quinta-feira, 28 de outubro de 2010

De onde se fala de coisas cultas

Indo eu para escrever um interessantíssimo artigo sobre grupos de pessoas oriundos de sítios específicos, como a recente onda de pessoas vindas daqui, quando vejo a minha liberdade criativa subitamente invadida por algo tremendamente mais criativo e brilhante.
Com a humildade que se reconhece na minha pessoa abandonei de pronto a minha actividade desinteressante de cogitar sobre comunidades e de que forma é que elas se reflectem no ambiente aqui da casa para prestar atenção às brilhantes tiradas que se seguem.
A personagem principal é o inevitável Besugo, que de olhos bem abertos, não hesitou em encetar conversa com um paquiderme britânico que afirmou ainda falar resquícios de ladino ao pequeno-almoço.
"So-so-so you-u-u speak luteran?", perguntou o jovem Besugo perante o ar de alguma incredulidade de todos os presentes.
Claro está que não satisfeito com esta brilhante tirada, resolveu igualmente comentar a morte de Deus por parte de Nietszche, saindo-se com um: "Nietszche é um anti-neo-nazi".
Pois é, meu querido, tivesse sido eu a responder-te e não um arquitecto brasileiro que te quer muito mais do que como amigo e já te dizia a resposta que levavas.
Infelizmente todo este ambiente criativo foi interrompido por dois pandas polares da Noruega que precisavam de companhia para se embriagarem. De pleno coração pio e cristão, Besugo levantou-se, abandonou a conversa e foi acompanhá-los.
Ámen.

domingo, 24 de outubro de 2010

Escreve Deus direito por linhas americanas

Ontem, e por divina força do Espírito Santo recebi uma criatura que ostentava um nome inenarrável e que, até que me provem o contrário, foi retirado à força da série norte-americana Big Bang Theory.
Depois de ter demonstrado facialmente o seu descontentamento pelo facto de eu não estar à espera dele 5 horas antes da hora marcada (do you guys really care about that? - referindo-se ao campo em que se preenche a possível hora de chegada), prosseguiu num tom macarrónico originário do outro lado do oceano (vulgos Estados Unidos) sobre as deficiências dos sistemas europeus. Dos transportes aos serviços turísticos, passando, claro está, pelo tenebroso sistema que tenho aqui no hostel, transformando as extintas casernas da Escola Prática de Cavalaria de Santarém num paraíso terrestre, creio que nada terá escapado.
Depois de me ter feito uma série de perguntas sobre a cidade e as suas ofertas turísticas, apenas como exercício para refutar e comparar as minhas respostas com as do Turismo de Lisboa, abandonei-o à triste sorte de turista americano sozinho e independente na pequena metrópole colonial que é esta nossa capital.
Ao chegar a casa tinha uma cara levemente mais abócrina que a inicial, não hesitando em descrever como o tinham "ripped off" em Lisboa. 19€ por um jantar de carne de porco à alentejana numa adega ribatejana no bairro alto, 15€ numa casa de fado onde todos os cantores lhe tentaram vender cds de forma insistente, um passeio a pé por um bairro alto ainda adormecido às 21h (no one in the bars...) e um regresso a pé até à Graça por ter ignorado o conselho de que o 28 é um transporte seguro.
Sendo que o jovem em questão estudará em Madrid nos próximos 3 meses, cheira-me que terá uma passagem ibérica bastante complicada.
Até porque cada qual tem aquilo que pede. E os ibéricos nunca hesitam em fazê-lo.


PS - Depois de me ter questionado hoje sobre a segurança de deixar o seu passaporte americano no hostel, não contive um sorriso de experimentado ribatejano, dizendo-lhe que tal passaporte não valia grande coisa numa Europa comunitária, embora a perspectiva de fazer dinheiro no Martim Moniz nunca me deixe de aliciar

sábado, 23 de outubro de 2010

Acordar é giro

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
(O Camões, algures n'Os Lusíadas)

Pois estava o pobre estalajadeiro posto em sossego a sonhar com profundas questões de índole metafísica, quando se viu, pela terceira vez consecutiva, acordado de forma brutal a horas brutais.
Sendo um dado adquirido que a maioria dos estrangeiros desconhece a lei que impede haver ruído e trabalhar antes das 9 da manhã, o estalajadeiro (vulgo EU) até demonstra uma certa tolerância para com estas animalárias que por aqui passam.
O que é verdadeiramente impossível de tolerar é a forma desmesurada com que tocam à porta a essa hora.
Entre um "não percebi se estava realmente a tocar" ou um "como era de manhã cedo resolvi tocar muito para me assegurar que acordavas" a paciência estalajadeira começa a conhecer alguns dos seus limites mais obscuros.
Fica assim declarado com o tom formal que marca todas as minhas manhãs de sábado que, a partir de hoje, passarei a dormir com uma catana de 26 cm debaixo da almofada para demonstrar de forma exemplar como se pode perder uma mão por se tocar de forma abusiva à campainha.


PS- Já agora, não deixa de me espantar a coincidência de terem sido asiáticos os três autores de tamanha proeza.
Se, ao passearem pela Graça encontrarem mãos asiáticas penduradas junto a uma campainha, já saberão onde vivo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Despertar

Este blogue não seria blogue se não apresentasse, logo de início, uma das mais vivas personagens que por aqui passeia as suas ossadas.
Trata-se do Besugo. Originário das profundezas da linha de Cascais, arrasta-se em idioma português do sofá para a cama, com aromas de chás estranhos, olhos assustados e uma relativa paranóia.
Pois foi esta bela criatura que cortou a beleza do fresco matinal com uma longa dissertação da qual seleccionei os excertos que se seguem:
"You know. Throw up not good. Hangover big. Be-be-be-cause if you drink much then throw up and then hangover. I-I-I do-do-don-don't like to throw up. Hangover is ok, but not throw up."

A vítima, desta feita, foi um paquiderme de origem americana que jura a pés juntos ter bebido uma garrafa de Porto sozinho que lhe vendi com o preço algo inflacionado e que despertou sem ressaca.
Só não percebi de onde é que veio a conversa do vómito.
Talvez para compor a manhã com belas imagens para todos os que frequentavam a sala com torradas hoje de manhã.

Prefácio

Depois de tempos afastado das lides blogoesféricas, eis que me vejo tremendamente invadido por situações de dura realidade que constituem indiscutível material de partilha.
Todos os textos serão, tal como aqui o eram, escritos sem qualquer tipo de revisão e ao sabor do momento.
Acusem-me de onanismo, que eu aguento.