A convite do Instituto Cervantes de Hamburgo participei hoje no BuchEntdecker Tag, ou em mais latinas expressões um simples: Dia do descobridor do Livro. No pomposo Museu de Altona, e com a participação de diversas associações culturais da cidade assim como de instituições nacionais e internacionais, houve três andares repletos das mais diversas actividades para crianças tendo o livro como ponto central. Um mundo de sonho para quem se dedica ao fascínio dos livros.
Ao ser recebido pelo bibliotecário do Cervantes e trocados os primeiros galhardetes habituais eis que surgiu a pergunta inocente:
- Estás a gostar? Estão aqui todos! Nós, o Instituto Francês, uns gajos do Irão, ali uns refugiados, leitura para cegos... Isto é incrível! Mas diz-me uma coisa: onde está o Camões? Nunca vejo Portugal nestas coisas.
Se tivesse seguido o meu apurado instinto de scalabitano empedernido, teria mudado o tema para o futebol, mas talvez já seja emigrante há muito tempo e assim não foi.
Suspirei.
Voltei a suspirar e limitei-me a repetir banalidades como a não existência de actividades na Longa Noite dos Consulados ou do facto das actividades do Camões em Hamburgo serem quase sempre durante o horário de expediente e, por isso, inacessíveis para uma maioria de portugueses que trabalham. Isto, claro está, quando as há.
Sei que é fácil criticar, mas também sei que é possível marcar uma presença mais efectiva e fazer manter viva a esperança de que vale a pena acreditar que a cultura em língua portuguesa tem uma especificidade e mérito próprio e de que isso passa pelo contacto directo com pessoas nos sítios onde elas estão. E pelo que vi e tenho aprendido nestes últimos anos de cooperação com o Instituto Cervantes não passa por responder apenas às necessidades e pedidos das comunidades emigrantes, mas também, e muito, pela promoção constante junto do público alemão.
Mas isto sou eu que o digo. Talvez não seja a melhor referência para me imiscuir nestes assuntos. O que sei é que me magoa cada vez mais saber que a imagem que vamos vendendo no exterior é a de um país que vibra com os golos do Ronaldo de sardinha na mão e que talvez não seja bem essa a imagem que quero que a minha filha venha a ter no futuro do país onde nasci.
sexta-feira, 22 de junho de 2018
quarta-feira, 16 de maio de 2018
Racismo?
Hoje proponho-me a falar sobre um dos mais complicados temas que de tempos a tempos me assalta por estas terras germânicas: o racismo.
Existe? Não existe? Como são os alemães em relação aos estrangeiros?
De certa forma sinto que estas perguntas já me foram colocadas por amigos portugueses e espanhóis por diversas vezes e que em muitas delas acabo por me esquivar em comentários politicamente correctos e inconcretos. Contudo, as recentes declarações do líder do FDP*, Christian Lindner, despertaram em mim velhas questões que agora procurarei clarificar:
Os alemães, em geral, não são racistas. Ou pelo menos aqueles que conheço e com quem privo diariamente, o que não pode ser tido em conta como um dado fidedigno de representação da sociedade como um todo.
Mas há excepções e gostaria de clarificar dois tipos de racismo:
1- Um mais evidente presente nas pessoas que escolhem votar em partidos de extrema direita como o NPD ou até mesmo o polémico AFD que até já tem representação no Parlamento. Há casos de violência extrema como aconteceu recentemente em Magdeburgo onde um homem lançou um cão de ataque contra uma família de refugiados ou os incontáveis casos de ataques a casas de acolhimento de refugiados um pouco por toda a Alemanha. A nível do quotidiano em Hamburgo tenho apenas a referir alguns palavrões provenientes de velhos caquéticos que de tempos a tempos lançam um Scheissauländer (estrangeiro de merda) mas que em nada ameaçam a minha integridade.
2- O mais recorrente dos racismos é um que se baseia num sentimento geral de ignorância sobre o outro que acaba por revelar um desconhecimento de si mesmo.
