quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Interpretações

Claro está que tem este país diferenças evidentes aos olhos do normal e comum turista:
as ruas estão infinitamente mais limpas, tudo parece arranjadinho e em ordem, tornando-se virtualmente impossível uma pessoa perder-se, faz um frio desgraçado, a comum medida para uma cerveja é o meio litro, há um cheiro a salsichas no ar capaz de enojar o mais experiente trabalhador da Nobre.
Mas há também outras coisas que só o tempo e este conhecimento de experiência feito é capaz de nos transmitir:
Nas traseiras do prédio onde arrasto as minhas ossadas há um verdejante jardim onde pululam alegremente esquilos, coelhos, pardalitos, corvos e pegas. Confesso que já por diversas vezes perdi  o meu olhar sobre o jardim vendo estes pequenos selvagens a lutarem pelo dia a dia. Qual não é o meu espanto quando vejo um esquilo a atirar-se em voo picado sobre uma pega. Falhou. Uma pessoa a pensar em versões inovadoras de cabidela e ele vai de falhar. Passada uma boa mão cheia de minutos vejo um outro esquilo em novo voo assassino sobre um pardal, revelando um total desprezo pelas minhas ambições culinárias, embora ainda tenha calculado rapidamente quantos pardais seriam necessários para se fazer uma cabidela decente. Inquiri então algumas germânicas criaturas sobre o assunto, tendo-me todas respondido: Das ist ganz normal...
Será, então, porventura normal estar eu a correr tranquilamente a correr junto a um dos canais que habitam a cidade, quando do outro lado se ouve um sonoro "Stop!" (que em alemão soa a algo como Schhhhtòp de pê final sonoro) e se vê um adorável cão a correr de forma tresloucada. Sigo-o com o olhar, apercebendo-me que se dirigia para a ponte que o conduziria ao meu lado.
Temo.
 As pernas tremem-me.
 Há no meu olhar um instante de curiosidade de saber o porquê daquela corrida. Será que cheiro a salsichas ou a um qualquer AXE para cães?
Não. Um adorável coelhinho surgiu no virar da ponte a correr destemidamente pela sua vida. O cão passou e nem sequer me olhou.
Continuei o meu caminho na esperança de que não sejam os animais um reflexo dos humanos desta sociedade.

1 comentário:

  1. Ehehehehehsabe-se lá por que criaturas ainda vai ser perseguido! Eu tinha cuidado... e começava a olhar por cima do ombro sempre que andasse na rua...

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