulz um perdedor capaz rivalizar em maus fígados com o Jorge Jesus, virou-se a CDU para algo jamais visto por estas bandas: coligação com liberais e verdes, num acto que ficou desde logo conhecido como a coligação Jamaica ( ao preto da CDU juntava-se o amarelo da FDP e o mais óbvio verde dos verdes). E aí começou a faena: dia após dia os noticiários foram mostrando uma Merkel cada vez mais desgastada a anunciar que estavam no bom caminho, uns verdes a dizerem que apesar das diferenças algo se estava a resolver e um líder dos liberais em constante modo de "eu sou espectacular e não sei porque é que não reconhecem de uma vez por todas que quem devia mandar nisto era eu". Ah, claro está que a esta constelação se teve que somar igualmente a presença de elementos da CSU que, como se sabe, mais do que o partido irmão da CDU na Bavaria, são gente que falam com sotaque curioso e que gostam de mostrar que isto de família, ao contrário dos amigos, é coisa que realmente não se escolhe.
Perante tão maravilhoso cenário capaz de encher as manchetes durante dois meses e de colocar a Jamaica no roteiro político da Alemanha, no que a meu ver poderia ter ficado conhecido como as Jamaica talks, o resultado das negociações foi aquele que se esperava de um país democraticamente maduro e sério: não resultaram.
Os verdes acusaram os liberais de não abrirem mão da exploração de carvão e de não cederem em relação às políticas de controlo indústria automóvel, a CSU insistiu em políticas mais próximas da extrema direita a fim de roubar eleitores à AFD e os liberais, na figura do seu líder Christian Lindner, não perceberam porque é que ninguém reconheceu que eles são espectaculares e por isso deveriam ser eles a mandar nisto tudo.
Novas eleições!, gritou-se do lado do SPD e eu de repente imaginei o ar de satisfação da AFD ao poderem adicionar ao seu manifesto anti político e antidemocrático um: vejam a inépcia dos políticos convencionais. Se ganharmos, não se preocupem: dispensaremos automaticamente todos os demais políticos.
A isto tudo reagiu o presidente alemão com um pedido de diálogo ao seu SPD e uma Merkel a dizer que só governa com certezas.
Na segunda abre-se nova ronda de negociações para a recriação de um bloco central perante o cepticismo do senhor Schulz, o que me faz ter vontade de pedir ao ministro dos negócios estrangeiros português que venha à Alemanha vender o mais recente conceito político português da geringonça que aparentemente funciona mas que ninguém sabe bem porquê. E nestas coisas a ignorância é a minha mais fiel amiga. E os amigos, como se sabe, podem-se escolher.
sexta-feira, 24 de novembro de 2017
Uma geringonça para a Alemanha, se faz favor
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