Joseph Conrad - The Hear of Darkness
Umberto Eco - The Name of the Rose
William Faulkner - The Bear
Jane Austen - Pride and Prejudice
Upton Sinclair - The Jungle
William Saroyan - Short Drive, Sweet Chariot
Stefan Zweig -Ungeduld des Herzens
Jostein Gaarder - Sofies Welt
Erich Kästner - Herz auf Taille
Max Frisch - Homo Faber
Erich Kästner - Gesang Zwischen den Stühlen
Ernest Hemingway - The Old Man and the Sea
John Steinbeck - Travels with Charley
Volkliederbuch für gemischten chor
Vikram Seth - The Golden Gate
Knut Hamsun - Nach Jahr und Tag
Der Hamburger Musikant
Peter Tschaikowski und Nadeshda von Meck - Geliebte Freundin
Jane Austen - Emma
Heinrich Heine - Atta Troll
Nicolai Gogol - Taras Bulba
Walt Whitman - A Choice of Whitman's Verse
Estes foram os livros que passaram a habitar a minha modesta casa depois de breve incursão numa feira da ladra onde o frio convidava a não tirar as mãos dos bolsos. Como é costume por estas bandas, esta feira da ladra não tinha o encanto daquela outra que foi habitando as minhas terças e sábados. Não havia velhotas a gritarem um eurooo! Tudo a um euro! Não havia rapazes de aspecto duvidoso a vender os furtos da noite anterior. Não havia batalhão da polícia de intervenção. Não havia turistas de máquinas fotográficas em punho e pescoços vermelhuscos. Não havia cheiro a bifanas nem a simpática senhora que percorre a feira incontáveis vezes com um carrinho cheio de minis. Não havia música pimba a rivalizar com fado.
Havia, sim, bancas organizadas num espaço multicultural e pessoas com ar cinzento a vender o que restava do resto das suas vidas. Batendo com os pés para tirar os restos de neve que insistiam em habitar as minhas botas esperando um convite maroto para entrar, ouvi o que me pareceu ser mentira: Oh menino, pode levar tudo o que quiser que não quero ir carregado para casa.
Desculpe?
É tudo grátis. Leve o que quiser.
Como sou um menino bem educado e obediente, assim o fiz. E por este pequeno manancial de livros paguei... zero.
Em seguida entrei numa loja indiana. Bem, como explicar? Não era bem uma loja. Um mundo, diria. Lá dentro era impossível descortinar a cor das paredes pois havia de tudo por todo o lado. Roupas. Incensos. Instrumentos musicais. Toda uma parafernália tirada de um qualquer filme de bollywood. No ar ecoava uma versão indiana da lambada. Por trás de um conjunto de amuletos num balcão rodeado pelo fumo de diversos incensos que teimavam em queimar incessantemente, estava o dono. Com um sorriso perguntou se era de Hamburgo. Se tinha filhos. Se conhecia o Ronaldo pessoalmente.
Perante tamanho cenário claro está que fui de me apaixonar por uma marioneta que parecia estar ali ainda antes da abertura da loja.
Preço? Setenta.
Hmmm, desculpe. É um pouco cara.
Quanto quer pagar por ela?
Quarenta?
Amigo, disse-me. Ela vale cinquenta. O amigo paga quarenta agora e depois, quando contar estórias com ela e começar a ganhar bom dinheiro vem cá e dá-me os dez euros que faltam. Ou então, ainda melhor, dá para as crianças de Calcutá. Num papel rabiscou http://calcutta.de/ e despediu-se.
Estando à porta da loja a falar com um alemão que estava interessado nisto das estórias e que me deu um postal com um poema que comprou sabe Deus onde, eis que vejo o dono a correr porta fora ao meu encontro.
Amigo, amigo. Esqueci-me de te dar amuleto para que tenhas boa sorte e inspiração nas estórias. E da mesma maneira que saiu, entrou.
Troquei contactos com o rapazito alemão e lá me fui refugiar num café a fim de restabelecer a circulação sanguínea. Na boca tinha um sorriso.
terça-feira, 19 de março de 2013
sábado, 2 de março de 2013
Politeness
Ao contrário do que tenho feito, desta feita irei descrever uma coisa boa e uma coisa menos agradável em relação a este povo que me tem albergado nestes quase três meses.
