quinta-feira, 13 de março de 2014

Retornado por 10 dias

Regressar a Portugal.
Regressar a Portugal é como regressar a um corpo que se conhece. A um vinho que sempre se bebeu e que nunca desiludiu. Talvez mesmo reler um poema que sempre mexeu connosco e que de forma misteriosa continua a faze-lo sem que consigamos nunca explicar bem o porque de tal coisa.
Ter regressado a Portugal foi tudo isso e foi mais.
Foi Clara, André, Graca, Liliana, Joana, Eduardo, Toni, Zé, Néné, Carlos, Vanessa, Luís, Gustavo, Cecília, Carla, Paulo, Tiago, Rodrigo, Carla, Susana, Ana, Mafalda, Diogo, Dora, Goncalo, Alves, Nuno, Célia, Ines, Elisa.
Nomes que escondem pessoas que me abracaram e com quem partilhei minutos escassos e que agudizaram umas saudades quase impossíveis de esconder. Saudades de outras pessoas de quem nao conheco os nomes mas que se cruzaram comigo naquele surrealismo nacional que em tudo supera o realismo mágico sul-americano.
Falo do senhor do snack-bar Guedes no Porto que depois de refilar durante dois minutos em bom refilar cede a um desejo meu como crianca que aceita um doce, do conhecer do enólogo do vinho que bebia num restaurante aparentemente perdido em Tabuaco, de uma senhora adorável que me pediu adivinhas atrás de adivinhas com um sorriso que nao tenho palavras para descrever e que deixo ecoar cá dentro na esperanca de ainda um dia conseguir sorrir assim, da detalhada descricao sobre as qualidades divinas das morcelas da Guarda num restaurante vazio, do reencontrar do Yes we can em Sao Pedro do Rio Seco e do seu inevitável Toni, das curvas da serra da Gardunha, o estar a ligar à Dora no Oriente e ve-la aparecer à minha frente, dos beijos de um foliao travestado em pleno Sereia ali na esquina da casa da minha mae em Santarem, entre outras pequenas coisas que acho que só em Portugal sao possíveis.
Mas mais que o surrealismo, trago cravada a cara da minha mae ao ver-me aparecer de surpresa para almocar. A perspicácia literária do André que nao hesitou em me deixar um livro do Borges na casa de banho em curta pernoitada com muito vinho e ainda mais literatura. A alegria indisfarcável do calor africano da Elisa e o abraco do Alves que deixou a minha cara marcada numa cabecada fenomenal. O regressar a Sao Pedro e ser convidado para almocar e ver que uma fotografia onde apareco figura na sala juntamente com a dos mais próximos familiares. O saber que em cada abraco senti os dedos cravarem-se nas costas como se nunca de lá tivessem saído. O  saber que há reencontros que continuaram a ter o sabor do normal e que isso é um luxo e que talvez haja alemaes dispostos a pagar por esse pedaco de humanidade.
E depois disto tudo regressar a casa, Hamburgo, com o coracao cheio e uma forca enorme de continuar a viver apenas para poder continuar a reencontrar e a viver tudo isto e muito mais.

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