Se há coisa horrível, temível, capaz de criar pesadelos nas mais inocentes crianças destas terras germânicas e arredores é a questão da perda de tempo. A inutilidade é algo que é combatido desde a mais tenra idade sem qualquer tipo de pudor pelas teorias poéticas do Manoel de Barros. As companhias de seguros recusam-se terminantemente a garantir a segurança de todos os que são com frequência apanhados com olhos líricos perdidos num qualquer ponto de espaço. Se nos encontramos perdidos em pensamentos é recomendado que o façamos de forma séria como quem resolve uma complicada equação matemática que nos garanta, pelo menos, um nobel da economia.
Mas é claro que vos descrevo uma situação hipotética pois mesmo os autóctones se deixam levar por mais elevados pensamentos que não nos levam a lado nenhum, incorrendo em pecados capitais condenados pelos mais diversos sectores da sociedade. Contudo a imagem ibérica do senhor de chapéu na cabeça e mãos nos bolsos em dias de sol é coisa por aqui pouco vista, sendo substituída por pessoas que não sabem o que fazer com as mãos. Podendo ser chato ter mãos, é infinitamente mais chato não saber o que fazer com elas. Daí haver um número considerável de pessoas que enchem as mãos com cigarros e telemóveis impondo um ar de quem aproveita o sinal vermelho de uma passadeira para responderem de forma positiva aos anúncios de cada estação de metro ou consultarem as últimas novidades de amigos e conhecidos que, como eles, também estarão a aproveitar os tempos mortos da vida activa e real para matarem este vício de mãos que é infligido e aflige os locais desde a mais tenra idade.
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