Comecemos então pela menos agradável.
Quando se fala na Alemanha e nos seus habitantes é quase inevitável referirmos as capacidades civilizacionais dos mesmos.
Várias foram as vezes que ouvi coisas como "isto na Europa não é assim" quando algo de estranho se passava em filas de supermercado ou na entrada do autocarro.
Nada mais falso.
Apesar dos sorrisos e dos inevitáveis desejos de "tenha um bom dia" com que nos despacham das lojas, há uma pequena coisa que me tem vindo a criar alguma comichão: o segurar da porta quando vem alguém atrás. Os alemães pura e simplesmente não o fazem.
Pode até vir uma velhota de bengala e sacos das compras e ninguém se digna a segurar a porta por um momento que seja para a deixar passar.
Têm estes amigos uma forte convicção em passar à frente de quem quer que seja como se disso dependesse a sua própria vida.
Estando eu numa prova de vinhos promovida por uma das associações portuguesas de Hamburgo, vi-me verdadeiramente atropelado por uma horda de pessoas que não hesitaram em passar-me à frente para conseguir mais um copo de tinto.
Depois de ter manifestado uma semi-revolta, eis que me surge um responsável alemão que me sorri bondosamente dizendo num português de forte sotaque: os portugueses e as bichas... Sorri e resolvi então pisar dois alemães, mandar uma gentil cotovelada numa velhota atrevida e comportar-me que nem o Pepe em alta competição e zás, ninguém protesta, achando o meu comportamento perfeitamente normal.
Seguindo os ensinamentos do Ghandi, eis que decidi começar a segurar portas e a portar-me de forma civilizada. A verdade é que não consigo encontrar palavras para descrever a forma incrédula como alguns me fitam e sussurram um tímido: danke schon. Outros olham-me apenas em pleno estado de choque.
Sinto que uma nova missão educativa se apresenta diante de mim. Depois de milhares de portugueses a tentarem espalhar a fé cristã a todo o custo por todo o mundo, tentarei agora ensinar os alemães de que é possível segurar uma porta ou até mesmo esperar tranquilamente pela sua vez.
Vamos então à coisa boa do dia:
A cerveja. A cerveja é boa.
Comecemos então pela menos agradável.
Quando se fala na Alemanha e nos seus habitantes é quase inevitável referirmos as capacidades civilizacionais dos mesmos.
Várias foram as vezes que ouvi coisas como "isto na Europa não é assim" quando algo de estranho se passava em filas de supermercado ou na entrada do autocarro.
Nada mais falso.
Apesar dos sorrisos e dos inevitáveis desejos de "tenha um bom dia" com que nos despacham das lojas, há uma pequena coisa que me tem vindo a criar alguma comichão: o segurar da porta quando vem alguém atrás. Os alemães pura e simplesmente não o fazem.
Pode até vir uma velhota de bengala e sacos das compras e ninguém se digna a segurar a porta por um momento que seja para a deixar passar.
Têm estes amigos uma forte convicção em passar à frente de quem quer que seja como se disso dependesse a sua própria vida.
Estando eu numa prova de vinhos promovida por uma das associações portuguesas de Hamburgo, vi-me verdadeiramente atropelado por uma horda de pessoas que não hesitaram em passar-me à frente para conseguir mais um copo de tinto.
Depois de ter manifestado uma semi-revolta, eis que me surge um responsável alemão que me sorri bondosamente dizendo num português de forte sotaque: os portugueses e as bichas... Sorri e resolvi então pisar dois alemães, mandar uma gentil cotovelada numa velhota atrevida e comportar-me que nem o Pepe em alta competição e zás, ninguém protesta, achando o meu comportamento perfeitamente normal.
Seguindo os ensinamentos do Ghandi, eis que decidi começar a segurar portas e a portar-me de forma civilizada. A verdade é que não consigo encontrar palavras para descrever a forma incrédula como alguns me fitam e sussurram um tímido: danke schon. Outros olham-me apenas em pleno estado de choque.
