segunda-feira, 3 de junho de 2013

Social books

Confesso que tenho andado obcecado com livros.
Ao contrário do que se possa pensar não ando obcecado com os meus livros ou com as minhas leituras, tema por demais vulgar. Isso é algo que já nem sequer pondero. Confesso-me deprimido ao ler Tchekov, entusiasmado ao ler Moacyr, psicótico ao ler Woody Allen e com vontade de viver ao ler Saramago.
Ando obcecado, sim, com os livros dos outros.
O facto dos alemães desconhecerem na sua maioria a beleza e utilidade dos cortinados faz com que amiúde me veja invadido por impressionantes colecções de livros nas salas de estar alheias. Se nos transportes públicos me vejo em ridículas posições a fim de descortinar o que é que os restantes convivas lêem, quando vejo tremendas estantes recheadas de livros a entrarem-me pelos olhos dentro nem sei bem como reagir. Sinto vontade de saltar as cercas dos jardins e catrafanar-me diante das estantes e saber que raio lê esta gente.
Quando em situações sociais sou apanhado a espreitar as estantes alheias reparo que os alemães me sorriem e cedo se prontificam a recomendar-me um ou outro autor e até me incitam a levar os livros comigo.
Temo, pois claro.
Que raio de atitude é esta? Onde é que estão os biblôs e os cães de loiça? As fotografias das férias em Maiorca? O artesanato comprado em Marrocos a povoarem as salas?
Logo percebi que têm estas gentes um orgulho tremendo no que já leram não hesitando em partilhar o conhecimento com o resto da humanidade.
Isto assusta-me pois tenho ainda os traumas de emprestar livros que não regressam, que esqueço a quem emprestei e que quando não esqueço perco o contacto da pessoa a quem o emprestei. E o livro. Lembro-me da forma como não se dizia o que se lia na faculdade. Ou de como quando se dizia se ignoravam os pedidos de empréstimo com um "ah, pois, esqueci-me. Amanhã a ver se não me falha a memória".
Que seja esta atitude germânica uma forma de afirmação da individualidade e de orgulho pessoal, sim, é. É uma outra realidade, chocante talvez para quem vem de Santarém, mas à qual acho que me conseguirei adaptar sem grande esforço.

1 comentário:

  1. :) Coisas boas portanto!! Ainda bem que estranhas mas depois entranhas. Boas leituras.
    Abraço

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