E aqui é onde entra o senhor Lindner com o seu comentário: ao apresentar estereótipos irreflectidos provocou uma onda de indignação na comunicação social, mas que lamentavelmente reflecte o pensar de uma boa parte da população local. De tudo o que tenho ouvido nestes últimos cinco anos e meio que aqui vivo, destaco três casos para ajudar a perceber de como nos pode ocorrer a qualquer momento:
a) Na inscrição para um curso de alemão a secretária da escola informa-me que o curso não tem validade para a obtenção de visto de residência na Alemanha. Prontifico-me então a explicar-lhe que Portugal faz parte da UE e que, tal como os alemães que vivem em Portugal, não preciso de tal coisa. Ela responde-me um seco "Trotzdem" que se poderia traduzir como um "Como queiras".
b) Numa escola onde trabalhei discutia-se a estrutura das AECs que tinham acabado de ser inauguradas como super plano inovador. Pensei então que poderia dar a minha opinião pois trabalhei no longínquo ano de 2005 no primeiro ano de tal aventura por terras lusas e em 2007 elaborei um plano de leitura para todas as escolas do concelho de Grândola, sentindo então que teria uma opinião válida sobre o assunto. Depressa me responderam que em Portugal existiria talvez outra coisa que não o que ali tentavam implementar. Quando falei sobre isto com uma amiga francesa que também estava a trabalhar nas AECs locais, disse-me que o mesmo tinha acontecido com ela e que a tinham excluído de todo o planeamento.
c) Quando digo que sou português, muitas vezes as pessoas referem emocionadas as experiências que viveram em Espanha ou em Itália pois afinal os "Sudländer" (termo utilizado para descrever as pessoas originárias do sul da Europa) são um género de entidade única e indivisível e que sempre se comportam da mesma maneira. Quando tento estabelecer um contraste entre a melancolia portuguesa e o euforismo espanhol ou a expressividade italiana, costumo receber olhares de "Ach ja" (claro, claro) e logo continuam a descrever os virtuosismos dos Mojitos que se podem beber em Maiorca.
Mas estes casos acontecem igualmente entre alemães dentro da Alemanha pois os habitantes da antiga Alemanha de Leste ainda são apelidados de Ossies (que ousaria traduzir como "Lésticos"), da mesma maneira que os habitantes de Hamburgo são os "Fischkopf" (cabeças de peixe).
Posso então concluir que os alemães adoram gavetas onde possam enfiar todos aqueles que são diferentes de si mesmos e que, por sorte, costumo lidar com pessoas que aboliram tais sistemas e para quem o ser humano é algo mais complexo que ultrapassa fronteiras ou sistemas de catalogação.
E isso dá-me esperança que cada vez mais pessoas sejam assim. E já seria bem bom.
* Lindner considerou incorrecto as pessoas reagirem negativamente à cor da pele de quem nos vende o pão, mas percebe e aceita que as pessoas temam quando alguém fala alemão de forma incorrecta, tal como quando se deparam com um Nazi, um violador ou um adepto do Hamburgo.
Existe? Não existe? Como são os alemães em relação aos estrangeiros?
De certa forma sinto que estas perguntas já me foram colocadas por amigos portugueses e espanhóis por diversas vezes e que em muitas delas acabo por me esquivar em comentários politicamente correctos e inconcretos. Contudo, as recentes declarações do líder do FDP*, Christian Lindner, despertaram em mim velhas questões que agora procurarei clarificar:
Os alemães, em geral, não são racistas. Ou pelo menos aqueles que conheço e com quem privo diariamente, o que não pode ser tido em conta como um dado fidedigno de representação da sociedade como um todo.
Mas há excepções e gostaria de clarificar dois tipos de racismo:
1- Um mais evidente presente nas pessoas que escolhem votar em partidos de extrema direita como o NPD ou até mesmo o polémico AFD que até já tem representação no Parlamento. Há casos de violência extrema como aconteceu recentemente em Magdeburgo onde um homem lançou um cão de ataque contra uma família de refugiados ou os incontáveis casos de ataques a casas de acolhimento de refugiados um pouco por toda a Alemanha. A nível do quotidiano em Hamburgo tenho apenas a referir alguns palavrões provenientes de velhos caquéticos que de tempos a tempos lançam um Scheissauländer (estrangeiro de merda) mas que em nada ameaçam a minha integridade.
2- O mais recorrente dos racismos é um que se baseia num sentimento geral de ignorância sobre o outro que acaba por revelar um desconhecimento de si mesmo.