Sinto que uma nova missão educativa se apresenta diante de mim. Depois de milhares de portugueses a tentarem espalhar a fé cristã a todo o custo por todo o mundo, tentarei agora ensinar os alemães de que é possível segurar uma porta ou até mesmo esperar tranquilamente pela sua vez.
Vamos então à coisa boa do dia:
A cerveja. A cerveja é boa.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Obituário?
É possível escrever um obituário a
alguém que ainda está vivo?
No meu início de adolescência vi-me a
trocar de escola por mero capricho latinista. Como sempre acontece
nessa tenebrosa fase da nossa vida há lágrimas e abraços, beijos
fugazes e promessas de amizade eterna, como se mudar de escola em
Santarém fosse aventura apenas comparável com a segunda expedição
do Bartolomeu Dias em torno do Bojador.
Claro está que assim aconteceu com o
meu melhor amigo da altura. Mas ficava a promessa de continuarmos a
ver-nos, até porque ele morava a pouco mais de 500 metros de
distância e mesmo em frente ao campo de futebol onde nas tardes de
sábado eu demonstrava veementemente que a minha carreira desportiva
bem se poderia resumir a coleccionar cromos da Panini.
As noites de sexta começaram a ser
passadas em conjunto para partilharmos as aventuras da semana.
Invariavelmente eu ia até casa dele pois sempre tive culito
inquieto. Mas as diferenças entre nós começaram a se agudizar. Eu
a achar que era de bom tom ler Nietzsche aos quinze anos e ele a
devorar jogos de computador (mais tarde viria a falhar redondamente o
primeiro ano de informática na Nova, mas passando com clara
distinção no SIMS e no FIFA) como se não houvesse amanhã.
As noites de partilha típicas da
adolescência sobre os atributos sexuais de todas as raparigas da
nossa turma e sobre as técnicas cada vez mais falíveis de as
conquistar foram sendo substituídas por demonstrações de perícia
em torno de um ecrã de computador onde o meu espaço ia sendo cada
vez menor.
E assim foi que o meu foco de atenção
se foi virando cada vez mais para a mãe dele.
Num pequeno escritório forrado a
livros onde a ténue luz de um candeeiro se parecia sempre ir
afogando entre as nuvens dos constantes cigarros lá estava ela a
ler. Sempre. Pouco a pouco fomos começando a conversar sobre livros.
De como era precipitado ler Nietzsche tão cedo, de como Kafka era
fascinante, de como às vezes a personalidade dos autores nada tinha
que ver com a qualidade do que escreviam e de como era possível
desassociar ambos.
Sem surpresa o tempo que me era
parentalmente reservado para as saídas de sexta começou a ser
passado naquele escritório entre conversas quase sempre
intermináveis. O meu amigo, aborrecido de morte, nem se dignava a
aparecer, comentando apenas à saída que estava em terceiro no
campeonato mas com cinco jogos a menos ou que tinha passado dois
níveis num qualquer jogo que tanto naquela altura como nesta em que
escrevo tinha um qualquer nome para mim impronunciável.
Cada vez com menos em comum e com uma
namorada que me achava um louco perigoso ao qual o destino tinha
reservado os prazeres de todos os males da humanidade fomo-nos
afastando cada vez mais. Eu ganhei o gosto de ler nos bares e de
sonhar acordado em frases que poderiam ser memoráveis e ele
continuou a vencer níveis na mais diversa gama de jogos. Foi
naturalmente que surgiu o dia em que deixámos de sentir necessidade
de falar um com o outro.
Com esta falta de necessidade morreu
também a figura da mãe dele, ficando apenas na memória o fumo em
torno dos livros que hoje repito enquanto sinto os meus olhos minguar
em torno de um pequeno vício maior do que todos os outros.
