segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Da universalidade da arte

Nos tempos em que o Botequim ficava mesmo ali à esquina da minha casa, lembro-me de por diversas vezes me ter apiedado dos novos donos pois toda a dinâmica cultural do sítio parecia sempre ser um convite inequívoco à exposição do brilhantismo intelectual de toda uma panóplia de loucos que sempre apareciam a fim de dominar as atenções.
Claro está que a memória da falecida Natália Correia também aparecia e o nome dela era evocado mais do que o de Cristo no decorrer de uma missa. Entre os loucos havia poetas, declamadores natos, pintores, compositores e outros artistas que sempre se incluíam no grupo dos sem definição.
Entre todas as pragas que podem atormentar um negócio esta poderá ser uma das piores. O limite entre a simpatia, a paciência e o bem estar social dos restantes clientes é algo, a meu ver, ténue e difícil de definir.
Tendo agora um tasco onde sessões de contos, leituras, tertúlias literárias, música ao vivo, exposições e toda uma série de actividades são possíveis, claro está que também já por cá apareceram os loucos.Chegam como quem não quer a coisa e ao fim de trinta segundos afirmam que são génios em potência  Desde uma multi-artista plural (se bem percebi o que ela disse entre gargalhadas de puro delírio) ao escritor deprimido depois da primeira revisão que lhe fizeram à escrita (e portanto sem nenhum livro publicado) também por aqui há uma variada oferta de loucos a julgarem que são artistas (não confundir com artistas loucos que é lugar comum completamente diferente).
Que bom é saber que isto a artística loucura é algo de universal que une os povos tanto ou mais do que as uniões económicas e/ou monetárias.

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