Já com a cidade pacificada, eis que regresso a Hamburgo.
O arame farpado que ladeava a estação de Sternschanze foi substituído por novas grades de protecção e as ruas já estão limpas. Um grande esforço colectivo que começou via facebook levou milhares de pessoas a limparem as ruas semi-destruídas depois de duas noites de verdadeira guerra civil.
O rescaldo do G20 é propício a todo um género de comentários que não pretendem deixar ninguém indiferente. Há quem culpe a extrema esquerda, quem culpe a polícia, os políticos e as suas decisões. O facebook enche-se de comentários anónimos mais ou menos irados.
Contudo, o que mais me choca são as declarações menos anónimas e com carácter mais oficial que vão surgindo e que aqui partilho, deixando aos meus leitores a árdua tarefa de decidir qual o vencedor para parvoíce do ano:
Beuth, o advogado promotor do movimento "Welcome to Hell" afirmou que concorda com o género de acção desenvolvido pelos "autónomos" que lançaram cocktails molotov contra a polícia e destruíram metade de Schanze. Contudo, só não concorda que o tenham feito em Schanze, pois devê-lo-iam ter feito em bairros onde parte dos milionários da cidade vivem como Blankenese.
Estranhamente já foi indiciado pela polícia e o seu julgamento terá brevemente início.
Meyer, chefe da polícia de Hamburgo, salientou ainda em pleno conflito o papel que os estrangeiros desenvolveram em tais devastadoras acções, como os italianos ou escandinavos que para aqui vieram só para praticar actos de destruição. Numa terra onde a xenofobia continua a ser um tema quente este parece-me ser o mais correcto dos comentários a ser feito.
O ministro do Interior, De Maizière, afirmou que os autónomos em nada se distinguem dos neo-nazis ou de terroristas, embora eu veja algumas diferenças nos métodos de acção. Os neo-nazis não costumam atacar a polícia, mas sim queimar casas onde vivem refugiados e espancar quem pareça ligeiramente diferente do padrão "ariano", organizando manifestações pacíficas com uma certa conivência da polícia. Os terroristas, sabemos bem que género de alvos e acções desenvolvem. Mas isto sou apenas eu a dizer.
O líder da oposição de Hamburgo pediu que o presidente da câmara, Olaf Scholz, assumisse a sua quota parte de responsabilidade política, demitindo-se, porventura ignorando que a brilhante ideia de organizar tal encontro em Hamburgo tenha vindo precisamente da líder do seu partido, actual Primeira Ministro alemã.
Um porta-voz do governo afirma que eventos como este são um risco que os habitantes das grandes cidades têm que correr. Parece-me óbvio que juntamente com a poluição este é um dos riscos com que contava correr ao vir viver para Hamburgo.
Contudo, a ideia geral que tem sido anunciada pelos mais diversos quadrantes oficiais é de que o encontro foi um sucesso e que tudo correu, definitivamente, pelo melhor.
A isso apenas consigo responder um bem germânico "Tja..."
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