Estava na Alemanha há relativamente pouco tempo quando aconteceu:
Ao sair de casa eis-me mergulhado numa pequena multidão policial acompanhada por simpáticos tanques com canhões de água fazendo-me recordar os mais brilhantes tempos dos finais da Alemanha de Leste. Questionando-me sobre a razão destes moçoilos estarem logo pela manhã numa zona relativamente tranquila, logo me apercebo que tinha sido marcada uma manifestação por parte de um grupo de neo-nazis contra a transformação de uma igreja abandonada em mesquita. Cerca de quarenta jovens com evidentes problemas capilares não se compararam aos cerca de quatrocentos que surgiram em virtude da contra- manifestação organizada por várias associações que se dedicam a questões mais ou menos bizarras como integração e direitos humanos. Gente estranha, portanto. A polícia, conhecedora das suas funções, nas quais se incluem a ordem pública, acompanhou os meninos nazis até ao metro de forma a que pudessem desopilar dali antes de serem linchados pelos Antifa.
No final houve um enorme piquenique e as obras para a reconversão da igreja em mesquita lá se iniciaram sem incidentes de maior.
Contudo, nem tudo é assim tão pacífico por estas bandas.
Juntamente com o fenómeno da PEGIDA, juntou-se o visível crescimento do partido AFD noutras zonas da Alemanha como a Saxónia Anhalt (com 25 lugares no Parlamento local em 87 possíveis) ou a Pomerânia (Mecklenburg-Vorpommern onde alcançaram 30% nas recentes eleições efectuadas no início do mês) ou até mesmo os surpreendentes 13,8% em Berlim. Sendo um partido de cariz racista onde os seus líderes fazem declarações como o facto de não quererem ter o jogador do Bayern e da seleção alemã Jerome Boateng como vizinho ou de perceberem e apoiarem a necessidade das pessoas recorrerem a armamento perante o crescer das ameaças estrangeiras, eu não deixo de ficar preocupado. Pensar que enquanto caminho pelas ruas da terra natal da Katrin há um em cada três indivíduos com quem me cruzo que votou num partido que defende que pessoas como eu não possam coabitar com eles é um sentimento algo estranho. Quase tão estranho como este ser um fenómeno quase exclusivamente das zonas que outrora formaram a Alemanha de Leste. Ou talvez não. A crise profunda que se instalou com a falência das estruturas socialistas após a queda do muro juntamente com o crescente sentimento de que algo falhou no processo de integracao sao razoes mais que suficientes para as pessoas duvidarem de que o famoso "wir schaffen das" (nós logramo-lo) da Merkel possa singrar.
Mas daí aos consecutivos ataques com fogo às residencias onde se encontram os refugiados, assim como a manifesta violencia de que tem sido alvo os voluntários que trabalham nos campos, sao coisas que ainda me fazem confusao, para além de as achar inaceitáveis. Uma grande parte dos "autóctones" da Alemanha de Leste tem nomes de origem russa ou de países do antigo bloco de leste, pelo que a historieta de que defendem os valores tradicionais e outras tontices do género nao me parecem fazer muito sentido. Ou talvez seja apenas eu.
Eu que acredito que nem é muito mau ser portugues, mas que tenho consciencia que, para tal facto, nada fiz. E por isso acredito que há um papel que todos nós podemos desempenhar na actual conjuntura e que vou levando a cabo um projecto de contos junto de um grupo de refugiados todas as semanas. E que, pelo sim, pelo nao, me mudei para um prédio onde nas escadas há autocolantes a dizer "Fuck AFD" e creio que me manterei pelas lides hanseáticas de Hamburgo durante mais uns tempos.
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