Talvez um dia, quando tenha filhos um
deles tenha um amigo que virá falar comigo nas sextas à noite sob a
luz de um candeeiro. Mas apenas talvez.
sábado, 19 de janeiro de 2013
De como as aparências iludem
Existe nesta cidade que acolhe as minhas ossadas geladas um dos museus mais fascinantes que já visitei em toda a minha vida. O Völkerkundemuseum (que se poderá traduzir simplesmente por Museu de Etnologia. Isto esta gente gosta de complicar em termos linguísticos, mas isso não é novidade) apresenta uma coleção invejável de peças oriundas do mais distintos países do mundo nos quais figura orgulhosamente um presépio português.
Depois de na passada sexta-feira ter regressado a fim de conseguir explorar um pouco mais uma casa maori existente numa das alas, resolvi combater o frio implacável que se tem instalado nestas zonas que nem mafiosos na Rússia ou ratazanas no Convento de Mafra. Café, pensei, café.
Vi então um onde na montra pontuavam algumas empanadas aqui muito do meu agrado juntamente com outras iguarias que prometiam aquecer um fim de dia já marcado pela escuridão.
Envergando o capote alentejano que tantas batalhas tem ganho à neve lá me decidi a entrar.
No interior do café pontuavam 2 pessoas: o dono e um tipo de bigode sentado na mesa em frente ao balcão. Depois da casa Maori confesso que o possível silêncio do local não me pareceu demasiado mau. Alturas há em que uma pessoa se vê envolvida de uma tremenda necessidade silêncio a fim de conseguir chegar a fabulosas conclusões sobre o que irá cozinhar para o jantar e outras coisas que tais.
Estando eu a degustar um aprazível rooibos e com uma empanada à frente, eis que me apercebo que são portugueses os meus companheiros e que não se privavam de descrever sangrentas mortes na vida animal utilizando expressões eloquentes como: "...então o sacana do crocodilo pegou na bicha e desfez a puta toda. Aquilo era impressionante! Mas os bichos são assim mesmo. Fodidos."
De certa maneira, e fazendo uso dos meus estudos aplicados de Introdução à Linguística II no já ido ano de 2000, resolvi não me denunciar enquanto patriota daquela gente, mantendo um agradável anonimato de Murakami na mão.
Eis então que o tema de conversa muda subitamente para o capote.O meu capote.
Como poderá o iluminado leitor destas palavras imaginar, a forma de expressão não mudou em demasia, matando de uma só cajadada quase todas as saudades que tinha de Portugal.
À saída fiz questão de pedir a conta em português e como o dono do café me respondeu "sechsundsechzig", resolvi iluminá-los de que o casaco era um capote alentejano e que agradecia os comentários tecidos de forma tão despudorada.
"Já que meti a pata na poça, apresento-me", disse o cliente do café.
"Deixe estar. Não conto voltar. Obrigado"
Lá fora a neve e o frio não me pareceram assim tão más.
Depois de na passada sexta-feira ter regressado a fim de conseguir explorar um pouco mais uma casa maori existente numa das alas, resolvi combater o frio implacável que se tem instalado nestas zonas que nem mafiosos na Rússia ou ratazanas no Convento de Mafra. Café, pensei, café.
Vi então um onde na montra pontuavam algumas empanadas aqui muito do meu agrado juntamente com outras iguarias que prometiam aquecer um fim de dia já marcado pela escuridão.
Envergando o capote alentejano que tantas batalhas tem ganho à neve lá me decidi a entrar.
No interior do café pontuavam 2 pessoas: o dono e um tipo de bigode sentado na mesa em frente ao balcão. Depois da casa Maori confesso que o possível silêncio do local não me pareceu demasiado mau. Alturas há em que uma pessoa se vê envolvida de uma tremenda necessidade silêncio a fim de conseguir chegar a fabulosas conclusões sobre o que irá cozinhar para o jantar e outras coisas que tais.
Estando eu a degustar um aprazível rooibos e com uma empanada à frente, eis que me apercebo que são portugueses os meus companheiros e que não se privavam de descrever sangrentas mortes na vida animal utilizando expressões eloquentes como: "...então o sacana do crocodilo pegou na bicha e desfez a puta toda. Aquilo era impressionante! Mas os bichos são assim mesmo. Fodidos."
De certa maneira, e fazendo uso dos meus estudos aplicados de Introdução à Linguística II no já ido ano de 2000, resolvi não me denunciar enquanto patriota daquela gente, mantendo um agradável anonimato de Murakami na mão.
