Eis que no espaço de um único mês a Alemanha, bravamente através dos seus cidadãos, conseguiu revelar que é possível ser um local onde as pessoas podem viver e até sorrir (nao sempre, entenda-se!). Três foram os projectos que vieram ao meu encontro deixando-me tudo menos indiferente.
O primeiro surgiu de um dos vizinhos que afirmou estar a tentar viver um mes inteiro sem comprar nada que tenha plástico. Seduzido pela ideia nao hesitei em partilhá-la no facebook recebendo muita e geral apreciacao. Contudo, duvido seriamente que alguém tenha seguido o meu desafio pois eu próprio desisti no segundo dia e nao recebi mais nenhum feedback de ninguém. Ou entao encontram-se em debilitado estado de saude depois de nao terem conseguido comprar alimentos suficientes para garantir o mais básico nível de sobrevivencia. O vizinho, esse, confessou-me passadas duas semanas que estava a ter problemas para conseguir encontrar papel higiénico. Claro está que estive para lhe cantarolar aquela versao da nossa infancia "nao faz mal, limpa-se ao jornal", mas acabei por nao o fazer pois a beleza poética da coisa perder-se-ia na traducao.
O segundo projecto que me impressionou foi o da Igreja do Silencio. Um pouco à semelhanca do que acontece em Taizé, existe em Hamboich uma igreja praticamente nua onde reina um silencio contangiante. Ao contrário das outras igrejas esta encontra-se aberta num horário razoável e é uma fuga excelente depois de se sobreviver às passadeiras de uma das mais movimentadas ruas de Altona.
O terceiro projecto vem da Zentralbibliothek, já previamente elogiada neste espaco. Ora bem, tendo os referidos senhores uma série de livros extra e que já nao encontram espaco dentro das paredes do edifício, qual a solucao? Vende-los a 1€, pois claro. Aqui os livros nao se abatem, vendem-se. Entre Murakami, Saramago ou Le Clézio foram 19 os que comprei. Preco? 15€, mostrando que esta gente das humanidades nao se dá bem com matemática, mas até se safam com a alegria de viver.
domingo, 23 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Ah, da vida
... hemos perdido en cien anos las mejores virtudes humanas del siglo XIX: el idealismo febril y la prioridad de los sentimientos: el susto del amor. García Márquez
Ora bem, foi preciso chegar aos quase 32 anos para o García Márquez me dizer isto e matar, de uma vez por todas as minhas ténues ilusões em relação à humanidade. Claro está que o facto de isto ter sido escrito e publicamente proferido em 1985 nada tem que ver com este atraso na transmissão da mensagem, pois acredito piamente que tudo o que de bom se escreve no mundo é feito única e exclusivamente para mim. Assim sendo, acabo de substituir o Maradona no lugar de pessoa com o maior ego à face da terra.
Seja como for, não deixa de me chocar saber da perda destas virtudes. Surpreendente? Não. Triste só o reconhecer agora e através da leitura de uma oralidade? Talvez.
Ao longo dos anos desde que comecei a trabalhar e em que fui obrigado a aperceber-me de que há um mundo real onde as pessoas têm que ganhar dinheiro para continuarem a sobreviver, fui-me dando conta de como as minhas ilusões se foram desvanecendo à medida que os projectos iam amadurecendo e isso ia criando uma certa amargura que espero não ser irremediável ou irreversível.
Da biblioteca o cepticismo intelectual em relação a muitas das pessoas que trabalham nas nossas bilbiotecas e outros órgãos culturais assim como uma certa bílis em relação aos mecanismo que a (des)função pública cria para se anular a si mesma.
Do hostel a crueldade impiedosa das pessoas quando têm a liberdade para criticar e avaliar o trabalho alheio.
Do mundo dos contos uma certa desconfiança de parcerias depois de ter sido roubado financeira e intelectualmente por quem não tem escrúpulos enquanto narra a possibilidade de um mundo novo.
De Portugal... será mesmo preciso dizer?
Do tasco em Hamburgo da competição desenfreada e desleal promovida pelo sistema germânico depois de ter tido parte do menú copiado com leve alteração de preços por parte da padaria da esquina.
É verdade que tudo isto são coisas que nos ajudam a crescer, da mesma forma que tenho a certeza que também eu já terei sido causador de amarguras alheias (ou se calhar estou-me a ter demasiado em conta...) .
Mas sei que no final, todos estes mundos me trouxeram igualmente alegrias inimagináveis mantendo em mim vivo um certo idealismo (com tudo o que de naïve ele acarreta) e, sobretudo, os sustos e sobressaltos que o amor nos leva a atravessar.
Para o bem e para o mal.
Ora bem, foi preciso chegar aos quase 32 anos para o García Márquez me dizer isto e matar, de uma vez por todas as minhas ténues ilusões em relação à humanidade. Claro está que o facto de isto ter sido escrito e publicamente proferido em 1985 nada tem que ver com este atraso na transmissão da mensagem, pois acredito piamente que tudo o que de bom se escreve no mundo é feito única e exclusivamente para mim. Assim sendo, acabo de substituir o Maradona no lugar de pessoa com o maior ego à face da terra.
Seja como for, não deixa de me chocar saber da perda destas virtudes. Surpreendente? Não. Triste só o reconhecer agora e através da leitura de uma oralidade? Talvez.
Ao longo dos anos desde que comecei a trabalhar e em que fui obrigado a aperceber-me de que há um mundo real onde as pessoas têm que ganhar dinheiro para continuarem a sobreviver, fui-me dando conta de como as minhas ilusões se foram desvanecendo à medida que os projectos iam amadurecendo e isso ia criando uma certa amargura que espero não ser irremediável ou irreversível.
Da biblioteca o cepticismo intelectual em relação a muitas das pessoas que trabalham nas nossas bilbiotecas e outros órgãos culturais assim como uma certa bílis em relação aos mecanismo que a (des)função pública cria para se anular a si mesma.
Do hostel a crueldade impiedosa das pessoas quando têm a liberdade para criticar e avaliar o trabalho alheio.
Do mundo dos contos uma certa desconfiança de parcerias depois de ter sido roubado financeira e intelectualmente por quem não tem escrúpulos enquanto narra a possibilidade de um mundo novo.
De Portugal... será mesmo preciso dizer?
Do tasco em Hamburgo da competição desenfreada e desleal promovida pelo sistema germânico depois de ter tido parte do menú copiado com leve alteração de preços por parte da padaria da esquina.
É verdade que tudo isto são coisas que nos ajudam a crescer, da mesma forma que tenho a certeza que também eu já terei sido causador de amarguras alheias (ou se calhar estou-me a ter demasiado em conta...) .
Mas sei que no final, todos estes mundos me trouxeram igualmente alegrias inimagináveis mantendo em mim vivo um certo idealismo (com tudo o que de naïve ele acarreta) e, sobretudo, os sustos e sobressaltos que o amor nos leva a atravessar.
Para o bem e para o mal.
Subscrever:
Mensagens (Atom)