quinta-feira, 6 de junho de 2013

Orgia Lusófona

No seguimento disto regresso a escrever sobre livros.
Decisão arriscada, desponderada, resultante pura e simplesmente de quem ainda está em convalescença de uma verdadeira orgia lusófona nestes últimos dias.
Que bom ter regressado por momentos a Lisboa com a História do Cerco, com as eternas divagações sobre expressões  tão popularmente portuguesas e o sarcasmo histórico do Saramago a apimentarem um pouco mais a memória dos últimos três anos passados em Lisboa.
Viagens assim não têm preço.
Sobretudo quando a personagem principal do livro era minha ex-vizinha.
Para além da dupla viagem fez-me o Saramago atirar-me a um moroso processo de revisão com outros olhos. Rever-me. Obrigar-me a um trabalho estranho e persistente, com pausas, ponderações. Com chás e estudos de alemão por entre meio para aliviar uma certa dor crónica de me reler.
Se ler Saramago é sempre um certo regressar, ler Mia Couto é um regressar ainda mais profundo.
Grândola, 2009. As mãos suavam-me de forma quase incontrolada quando o apresentei e ao Agualusa perante uma semi-multidão que só esperavam que me calasse para ouvir outras vozes mais carismáticas. No final, a única palavra de agradecimento veio precisamente do Mia Couto. Nesse momento algo em mim estremeceu. Gostaria de conseguir apresentar conclusões deste momento, mas não consigo. Lamento.
O Outro Pé da Sereia faz-nos igualmente viajar no espaço e no tempo. A dupla narrativa que acaba por ir convergindo nunca se chegando a tocar encontra-se repleta de imagens poéticas, relatos deliciosos e humorísticos apenas capazes por quem domina a língua de forma maestra. Mas que dizer mais? Mia Couto é um conceito que, de certa maneira, se auto-define.
Para o final deixei mais um "velho amigo" dos tempos de Southampton (como vai longe 2004). O brasileiro Rubem Fonseca e o seu fascinante Ela e as outras mulheres que não consegui deixar de ler. Vinte e sete contos. Vinte e sete mulheres. Ritmo vertiginoso. Um dia apenas me durou nas mãos.
Há mortes, traições, humor cáustico, mais mortes, algum sangue, crueldade e uma vontade de não parar de ler mesmo depois de se ter terminado o livro.
Como todos os outros dele, de resto.
E acho que já está. Três anos depois voltei a escrever sobre livros.
Cuidado!

Sem comentários:

Enviar um comentário