Eis então que o tema de conversa muda subitamente para o capote.O meu capote.
Como poderá o iluminado leitor destas palavras imaginar, a forma de expressão não mudou em demasia, matando de uma só cajadada quase todas as saudades que tinha de Portugal.
À saída fiz questão de pedir a conta em português e como o dono do café me respondeu "sechsundsechzig", resolvi iluminá-los de que o casaco era um capote alentejano e que agradecia os comentários tecidos de forma tão despudorada.
"Já que meti a pata na poça, apresento-me", disse o cliente do café.
"Deixe estar. Não conto voltar. Obrigado"
Lá fora a neve e o frio não me pareceram assim tão más.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Poema do Pacheco
Não sei que fumo é este
que de Lisboa o trouxe
mas que aqui não sabe ao mesmo.
A chuva que deixo acumular nas minhas lentes
sem vontade nem desejo supremo de as limpar.
joga cartas com o sinal não muda.
Refugiado entre palavras imaginadas
tento desenhar mundos
cada vez mais mudos.
A ilusão cada vez mais forte da vida.
Sorrio de mim para mim
e penso que qualquer dia
serei bem capaz de começar a viver.
que de Lisboa o trouxe
mas que aqui não sabe ao mesmo.
A chuva que deixo acumular nas minhas lentes
sem vontade nem desejo supremo de as limpar.
joga cartas com o sinal não muda.
Refugiado entre palavras imaginadas
tento desenhar mundos
cada vez mais mudos.
A ilusão cada vez mais forte da vida.
Sorrio de mim para mim
e penso que qualquer dia
serei bem capaz de começar a viver.
Demanda imobiliária
Tendo então sobrevivido de forma épica àquele primeiro confronto de dimensões bíblicas eis que me apronto para enfrentar a segunda resolução de ano novo.
Procura de casa.
Depois de devidamente pesquisado e documentado através de fiéis sites na internet, lá recebi duas propostas de visita em sítios algo insuspeitos desta cidade que me alberga. Digo insuspeitos que isto também convém não puxar já dos galões e exigir uma casa junto ao Alster como seria de bom tom para pessoas do meu nível. Portanto, lá esperei ser recebido com bolachinhas e licores para compensar os vapores do metro que tive que apanhar para alcançar a tal casa.
De forma a bater a famosa pontualidade germânica e dar-lhes uma verdadeira lição de civilidade, cheguei 6 minutos antes de forma a poder fazer um reconhecimento do bairro. Um cinema de nome Paradiso e com filmes fora do circuito comercial, vários armazéns de produtos de construção, uma rua com 6 faixas de rodagem e um fatal Edeka (cadeia de supermercados onde os empregados rivalizam em simpatia com os do Minipreço da Penha de França) pareceram-me atributos mais do que suficientes para colocar o bairro desde logo no meu coração .
E espanto meu quando vi uma fila de pessoas à porta do número 271. Devem estar a dar rebuçados ou houve um acidente, certeza certezinha, pensei de forma ingénua.
Não. Era mesmo uma fila de pessoas para ir ver a casa. Sorri e lá vi a casa aos empurrões com uma senhora turca dos seus 70 anos acompanhada por um filho sem unhas, uma rapariga de nariz empinado e os donos que pareciam ser estrelas do cinema local. Percebi tal afluência pois não é todos os dias que se pode viver numa casa iluminada gratuitamente por painéis de publicidade de uma empresa de construção.
Um pouco mais isolado, havia um outro apartamento. Mas quando digo isolado, digo que o café mais próximo estaria a uns bons 15 minutos a pé e a estação de metro a uns 20. Aqui não vem ninguém, pensei. Mentira. 7 pessoas, para além do facto de os donos da casa nos terem obrigado a tirar os sapatos antes de entrarmos, fazendo o hall de entrada rivalizar com a Feira de Carcavelos em dias de sol.
Se assim foi com duas casas em zonas pouco confortáveis, quis o destino que o dia seguinte me reservasse uma casa em zona bem catita e com preço convidativo. Sendo um segundo andar, apenas posso dizer que quando saí da visita, havia fila até à entrada do prédio...
