segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Ser português para o melhor e, claramente, para o pior

Apesar do tasco não ter qualquer referência a Portugal excepto o óbvio galão ou o menos óbvio mazagran no menú, as pessoas lá vão descobrindo que sou português. Regra geral essa maravilhosa revelação surge depois de me perguntarem embevecidos se sou francês e de lançarem um desapontado "ah" quando lhes revelo que sou, afinal, português.
Contudo houve uma mais subtil revelação ao ser identificado com a lusa nacionalidade depois da descoberta de uma frase do Mia que para ali tenho a jeito de prescrição médica onde se revela que o mundo é aquilo que acontece e não aquilo que é.  Espanto! Maior ainda sendo que a descoberta veio de uma germânica criatura.
Mas o grande espanto (peço humildemente perdão, mas acordei apaixonado por esta palavra) é mesmo quando me surgem portugueses porta adentro vociferando em bom tom sobre a minha possível lusitanidade. Nunca escondendo um certo desconforto e surpresa, lá vou respondendo timidamente às questões que me vão colocando. Sim, sou scalabita. Estou em Hamburgo há coisa de um ano. Pois, o tempo realmente é um pouco assim que para o merdoso.
No outro dia entraram porta dentro um casal dos seus quase quarenta anos a perguntarem se era português. Agradecendo ao divino o facto de estar o tasco vazio respondi que sim. O que se seguiu foi belo e digno de registo:
" Pois, o Pacheco tinha-me dito que isto aqui era um café português, mas como não vi bandeira nenhuma lá fora, pensei que se tinha enganado. Além do mais com estas letras turcas (referindo-se à reprodução da assinatura do Kafka que foram desrespeitosamente aproveitadas para fazer o logo do tasco) e o caralho pensei mesmo que não era. Porque é não vende Natas? Eu se fosse a si punha aqui uma camisola da selecção nacional aqui mesmo na janela para toda a gente ver. Ou vai-me dizer que não é português? Eu aqui não mando, mas se fosse a si era isso mesmo que fazia. Toma! E mudava o nome para uma coisa portuguesa. E vende vinho verde? O quê? Quinta da Aveleda? Que é lá isso? Casal Garcia é que é bom e que os alemães conhecem! E sopa de feijão, faz? E não me diga que não vai aqui passar os jogos da selecção quando for o mundial! Mas olhe que tem que arranjar aí uma televisão como deve ser! Essa aí é piquena! E porque não está a ouvir música portuguesa? Olhe que assim acho que não vai longe!"
Quando finalmente abandonaram aqui o tasco, ponderei seriamente em tirar o galão do menú e começar a vender apenas Riesling e outras especialidades vinícolas alemãs. 

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