E aqui é onde entra o senhor Lindner com o seu comentário: ao apresentar estereótipos irreflectidos provocou uma onda de indignação na comunicação social, mas que lamentavelmente reflecte o pensar de uma boa parte da população local. De tudo o que tenho ouvido nestes últimos cinco anos e meio que aqui vivo, destaco três casos para ajudar a perceber de como nos pode ocorrer a qualquer momento:
a) Na inscrição para um curso de alemão a secretária da escola informa-me que o curso não tem validade para a obtenção de visto de residência na Alemanha. Prontifico-me então a explicar-lhe que Portugal faz parte da UE e que, tal como os alemães que vivem em Portugal, não preciso de tal coisa. Ela responde-me um seco "Trotzdem" que se poderia traduzir como um "Como queiras".
b) Numa escola onde trabalhei discutia-se a estrutura das AECs que tinham acabado de ser inauguradas como super plano inovador. Pensei então que poderia dar a minha opinião pois trabalhei no longínquo ano de 2005 no primeiro ano de tal aventura por terras lusas e em 2007 elaborei um plano de leitura para todas as escolas do concelho de Grândola, sentindo então que teria uma opinião válida sobre o assunto. Depressa me responderam que em Portugal existiria talvez outra coisa que não o que ali tentavam implementar. Quando falei sobre isto com uma amiga francesa que também estava a trabalhar nas AECs locais, disse-me que o mesmo tinha acontecido com ela e que a tinham excluído de todo o planeamento.
c) Quando digo que sou português, muitas vezes as pessoas referem emocionadas as experiências que viveram em Espanha ou em Itália pois afinal os "Sudländer" (termo utilizado para descrever as pessoas originárias do sul da Europa) são um género de entidade única e indivisível e que sempre se comportam da mesma maneira. Quando tento estabelecer um contraste entre a melancolia portuguesa e o euforismo espanhol ou a expressividade italiana, costumo receber olhares de "Ach ja" (claro, claro) e logo continuam a descrever os virtuosismos dos Mojitos que se podem beber em Maiorca.
Mas estes casos acontecem igualmente entre alemães dentro da Alemanha pois os habitantes da antiga Alemanha de Leste ainda são apelidados de Ossies (que ousaria traduzir como "Lésticos"), da mesma maneira que os habitantes de Hamburgo são os "Fischkopf" (cabeças de peixe).
Posso então concluir que os alemães adoram gavetas onde possam enfiar todos aqueles que são diferentes de si mesmos e que, por sorte, costumo lidar com pessoas que aboliram tais sistemas e para quem o ser humano é algo mais complexo que ultrapassa fronteiras ou sistemas de catalogação.
E isso dá-me esperança que cada vez mais pessoas sejam assim. E já seria bem bom.
* Lindner considerou incorrecto as pessoas reagirem negativamente à cor da pele de quem nos vende o pão, mas percebe e aceita que as pessoas temam quando alguém fala alemão de forma incorrecta, tal como quando se deparam com um Nazi, um violador ou um adepto do Hamburgo.
sábado, 24 de março de 2018
Do (des)funcionamento das coisas por aqui
Depois de uma longa ausência da minha residência em Hamburgo eis que regresso e deparo-me com um modem incapaz de controlar a sua alegria por me ver, exibindo uma eufórica coreografia de intermitentes luzes verdes e encarnadas. Como bom dono que sou, logo o fui afagar e fiz-lhe juras de um amor e carinho indescritível nas humildes páginas virtuais que aqui vou condensando sem qualquer critério.
Liguei o wifi do telemóvel e descubro que todo o espectáculo pirotécnico era afinal denunciador de uma anomalia e não de felicidade extrema.
Como não sou pessoa de desistir assim às primeiras, resolvi afagá-lo de novo pedindo com carinho que funcionasse.
Não me ouviu e continuou nas suas celebrações multicolores a roçarem um género de ebriedade natalícia.
Ameacei desligá-lo.
Fi-lo mesmo, reiniciando-o sem dó nem piedade.
Nada.
Seguiu-se então o momento que qualquer pessoa sã neste país teme: ligar à assistência técnica da O2. De forma a que os leitores residentes fora da Alemanha possam perceber a dimensão da coisa, devo esclarecer que recebi informações seguras de que a grande coligação que irá governar este país só foi possível quando a senhora Merkel ameaçou os demais parceiros que iria chamar os serviços técnicos da referida empresa caso não se decidissem a formar governo. A isto respondeu então o trauliteiro ministro da Baviera: Passt schon
Liguei, pois. Após terem confirmado que não conseguiam resolver o problema, disseram que teria que receber a visita de um técnico. Confesso que temi o pior: estas coisas na Alemanha são sempre um convite para uma longa espera. No Consulado Português de Hamburgo consegue-se uma marcação no prazo de três meses (quando uma pessoa tem sorte).