Enquanto descia as escadas, não consegui deixar de sentir o olhar de semi-ódio de todas as pessoas que esperavam a sua vez e que me olhavam como potencial inimigo e/ou (riscar o que não interessa) concorrente, que isto os alemães não são pessoas que escondam os seus sentimentos.
Procura de casa.
Depois de devidamente pesquisado e documentado através de fiéis sites na internet, lá recebi duas propostas de visita em sítios algo insuspeitos desta cidade que me alberga. Digo insuspeitos que isto também convém não puxar já dos galões e exigir uma casa junto ao Alster como seria de bom tom para pessoas do meu nível. Portanto, lá esperei ser recebido com bolachinhas e licores para compensar os vapores do metro que tive que apanhar para alcançar a tal casa.
De forma a bater a famosa pontualidade germânica e dar-lhes uma verdadeira lição de civilidade, cheguei 6 minutos antes de forma a poder fazer um reconhecimento do bairro. Um cinema de nome Paradiso e com filmes fora do circuito comercial, vários armazéns de produtos de construção, uma rua com 6 faixas de rodagem e um fatal Edeka (cadeia de supermercados onde os empregados rivalizam em simpatia com os do Minipreço da Penha de França) pareceram-me atributos mais do que suficientes para colocar o bairro desde logo no meu coração .
E espanto meu quando vi uma fila de pessoas à porta do número 271. Devem estar a dar rebuçados ou houve um acidente, certeza certezinha, pensei de forma ingénua.
Não. Era mesmo uma fila de pessoas para ir ver a casa. Sorri e lá vi a casa aos empurrões com uma senhora turca dos seus 70 anos acompanhada por um filho sem unhas, uma rapariga de nariz empinado e os donos que pareciam ser estrelas do cinema local. Percebi tal afluência pois não é todos os dias que se pode viver numa casa iluminada gratuitamente por painéis de publicidade de uma empresa de construção.
Um pouco mais isolado, havia um outro apartamento. Mas quando digo isolado, digo que o café mais próximo estaria a uns bons 15 minutos a pé e a estação de metro a uns 20. Aqui não vem ninguém, pensei. Mentira. 7 pessoas, para além do facto de os donos da casa nos terem obrigado a tirar os sapatos antes de entrarmos, fazendo o hall de entrada rivalizar com a Feira de Carcavelos em dias de sol.
Se assim foi com duas casas em zonas pouco confortáveis, quis o destino que o dia seguinte me reservasse uma casa em zona bem catita e com preço convidativo. Sendo um segundo andar, apenas posso dizer que quando saí da visita, havia fila até à entrada do prédio...
Enquanto descia as escadas, não consegui deixar de sentir o olhar de semi-ódio de todas as pessoas que esperavam a sua vez e que me olhavam como potencial inimigo e/ou (riscar o que não interessa) concorrente, que isto os alemães não são pessoas que escondam os seus sentimentos.
sábado, 5 de janeiro de 2013
Resoluções de 2013
Depois de ter conseguido sobreviver à verdadeira esquizofrenia de petardos e fogo de artifício por causa das festividades de ano novo, resolvi começar a ponderar seriamente nas resoluções do novo ano.
A primeira prendeu-se claramente com a inscrição num curso de alemão a fim de finalmente começar a vencer as barreiras linguísticas que ainda me fazem sorrir quando me ofendem na rua ou repetir ad nauseam a fatal pergunta de "noch einmal, bitte".
Movido por uma superior energia, lá me arrastei para uma tal de Deutsche Akademie que anunciava no metro preços imbatíveis. Depois de ter sido recebido por uma criatura que não conhecia a palavra sorriso e muito menos aquela outra de simpatia, perguntei se podia fazer um teste para saber o meu nível.
Seguindo um rigoroso e escrupuloso protocolo definido pelas altas patentes militares do antigo Alto Volta, indicou-me uma sala e apontou para um amontoado de canetas enquanto me estendia umas folhas. Lá respondi a meia dúzia de questões da melhor maneira que sabia, tentando-me lembrar das mais elementares formas de saudação em alemão que não envolvessem palavras de cariz ofensivo.
