quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Demanda imobiliária

Tendo então sobrevivido de forma épica àquele primeiro confronto de dimensões bíblicas eis que me apronto para enfrentar a segunda resolução de ano novo.
Procura de casa.
Depois de devidamente pesquisado e documentado através de fiéis sites na internet, lá recebi duas propostas de visita em sítios algo insuspeitos desta cidade que me alberga. Digo insuspeitos que isto também convém não puxar já dos galões e exigir uma casa junto ao Alster como seria de bom tom para pessoas do meu nível. Portanto, lá esperei ser recebido com bolachinhas e licores para compensar os vapores do metro que tive que apanhar para alcançar a tal casa.
De forma a bater a famosa pontualidade germânica e dar-lhes uma verdadeira lição de civilidade, cheguei 6 minutos antes de forma a poder fazer um reconhecimento do bairro. Um cinema de nome Paradiso e com filmes fora do circuito comercial, vários armazéns de produtos de construção, uma rua com 6 faixas de rodagem e um fatal Edeka (cadeia de supermercados onde os empregados rivalizam em simpatia com os do Minipreço da Penha de França) pareceram-me atributos mais do que suficientes para colocar o bairro desde logo no meu coração .
E espanto meu quando vi uma fila de pessoas à porta do número 271. Devem estar a dar rebuçados ou houve um acidente, certeza certezinha, pensei de forma ingénua.
Não. Era mesmo uma fila de pessoas para ir ver a casa. Sorri e lá vi a casa aos empurrões com uma senhora turca dos seus 70 anos acompanhada por um filho sem unhas, uma rapariga de nariz empinado e os donos que pareciam ser estrelas do cinema local. Percebi tal afluência pois não é todos os dias que se pode viver numa casa iluminada gratuitamente por painéis de publicidade de uma empresa de construção.
Um pouco mais isolado, havia um outro apartamento. Mas quando digo isolado, digo que o café mais próximo estaria a uns bons 15 minutos a pé e a estação de metro a uns 20. Aqui não vem ninguém, pensei. Mentira. 7 pessoas, para além do facto de os donos da casa nos terem obrigado a tirar os sapatos antes de entrarmos, fazendo o hall de entrada rivalizar com a Feira de Carcavelos em dias de sol.
Se assim foi com duas casas em zonas pouco confortáveis, quis o destino que o dia seguinte me reservasse uma casa em zona bem catita e com preço convidativo. Sendo um segundo andar, apenas posso dizer que quando saí da visita, havia fila até à entrada do prédio...
Enquanto descia as escadas, não consegui deixar de sentir o olhar de semi-ódio de todas as pessoas que esperavam a sua vez e que me olhavam como potencial inimigo e/ou (riscar o que não interessa) concorrente, que isto os alemães não são pessoas que escondam os seus sentimentos.

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