Ao contrário do esperado, propuseram-me para o dia seguinte (quinta-feira) em dois períodos distintos: ou entre as 8 e as 14 ou entre as 14 e as 20. Escolhi o primeiro.
Às oito em ponto estava eu já a pé de pequeno-almoço tomado e pronto para qualquer eventualidade. Contudo a eventualidade não ocorreu até às 15 horas. Ligo para o serviço de apoio ao cliente e quando os informei que tal e coiso o técnico não tinha aparecido, agradeceram-me a informação, mas já o sabiam pois o técnico tinha ligado a dizer que estava doente logo pela manhã. Como era quinta-feira, marcaram-me nova visita para segunda.
Eis que segunda chega. Um técnico ofegante de subir os quatro andares que antecedem o meu olha para o modem que continua em permanente festa como se tivesse caído para dentro do caldeirão das anfetaminas quando era bebé, e arranca o cabo da tomada, destruindo-o com uma dedicação extremada. Em seguida olha para mim e diz: o problema é do cabo. Ainda tentei sugerir que talvez fosse do modem em si, mas ele limitou-se a dizer que tinha que comprar um cabo novo.
Como sou um daqueles emigrantes obedientes, peguei na bicicleta e lá fui comprar um cabo, instalando-o sem pudores.
Curiosamente, não resolveu o assunto.
Nova chamada para os serviços técnicos que se prontificaram a enviar um novo modem, jurando que me chegaria às mãos no dia seguinte.
O dia seguinte passou e nada.
Novo dia a amanhecer e nada.
Num inspirado laivo procuro no site da DHL se por acaso havia alguma encomenda com o meu nome em algum lado. Havia. Pois claro que havia. Simplesmente não fui notificado.
Após me ter dirigido ao posto dos correios para ir levantar a encomenda com o modem, chego a casa e o que é que tenho no correio? Pois claro, a notificação que não tinha sido deixada no dia em que a encomenda tinha sido "entregue".
Ao contar esta desventura a um amigo alemão, recebi um leve sorriso de empatia e um: "welcome back to Germany".
Oh yeah, agora, mais do que nunca, sinto que já aterrei de corpo e alma nestas terras hanseáticas.
Liguei o wifi do telemóvel e descubro que todo o espectáculo pirotécnico era afinal denunciador de uma anomalia e não de felicidade extrema.
Como não sou pessoa de desistir assim às primeiras, resolvi afagá-lo de novo pedindo com carinho que funcionasse.
Não me ouviu e continuou nas suas celebrações multicolores a roçarem um género de ebriedade natalícia.
Ameacei desligá-lo.
Fi-lo mesmo, reiniciando-o sem dó nem piedade.
Nada.
Seguiu-se então o momento que qualquer pessoa sã neste país teme: ligar à assistência técnica da O2. De forma a que os leitores residentes fora da Alemanha possam perceber a dimensão da coisa, devo esclarecer que recebi informações seguras de que a grande coligação que irá governar este país só foi possível quando a senhora Merkel ameaçou os demais parceiros que iria chamar os serviços técnicos da referida empresa caso não se decidissem a formar governo. A isto respondeu então o trauliteiro ministro da Baviera: Passt schon
Liguei, pois. Após terem confirmado que não conseguiam resolver o problema, disseram que teria que receber a visita de um técnico. Confesso que temi o pior: estas coisas na Alemanha são sempre um convite para uma longa espera. No Consulado Português de Hamburgo consegue-se uma marcação no prazo de três meses (quando uma pessoa tem sorte).
Ao contrário do esperado, propuseram-me para o dia seguinte (quinta-feira) em dois períodos distintos: ou entre as 8 e as 14 ou entre as 14 e as 20. Escolhi o primeiro.
Às oito em ponto estava eu já a pé de pequeno-almoço tomado e pronto para qualquer eventualidade. Contudo a eventualidade não ocorreu até às 15 horas. Ligo para o serviço de apoio ao cliente e quando os informei que tal e coiso o técnico não tinha aparecido, agradeceram-me a informação, mas já o sabiam pois o técnico tinha ligado a dizer que estava doente logo pela manhã. Como era quinta-feira, marcaram-me nova visita para segunda.
Eis que segunda chega. Um técnico ofegante de subir os quatro andares que antecedem o meu olha para o modem que continua em permanente festa como se tivesse caído para dentro do caldeirão das anfetaminas quando era bebé, e arranca o cabo da tomada, destruindo-o com uma dedicação extremada. Em seguida olha para mim e diz: o problema é do cabo. Ainda tentei sugerir que talvez fosse do modem em si, mas ele limitou-se a dizer que tinha que comprar um cabo novo.
