quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Ah, da vida

... hemos perdido en cien anos las mejores virtudes humanas del siglo XIX: el idealismo febril y la prioridad de los sentimientos: el susto del amor. García Márquez

Ora bem, foi preciso chegar aos quase 32 anos para o García Márquez me dizer isto e matar, de uma vez por todas as minhas ténues ilusões em relação à humanidade. Claro está que o facto de isto ter  sido escrito e publicamente proferido em 1985 nada tem que ver com este atraso na transmissão da mensagem, pois acredito piamente que tudo o que de bom se escreve no mundo é feito única e exclusivamente para mim. Assim sendo, acabo de substituir o Maradona no lugar de pessoa com o maior ego à face da terra.

Seja como for, não deixa de me chocar saber da perda destas virtudes. Surpreendente? Não. Triste só o reconhecer agora e através da leitura de uma oralidade? Talvez.

Ao longo dos anos desde que comecei a trabalhar e em que fui obrigado a aperceber-me de que há um mundo real onde as pessoas têm que ganhar dinheiro para continuarem a sobreviver, fui-me dando conta de como as minhas ilusões se foram desvanecendo à medida que os projectos iam amadurecendo e isso ia criando uma certa amargura que espero não ser irremediável ou irreversível.

Da biblioteca o cepticismo intelectual em relação a muitas das pessoas que trabalham nas nossas bilbiotecas e outros órgãos culturais assim como uma certa bílis em relação aos mecanismo que a (des)função pública cria para se anular a si mesma.

Do hostel a crueldade impiedosa das pessoas quando têm a liberdade para criticar e avaliar o trabalho alheio.

Do mundo dos contos uma certa desconfiança de parcerias depois de ter sido roubado financeira e intelectualmente por quem não tem escrúpulos enquanto narra a possibilidade de um mundo novo.

De Portugal... será mesmo preciso dizer?

Do tasco em Hamburgo da competição desenfreada e desleal  promovida pelo sistema germânico depois de ter tido parte do menú copiado com leve alteração de preços por parte da padaria da esquina.

É verdade que tudo isto são coisas que nos ajudam a crescer, da mesma forma que tenho a certeza que também eu já terei sido causador de amarguras alheias (ou se calhar estou-me a ter demasiado em conta...) .

Mas sei que no final, todos estes mundos me trouxeram igualmente alegrias inimagináveis mantendo em mim vivo um certo idealismo (com tudo o que de naïve ele acarreta) e, sobretudo, os sustos e sobressaltos que o amor nos leva a atravessar.

Para o bem e para o mal.

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