segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Made in Asia
Embora já tenha comprovado que o maior defeito comum aos alemães é o de falarem alemão e o dos espanhóis, espanhol e por aí adiante, há, contudo, todo um continente que me tem vindo a levantar algumas questões a nível das suas atitudes, comportamentos e posturas assumidas por estas bandas: Ásia.
Ao início confesso que sentia sempre aquele fascínio do pobre tuga perante algo de exótico e novo, mas o tempo encarregou-se de pôr na minha cara um leve laivo de preocupação sempre que vejo surgir nas reservas um Min, um Han ou um Kim.
De forma a tornar tudo isto num exercício por deveras mais interessante, proponho que associem as nacionalidades dadas às situações descritas. Ora bem, os candidatos são
a) dois japoneses
b) vietnamitas
c) indiano
d) sul-coreana
e) duas japonesas
Situação 1:
Recebo chamada histérica sobre como a porta do hostel não abre. Tento explicar possibilidades, ao que sempre me respondem: "Come, come, come, come quick". Interrompi o meu justo descanso, peguei no carro e conduzi como louco rumo à Graça como se houvesse novo terramoto. Quando cheguei, saí do carro à la David Hasselholf e exemplifiquei que a porta se abria rodando a chave para a direita, ao que me responderam com um "Nandeeeee" em coro, fazendo inveja ao coro de Santo Amaro de Oeiras.
Situação 2:
Estando no cafofo, começa-me a cheirar a queimado. Descubro fumo na cozinha e uma caçarola com um género de arroz esturricado no fundo. Pergunto na sala se é de alguém. Há um não generalizado. Saio para o poço para perguntar se seria de algum incauto fumador. Nop. Quando regresso à cozinha, deparo com a caçarola em cima de uma placa de madeira a deixar uma catita marca queimada que ainda hoje lá está como testemunha do momento. Saio novamente para a sala e pergunto outra vez. Ninguém responde e começo a perguntar individualmente. É então que uma criatura me diz que tinha sido ela enquanto continuava a teclar desenfreadamente no facebook, encolhendo os ombros quando lhe disse que podia ter pegado fogo à cozinha. Confesso que me aguentei para não lhe dar com a caçarola na cabeça e noutras partes sensíveis.
Situação 3:
Estando na cozinha, aviso umas criaturas que o forno precisa de fósforos para ser acendido. Sorriem e acenam. Abrem o forno, põem uma pizza lá dentro e ligam o gás. Digo-lhes que já o farei. Voltam a sorrir e deixam o gás ligado, continuando de volta do forno. Aproximo-me na eminência de explosão e eis que tenho o meu acesso barricado pois eles tinham chegado primeiro ao fogão, dizem. Agarro num deles, apago o gás, deixo a cozinha respirar e explico como se faz. Sorriem e acenam.
Situação 4:
Duas alemãs chegam enojadas ao pé de mim a dizerem que não há condições para tomar banho. Chego à casa de banho e tenho dúvidas que o titanic tenha metido tanta água como a que ali vi. Peço desculpa e trato de recolher a água. No dia seguinte, encontro-me a fiscalizar a casa de banho, qual membro da ASAE. Descubro o culpado. Confronto-o e ele abana a cabeça em sinal de reconhecimento de culpa. Respiro fundo com esperança num futuro imediato mais razoável.
No dia seguinte a casa de banho tinha mais água que a nossa economia.
Situação 5:
Chegam. Pergunto se precisam de dicas sobre a cidade. "No". Ok. Vão bardamerda que eu vou ler contos sobre a morte.
No dia seguinte perguntam-me coisas sobre a cidade. Faço um sorriso ácido e respondo de forma cortês. Depois de uns bons 15 minutos a explicar mais do que promete a força humana, afasto-me deles com o sentimento de missão bem cumprida. Contudo, eles não partem rumo à cidade, mas sim rumo ao pc para confirmar no wikipedia tudo aquilo que lhes tinha acabado de dizer. Tortura seria pouco.