Como sou um daqueles emigrantes obedientes, peguei na bicicleta e lá fui comprar um cabo, instalando-o sem pudores.
Curiosamente, não resolveu o assunto.
Nova chamada para os serviços técnicos que se prontificaram a enviar um novo modem, jurando que me chegaria às mãos no dia seguinte.
O dia seguinte passou e nada.
Novo dia a amanhecer e nada.
Num inspirado laivo procuro no site da DHL se por acaso havia alguma encomenda com o meu nome em algum lado. Havia. Pois claro que havia. Simplesmente não fui notificado.
Após me ter dirigido ao posto dos correios para ir levantar a encomenda com o modem, chego a casa e o que é que tenho no correio? Pois claro, a notificação que não tinha sido deixada no dia em que a encomenda tinha sido "entregue".
Ao contar esta desventura a um amigo alemão, recebi um leve sorriso de empatia e um: "welcome back to Germany".
Oh yeah, agora, mais do que nunca, sinto que já aterrei de corpo e alma nestas terras hanseáticas.
domingo, 11 de março de 2018
Quantos menos sonhos, mais adornos - Mia Couto
Deixar Santarém rumo ao interior do país é um vasto calvário de terras ardidas, de vidas que por ali ficaram perdidas num negro que nos acompanha durante quilómetros e quilómetros que se nos vao adentrando de forma indelével.
Ao fim de um tempo a vontade de fazer a piada fácil sobre o nome de terras como Cabeca Gorda, Benlhevai ou Sarnadas desaparece e dá lugar a um sentimento furioso, tal como será porventura furioso o esquecimento a que estas pessoas se verao rogadas ano após ano, conhecendo apenas uma breve luz de atencao que breve se esfuma.
Com o inverno a tentar impor o seu tino, voltam a desaparecer estes nomes até novo verao. Caso ainda haja algo mais para arder.
Aterrar no interior é respirar fundo e tentar descobrir mais do que só Portugal. É, porventura, descobrir-me a mim mesmo em frases, expressoes, rostos e pedras que ali parecem plantados desde tempos imemoriais como se à espera estivessem que lá fosse com o meu eterno pasmo beber inspiracao directamente de um fonte inesgotável.
Ou nao.
Se ver a Santarém onde cresci desaparecer lentamente em lojas fechadas e prédios abandonados é penoso, este périplo pelo interior do país revelou-me um abandono mais acentuado, mais prédios e casas rogadas ao abandono, assim representando uma queda que julgo sempre ser final até nova visita e novo acentuar da desertificacao.
E com este desertificar, sinto-me eu também a desaparecer, a envelhecer mais depressa num processo desesperancadamente irreversível até que reste apenas a sombra de uma alma e de um ser que a todo o custo vou tentando manter por estas outras terras tao distantes onde vou tentando ser apenas eu dia após dia.
Ao fim de um tempo a vontade de fazer a piada fácil sobre o nome de terras como Cabeca Gorda, Benlhevai ou Sarnadas desaparece e dá lugar a um sentimento furioso, tal como será porventura furioso o esquecimento a que estas pessoas se verao rogadas ano após ano, conhecendo apenas uma breve luz de atencao que breve se esfuma.
Com o inverno a tentar impor o seu tino, voltam a desaparecer estes nomes até novo verao. Caso ainda haja algo mais para arder.
Aterrar no interior é respirar fundo e tentar descobrir mais do que só Portugal. É, porventura, descobrir-me a mim mesmo em frases, expressoes, rostos e pedras que ali parecem plantados desde tempos imemoriais como se à espera estivessem que lá fosse com o meu eterno pasmo beber inspiracao directamente de um fonte inesgotável.
Ou nao.
Se ver a Santarém onde cresci desaparecer lentamente em lojas fechadas e prédios abandonados é penoso, este périplo pelo interior do país revelou-me um abandono mais acentuado, mais prédios e casas rogadas ao abandono, assim representando uma queda que julgo sempre ser final até nova visita e novo acentuar da desertificacao.
E com este desertificar, sinto-me eu também a desaparecer, a envelhecer mais depressa num processo desesperancadamente irreversível até que reste apenas a sombra de uma alma e de um ser que a todo o custo vou tentando manter por estas outras terras tao distantes onde vou tentando ser apenas eu dia após dia.
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