quarta-feira, 6 de junho de 2012

O homem do Olá

Se durante muitos anos Lisboa teve o Senhor do Adeus, é com algum orgulho que anuncio aos meus queridos concidadãos que agora temos o homem do Olá.
De origem alemã, Stefan apareceu aqui pelo hostel há coisa de um mês sem reserva. Como eu não estava, resolveu sentar-se na sala, ligar-se ao meu wifi e fazer uma reserva por dois dias. Quando cheguei e me deparei com um primeiro "olá" pronunciado numa mistura perfeita entre o alemão e o espanhol, pensei cá para comigo que isto prometia.
Passados os dois dias pediu-me para ficar mais um, pois estava à espera de um mail de uma amiga que vivia em Coimbra. E assim foi no dia seguinte. E no outro. E a seguir. E assim se passou já um mês.
Detentor de um riso histérico capaz de acordar o mais profundo dos mortos do Alto de São João, o Stefan é capaz de dizer Olá sempre que vê alguém, mesmo que seja a 5ª vez que o vê no espaço de 12 minutos, tornando-o num rival à maneira do Senhor do Adeus.
Além do mais o Holaaaaaa que produz é estridente e acompanhado de um sorriso de olhar vesgo de um antropólogo que se sente feliz perante a descoberta de uma nova tribo canibal da Papua Nova-Guiné. 
Como qualquer hóspede que fica mais do que o tempo normal, o homem do Olá já está a adquirir hábitos e manhas capazes de me tirar do sério.
Entre o lavar a sua própria roupa na casa de banho com o gel que disponibilizo para as mãos e que em seguida fermenta no quarto produzindo um cheiro nojento (nojento, ai que belo eufemismo), passando pelo facto de se levantar 3 minutos antes do fim do pequeno-almoço ou a forma douta como se apropria de grande parte dos hóspedes que vão surgindo por aqui e lhes vai explicando coisas sobre esta nossa Lisboa embora quase nunca saia do hostel.
Pois hoje de manhã resolvi antecipar-me e tirar o pequeno-almoço quatro minutos antes da hora.
Um minuto depois ouço os passos apressados do alemão a correr corredor abaixo apenas para descobrir que já não havia pequeno-almoço.
Chamem-me mesquinho, mas hoje o Olá perdeu o tom estridente e os olhos parte do brilho de antropólogo como quem acaba de descobrir que só é giro estar numa tribo de canibais até ao momento em que eles nos comem um pé ao lanche.

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