Quem acertar correctamente a que nacionalidade corresponde cada uma destas situações ganhará uma garrafa de saké. Ou bagaço.
domingo, 15 de janeiro de 2012
De los rincones de la lectura
La verdad es que nunca lo hizo y dejé la curiosidad en un rincón más o menos oscuro de mi memória hasta que lo escuché hablando de él. Lo busqué de nuevo, ahora ya en librerías de segunda mano, pero imposible, me dijeron. Mi mejor amigo está en Estados Unidos por lo que la oscuridad volvió, poco a poco sobre el libro, hasta que, el otro día, pasaba por mercadillo de pulga, que está justo al lado de mi casa y vi a un tío poniendolo en el "escaparate". Aunque estuviera medio dormido, no lo dejé escapar y le pregunté el precio. Cuando lo miró con el típico aire de desprecio que por ahí suelen tener las personas que venden libros, de su boca salió: 1€ ó así...
Más barato que un bono de bus en Lisboa. Lo compré.
Pues ayer estaba medio liado con una traducción que me pasaron sobre agencias funerárias y resolvi empezar a leerlo a ver si conseguía "respirar" un poco. Solo terminé cuando leí su última y maravillosa frase "El profesor debe amar el deficiente que és bello y honesto vivir en un mondo más simples y puro".
A veces tenemos que agradecer a los que siguen iluminando estes rincones más o menos oscuros de nuestras mentes.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Ceska Republikaaaaa
E dessa mesma terra de Praga que viu nascer tão ilustre pessoa, surgiu este mais recente personagem que, com certeza, teria direito a cromo prateado da Panini rivalizando com Poborsky na época 98-99.
Vindo directamente de Bragança depois de ter sido despedido de um centro de línguas, não se privou em comentar de como era complicado viver em Portugal pois em 4 meses não tinha conseguido "comer" nenhuma portuguesa e que tinha sido despedido via telefone. Sorri e respondi que o facto do país estar em saldos não queria forçosamente dizer que a vida aqui era fácil ou os portugueses pessoas de trato fácil.
Ao fim de 16 minutos de conversa com este tal de Ramon checo começou a crescer em mim uma vontade de o lançar nas mãos do Alves de forma a que arroz de cabidela figurasse nos pratos do dia.
O relógio anunciava as 09h36 quando ele decidiu parar com conversas tontunas, assim escapando com mestria brilhante à dolorosa morte que já lhe estava a preparar, e partir rumo à cidade e ao sol impressionante que tem invadido as ruas lisboetas nestes últimos tempos.
Ainda não eram 11h36 quando regressou anunciando que já tinha visto a cidade toda.
Sorri com inegável escárnio estampado nos meus lábios e quando o comecei a inquirir com nomes de bairros, ele respondeu-me que igrejas tinha ele em Praga. Nesse momento lembrei-me que tinha que ir ver se já tinha surgido alguma nuvem no céu de forma a analisar o fluxo de andorinhas no mês de Dezembro, assim evitando sair-me qualquer expressão mais peculiar de mau trato.
Mas a noite sim, reservou o prato grande.
Afogueado depois de ter subido o morro da Graça em tempo recorde sou confrontado com um: Portugal doesn't has any famous painters.
Ah isso é que tem, repliquei. Paula Rego, que trabalha como residente na Tate...
Is she still alive?
Claro, pá! Ou espero que ainda sim. Caso não tenha comido demasiadas filhozes ou outros doces natalícios e tenha tido um enfarte...
If she's still alive, she's not famous.
Mas o Kundera é famoso e ainda está vivo, apenas para citar um checo.
He's an imigrant who writes weird things and he's not famous in the Ceska Republika and I've never read anything by him and I never will.
Um casal britânico que seguia a conversa como o Gabriel Alves segue um jogo de futebol resolveu trazer à baila o nome Franz Kafka. O caldo entornou. Os comentários foram de tal forma absurdos que tive que ir aliviar os palavrões que me ocorriam derrotando uma dupla de alemães, com cerca de 1,95m cada um, num disputado jogo de matraquilhos por uns simbólicos 9-0. Bebi de um só sorvo um copo de salmiakki e aprontei-me para dormir depois de ler a entrevista de Edu Lobo com o Carlos Vaz Marques.