Acabado o teste, voltei a deparar-me com o tal de sorriso supracitado, passando desde logo a criatura a conferir as respostas. E não foi preciso muito para me voltar a olhar com aquele olhar encantador e afirmar que eu falava alemão.
Disse que só assim um bocadinho daqui ate ali e ela vai de me passar novo teste e atirar-me de novo para a reclusão de uma sala tendo apenas as canetas como companheiras. Desta feita o teste era bem mais complicado, tendo-me dado uma soberana vontade de escrever que não fazia ideia e que isto com uma mímica mais aplicada ia lá numa situação do quotidiano.
Depois de verificadas as respostas, la me pôs num A2 e começou a explicar o contrato que teria de assinar para me inscrever, referindo-me de forma assertiva que o papel de frequência do curso não servia para questões relacionadas com o visto de permanência no país. Ainda pensei em responder que talvez fosse isso problema que não me preocupava, mas eu estava já com alguma fomeca e resolvi calar-me, pagar e procurar um qualquer sítio decente para comer algo típico de terras alemãs de forma a celebrar esta intrépida decisão.
Uma vez na rua e enfrentando a beleza e amenidade meteorológica hamburguesa, lá acabei por me enfiar num restaurante turco e sentir-me verdadeiramente alemão durante uns bons 5 minutos.
Mas nada nem ninguém me tinha avisado de como ia ser visitar uma casa nova para arrendar, resolução numero dois para este ano novo.
Mas isso já vos narrarei de forma imparcial como é meu apanágio.
A primeira prendeu-se claramente com a inscrição num curso de alemão a fim de finalmente começar a vencer as barreiras linguísticas que ainda me fazem sorrir quando me ofendem na rua ou repetir ad nauseam a fatal pergunta de "noch einmal, bitte".
Movido por uma superior energia, lá me arrastei para uma tal de Deutsche Akademie que anunciava no metro preços imbatíveis. Depois de ter sido recebido por uma criatura que não conhecia a palavra sorriso e muito menos aquela outra de simpatia, perguntei se podia fazer um teste para saber o meu nível.
Seguindo um rigoroso e escrupuloso protocolo definido pelas altas patentes militares do antigo Alto Volta, indicou-me uma sala e apontou para um amontoado de canetas enquanto me estendia umas folhas. Lá respondi a meia dúzia de questões da melhor maneira que sabia, tentando-me lembrar das mais elementares formas de saudação em alemão que não envolvessem palavras de cariz ofensivo.
Acabado o teste, voltei a deparar-me com o tal de sorriso supracitado, passando desde logo a criatura a conferir as respostas. E não foi preciso muito para me voltar a olhar com aquele olhar encantador e afirmar que eu falava alemão.
Disse que só assim um bocadinho daqui ate ali e ela vai de me passar novo teste e atirar-me de novo para a reclusão de uma sala tendo apenas as canetas como companheiras. Desta feita o teste era bem mais complicado, tendo-me dado uma soberana vontade de escrever que não fazia ideia e que isto com uma mímica mais aplicada ia lá numa situação do quotidiano.
Depois de verificadas as respostas, la me pôs num A2 e começou a explicar o contrato que teria de assinar para me inscrever, referindo-me de forma assertiva que o papel de frequência do curso não servia para questões relacionadas com o visto de permanência no país. Ainda pensei em responder que talvez fosse isso problema que não me preocupava, mas eu estava já com alguma fomeca e resolvi calar-me, pagar e procurar um qualquer sítio decente para comer algo típico de terras alemãs de forma a celebrar esta intrépida decisão.
Uma vez na rua e enfrentando a beleza e amenidade meteorológica hamburguesa, lá acabei por me enfiar num restaurante turco e sentir-me verdadeiramente alemão durante uns bons 5 minutos.
Mas nada nem ninguém me tinha avisado de como ia ser visitar uma casa nova para arrendar, resolução numero dois para este ano novo.
Mas isso já vos narrarei de forma imparcial como é meu apanágio.
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