Às vezes recebem-se por estas bandas abençoadas personagens capazes de lutar de forma digna por um lugar nos romances do Murakami.
Se no post anterior vos descrevi de forma séria e imparcial o homem do Olá, hoje falo-vos de uma senhora inglesa dos seus 50 anos que fez da digna jogatana de se embriagar nos mais escuros cantos do hostel a sua actividade principal nos dias que por aqui ficou.
E que acontece quando se juntam dois personagens?
Era de manhã cedo, o meu metabolismo tentava ainda assimilar a total beleza gustativa de um Lapsang Souchong quando oiço o homem do Olá a informar a britânica senhora que o chá faz mal porque tem muitos químicos derivados do tipo de plantação praticado por países subdesenvolvidos como o Quénia ou o Paquistão.
(Que pena que a Alemanha não plante chá...)
Antes ainda de conseguir fazer uma ressalva para a qualidade do chá da Gorreana, defendendo-o como a mais pura flor do Lácio dos chás, já a senhora lhe tinha respondido categoricamente que se calasse e não dissesse disparates.
Mas olhe que tenho razão...
Mas a teína é boa para a saúde
Mas os químicos que são utilizados
Mas isso também na água
Não é a mesma coisa
Ai não?
Resolvo abandonar a cozinha pois manda-me o senso comum não me pôr entre alemães e ingleses sob risco de ainda entrar para a família real britânica e eu cá não gosto de promiscuidades com essa gente.
É então que a sala é invadida por ruídos ainda mais fortes. Resolvo entrar na cozinha tal qual Estados Unidos no Iraque para acabar com aquela macacada.
Mas olhe que a nicotina faz bem.
Muahahahahaha. Cigarros?
Claro! O problema são os químicos que lhes põem.
Os cigarros matam! Vem nos maços.
Isso é porque não fumas.
E neste momento resolvi abandonar de vez as instalações do hostel esperando que sunitas e xiitas decidissem de forma bíblica se Maomé marcaria o penálti na final do campeonato do mundo com o pé direito ou com o esquerdo .
Quando regressei já nenhum dos dois estava e a paz reinava como nunca. E aparentemente criei uma solução-metáfora para a política externa norte-americana, enquanto encho os pulmões com o ar de cimo da colina e beberico um pouco mais de chá...
quarta-feira, 20 de junho de 2012
quarta-feira, 6 de junho de 2012
O homem do Olá
Se durante muitos anos Lisboa teve o Senhor do Adeus, é com algum orgulho que anuncio aos meus queridos concidadãos que agora temos o homem do Olá.
De origem alemã, Stefan apareceu aqui pelo hostel há coisa de um mês sem reserva. Como eu não estava, resolveu sentar-se na sala, ligar-se ao meu wifi e fazer uma reserva por dois dias. Quando cheguei e me deparei com um primeiro "olá" pronunciado numa mistura perfeita entre o alemão e o espanhol, pensei cá para comigo que isto prometia.
Passados os dois dias pediu-me para ficar mais um, pois estava à espera de um mail de uma amiga que vivia em Coimbra. E assim foi no dia seguinte. E no outro. E a seguir. E assim se passou já um mês.
Detentor de um riso histérico capaz de acordar o mais profundo dos mortos do Alto de São João, o Stefan é capaz de dizer Olá sempre que vê alguém, mesmo que seja a 5ª vez que o vê no espaço de 12 minutos, tornando-o num rival à maneira do Senhor do Adeus.
Além do mais o Holaaaaaa que produz é estridente e acompanhado de um sorriso de olhar vesgo de um antropólogo que se sente feliz perante a descoberta de uma nova tribo canibal da Papua Nova-Guiné.
Como qualquer hóspede que fica mais do que o tempo normal, o homem do Olá já está a adquirir hábitos e manhas capazes de me tirar do sério.
Entre o lavar a sua própria roupa na casa de banho com o gel que disponibilizo para as mãos e que em seguida fermenta no quarto produzindo um cheiro nojento (nojento, ai que belo eufemismo), passando pelo facto de se levantar 3 minutos antes do fim do pequeno-almoço ou a forma douta como se apropria de grande parte dos hóspedes que vão surgindo por aqui e lhes vai explicando coisas sobre esta nossa Lisboa embora quase nunca saia do hostel.
Pois hoje de manhã resolvi antecipar-me e tirar o pequeno-almoço quatro minutos antes da hora.
Um minuto depois ouço os passos apressados do alemão a correr corredor abaixo apenas para descobrir que já não havia pequeno-almoço.
Chamem-me mesquinho, mas hoje o Olá perdeu o tom estridente e os olhos parte do brilho de antropólogo como quem acaba de descobrir que só é giro estar numa tribo de canibais até ao momento em que eles nos comem um pé ao lanche.
De origem alemã, Stefan apareceu aqui pelo hostel há coisa de um mês sem reserva. Como eu não estava, resolveu sentar-se na sala, ligar-se ao meu wifi e fazer uma reserva por dois dias. Quando cheguei e me deparei com um primeiro "olá" pronunciado numa mistura perfeita entre o alemão e o espanhol, pensei cá para comigo que isto prometia.
Passados os dois dias pediu-me para ficar mais um, pois estava à espera de um mail de uma amiga que vivia em Coimbra. E assim foi no dia seguinte. E no outro. E a seguir. E assim se passou já um mês.
Detentor de um riso histérico capaz de acordar o mais profundo dos mortos do Alto de São João, o Stefan é capaz de dizer Olá sempre que vê alguém, mesmo que seja a 5ª vez que o vê no espaço de 12 minutos, tornando-o num rival à maneira do Senhor do Adeus.
Além do mais o Holaaaaaa que produz é estridente e acompanhado de um sorriso de olhar vesgo de um antropólogo que se sente feliz perante a descoberta de uma nova tribo canibal da Papua Nova-Guiné.
Como qualquer hóspede que fica mais do que o tempo normal, o homem do Olá já está a adquirir hábitos e manhas capazes de me tirar do sério.
Entre o lavar a sua própria roupa na casa de banho com o gel que disponibilizo para as mãos e que em seguida fermenta no quarto produzindo um cheiro nojento (nojento, ai que belo eufemismo), passando pelo facto de se levantar 3 minutos antes do fim do pequeno-almoço ou a forma douta como se apropria de grande parte dos hóspedes que vão surgindo por aqui e lhes vai explicando coisas sobre esta nossa Lisboa embora quase nunca saia do hostel.
Pois hoje de manhã resolvi antecipar-me e tirar o pequeno-almoço quatro minutos antes da hora.
Um minuto depois ouço os passos apressados do alemão a correr corredor abaixo apenas para descobrir que já não havia pequeno-almoço.
Chamem-me mesquinho, mas hoje o Olá perdeu o tom estridente e os olhos parte do brilho de antropólogo como quem acaba de descobrir que só é giro estar numa tribo de canibais até ao momento em que eles nos comem um pé ao lanche.
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