Deixar Santarém rumo ao interior do país é um vasto calvário de terras ardidas, de vidas que por ali ficaram perdidas num negro que nos acompanha durante quilómetros e quilómetros que se nos vao adentrando de forma indelével.
Ao fim de um tempo a vontade de fazer a piada fácil sobre o nome de terras como Cabeca Gorda, Benlhevai ou Sarnadas desaparece e dá lugar a um sentimento furioso, tal como será porventura furioso o esquecimento a que estas pessoas se verao rogadas ano após ano, conhecendo apenas uma breve luz de atencao que breve se esfuma.
Com o inverno a tentar impor o seu tino, voltam a desaparecer estes nomes até novo verao. Caso ainda haja algo mais para arder.
Aterrar no interior é respirar fundo e tentar descobrir mais do que só Portugal. É, porventura, descobrir-me a mim mesmo em frases, expressoes, rostos e pedras que ali parecem plantados desde tempos imemoriais como se à espera estivessem que lá fosse com o meu eterno pasmo beber inspiracao directamente de um fonte inesgotável.
Ou nao.
Se ver a Santarém onde cresci desaparecer lentamente em lojas fechadas e prédios abandonados é penoso, este périplo pelo interior do país revelou-me um abandono mais acentuado, mais prédios e casas rogadas ao abandono, assim representando uma queda que julgo sempre ser final até nova visita e novo acentuar da desertificacao.
E com este desertificar, sinto-me eu também a desaparecer, a envelhecer mais depressa num processo desesperancadamente irreversível até que reste apenas a sombra de uma alma e de um ser que a todo o custo vou tentando manter por estas outras terras tao distantes onde vou tentando ser apenas eu dia após dia.
Não nos pudemos banhar no mesmo rio duas vezes, não é? Também me sinto um pouco num processo de envelhecimento: num país estranho sem amigos, sem amigos num país que deixei para trás. Saudades tuas. Muitas.
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