Quando hoje acordei, já era uma pessoa quase normal. Só sinto é uma leve comichão nas minhas 8 patas...
sábado, 17 de dezembro de 2011
De gentes
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Los Silos
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
De palavras em palavras
Obrigado Nicolás.
Talvez também tenha que agradecer a todos os que, durante estes últimos quase trinta anos me têm alimentado a cabeça com palavras, pois ainda é o único que me vai conseguindo alimentar desde sempre e não há crise que afecte esta fome.
Daí ter ido até à Polónia em busca de palavras impronunciáveis por pessoas que nasceram em países onde o sol brilha como deve ser. Começando por opowiadanie, que muitas vezes soa a estranho até para os próprios locais... You do what?, perguntam. Com sorriso latino, expliquei infinitas vezes o que era, enquanto os doutrinava sobre a forma correcta de pronunciar Uwagaaaaaaaaaa, após ter descoberto que era palavras de origem japonesa.
Os locais respondiam as estes delírios com convites para Piwo, Wodca, Wino e outras bizarrias locais. Em Portugal, costumo ser escorraçado. Há que gostar dos polacos, penso.
No frio de Wroclaw pude caminhar sob uns simpáticos -2º e ao lado de um paquiderme de robusta constituição física que não hesitou em mostrar os braços cheinhos de Bigos enquanto afirmava de forma convicta que em Cracóvia estavam -12º e que o Outono era bem ameno por aquelas terras. Sedutor, pensei.
As poucas partes da minha cara ainda capazes de mover acenaram em reverente concordância. Logo me arrependi ao sentir que o meu nariz caiu perante a passagem de um belo de um eléctrico de inspiração soviética. Nesse momento percebi o Gogol e as questiúnculas com o nariz.
Não fosse uma sacrossanto grzane wino (vulgo vinho quente capaz de nos aquecer o coração e outras coisas, evitando problemas de saúde algo chatos como a gangrena) e não estaria aqui a escrever estas palavras.
Palavras, palavras, palavras...
Entre a fabulosa experiência de ter tido um cachorrito a fazer necessidades nas minhas calças

Survival of the fittest, disse o Herberto. Beto, para os mais próximos.
Gostaria de dizer que vim da mesma maneira que fui, mas não. Vim com a experiência cheia de frios, sabores, cheiros, alguns zlotys, mas sobretudo, vim mais pessoa.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Sketch 2
Mi abuelo no me contaba cuentos. Mi abuela no me contaba cuentos. Mi madre y mi padre tampoco.
Tuve sí, un padre que todos los días me contaba la vida de gente y sitios fantásticos que yo nunca creía que fuesen reales. Cosas para engañar niños, pensaba para mis adentros.
Había la de un jugador fabuloso de basket al que llamaban de “hormiga”, de un médico que era un delantero tremendo y que no cobraba a las personas más humildes por sus servicios y, incluso, la de una isla donde un lado era un desierto inmenso y del otro llovía todos los días, volviéndola verde como solo los sueños consiguen producir.
Para comprobar esta última estória, que de todas era la que yo menos creía, me enseñaba una negra caja de plástico llena de cigarros que mi madre tiró en la edad, esa en que creemos y queremos ser adultos sin saber lo que es, una botella de ron miel que sólo sería abierta en la boda de mi hermana y que nunca fue abierta pues mi padre ya no estaba y a mi hermana no le gusta el alcóhol y una foto de mi padre cerca de un tal de Teíde que desde niño me habían dicho que era un volcán. Pero yo veía un desierto. Sin verde. Sin la lluvia que me contaba que había. Sin nadie alrededor ¿Como creerlo entonces?
Me dijo el tiempo que ese tal Hormiga existió, que había un médico, delantero de puta madre de la Académica sigue vivo y que esa isla mágica, ¡jo!, existe!!! Y con gente dentro. Gente que toma café leche leche, bebe Dorada, coge guaguas, come carne con papas, pero, sobretodo, con gente apasionante que me hace recordar que hay magia en el aire y que hay que respirarla, vivirla y contarla. Gente que me hace recordar que mi padre talvez siga por ahí en islas mágicas ayudándome a alimentar estos cuentos que hoy os he traído aquí.