sábado, 8 de setembro de 2012

Sexo hosteleiro

Uma das perguntas que mais vezes me fazem sobre estas minhas actividades hosteleiras prende-se, claro está, sobre o sempre politicamente incorrecto e fascinante tema do sexo.
Seguindo-se à pergunta de "corre bem o negócio", sempre há olhares marotos dos mais diversos interlocutores que, olhando sempre em redor, me perguntam sobre estórias mais escabrosas esperando que lhes descreva de forma fiel as graduações dos gemidos produzidos por alemãs, coreanas e norte-americanas de origem hispânica aquando da prática sexual.
Embora talvez tenha conhecimento de uma ou outra coisa que poderão ser reveladas mediante um adequado pagamento, a verdade é que o que mais comumente que salta à cabeça é a figura bizarra de um amável troglodita irlandês de cabelo deslavado e dentes tortos que tendo ficado no sacrossanto quarto de 4 com mais dois paquidermes alemães que rivalizavam com o Bob Marley na coleção de especimens estranhos no couro cabeludo e seu consequente cheiro e uma simpática rapariga que nunca lhe deu grande resposta a todos os seus intentos socializantes, resolveu, na crítica deixada ao hostel escrever algo como: Não sei se a rapariga que dormiu no quarto se sentiu muito confortável por ter três homens a partilhar o mesmo espaço.
Embora tenha sentido vontade de responder algo jocoso envolvendo a igreja católica irlandesa, não o fiz por um questão de decoro ( e porque o hostelbookers mo proíbe sob ameaça de rescisão de contrato).
Mais recentemente recebi uma família norte-americana onde o generoso pater familias se recusou a ficar no hostel pois tinha medo da filha de 16 anos. Neste caso teriam que partilhar quarto com um casal canadiano. Tranquilizei-o dizendo que o casal não estaria particularmente interessado em aventuras estranhas envolvendo o Bryan Adams, a Céline Dion e outros ícones da cultura canadiana.
Mas de nada serviu, repetindo ad nauseum à frente da pobre miúda que tinha medo que alguém tentasse algo de indecoroso com ela. Ela, bastante corada e não tendo coragem de levantar os olhos do ipad onde procurava outro sítio para ficarem, ouvia tudo com o ar de que se apronta para esfaquear o pai. Ainda estive para advertir o pai que ele deveria temer mais pela filha que pelos outros hóspedes.
A verdade é que assim cresce em mim a esperança de um novo puritanismo que um dia regule e reja este mundo em que vivemos.

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