Pois há coisas estranhas a acontecerem a estas pessoas que se dedicam ao ofício da narração de estórias.
Uma dessas foi mesmo o olhar que me foi devolvido pelo Hans quando o questionei na internacional linguagem sobre o quão sensato seria entrar dentro de uma viatura conduzida por um iraniano que nunca antes tinha visto e que, na minha visão ocidental do mundo, bem que me podia retalhar e vender à embaixada portuguesa para de mim se fazerem saborosas farinheiras.
Pois entrámos. Depois de uma condução que seria capaz de deixar o mais ousado dos concorrentes das wacky races completamente esgotado de ideias para vencer o prémio final, fomos largados na Rua Ferdosi, onde se troca dinheiro na rua tal e qual se faz com os cromos da panini à entrada da estação do Rossio.
Ainda a tremer e a temer pela minha vida, fomos convidados a sair da viatura e a seguir o tal de gordinflim do post anterior que nos introduziu numa loja onde homens gritavam com maços de notas nas mãos.
De certa maneira, senti que estava a entrar num género de mercado de acções paralelo, bem no centro de uma vida intensa que se regula por leis que em nenhum lado estão escritas.
Tendo como referência o valor de câmbio 1€ - 18000 rials que tinha visto anunciado num banco, senti que não poderia ser enganado e que aquele seria um lugar sério. Às vezes temos que repetir certas coisas para nós mesmos a fim de conseguirmos acreditar nelas.
Foi então que 2 jovens se aproximaram de mim e do Hans e nos perguntaram o que queríamos num inglês de fazer inveja ao David Beckham. Ao ser confrontado com o valor que queríamos trocar, chamou um outro amigo e convidaram-nos a sair da loja, propuseram um valor de câmbio de 1€-27000 rials.
Assenti com a cabeça, tendo ainda em mente o valor anunciado no banco e logo em seguida nos encaminhamos para um multibanco em frente da embaixada alemã, onde, entre polícias armados até aos dentes e câmaras de vigilância procedemos à troca do dinheiro, despedindo-nos entre abraços e desejos de sorte na vida.
Algo me começou a dizer que havia ali uma outra gente e um outro mundo por detrás de oficialismos e visões ocidentais.
quinta-feira, 8 de março de 2012
domingo, 4 de março de 2012
De como se troca dinheiro
Os incautos iranianos acordaram-me depois de apenas ter dormido 4 horas. Desconheciam eles o facto de que não havia fúria divina que se comparasse com o meu mau humor matinal.
Não sei como, saí da cama e prontamente ignorei o pedido para me despachar.
Pedi um banho. Responderam que não dava tempo. Desapareci dentro da casa de banho.
Sei que ao incauto leitor este é um acontecimento normal e banal e que até passa despercebido, mas posso-vos garantir que mais desaparecimentos ocorrerão em posts futuros.
Foram-me buscar à casa de banho com kind requests para me despachar, o que desde logo traduzi nesta minha linguagem ocidental como: é bom que te ponhas a fresco antes que te façamos a ti o mesmo que fazemos às rameiras que cometem adultério.
Obedeci.
Fui apresentado a um dinamarquês.
Fui apresentado à responsável daquilo tudo.
Fui apresentado a um tipo qualquer que era não sei quê.
Abracei com marcado sorriso o simpático motorista que no dia anterior me tinha resgatado do aeroporto.
Fui levado ao bazaar, mergulhado no mais profundo e belo caos onde fui confrontado com dura realidade: Não tenho dinheiro e sempre que a tradução surgia com preços em Euros, todo eu duvidava de serem aqueles os preços reais.
Urgia então trocar dinheiro.
A seguir a um faustoso almoço, provi-me da companhia do dinamarquês e partimos rumo à rua Ferdosi citando os seus poemas numa clara competição intelectual apenas comparável com um Portugal Dinamarca de há uns anos quando o Figo marcou um esplendoroso golo ao Schmeichel.
E tão embrenhados estávamos nestas lides que nos perdemos.
Entrámos num Kebab e perguntámos onde podíamos trocar dinheiro.
O tipo que lá estava a trabalhar sai da loja a correr e eu pensei: já está! Vão chamar a Santa Brigada anti-estrangeiros, esquartejam-nos em 5 minutos e em breve rivalizaremos com o kebab de borrego. Mas não. Passado um bocado apareceu-nos um bonacheirão que logo franziu a cara quando lhe dissemos quanto dinheiro queríamos trocar. Fez-nos gestos para que esperássemos ali mesmo. Aha! Agora é que ele foi chamar a tal de brigada, pensei.
Não. Foi chamar um amigo que nos convidou a entrar no seu carro e...
(To be continued)
Obedeci.
Fui apresentado a um dinamarquês.
Fui apresentado à responsável daquilo tudo.
Fui apresentado a um tipo qualquer que era não sei quê.
Abracei com marcado sorriso o simpático motorista que no dia anterior me tinha resgatado do aeroporto.
Fui levado ao bazaar, mergulhado no mais profundo e belo caos onde fui confrontado com dura realidade: Não tenho dinheiro e sempre que a tradução surgia com preços em Euros, todo eu duvidava de serem aqueles os preços reais.
Urgia então trocar dinheiro.
A seguir a um faustoso almoço, provi-me da companhia do dinamarquês e partimos rumo à rua Ferdosi citando os seus poemas numa clara competição intelectual apenas comparável com um Portugal Dinamarca de há uns anos quando o Figo marcou um esplendoroso golo ao Schmeichel.
E tão embrenhados estávamos nestas lides que nos perdemos.
Entrámos num Kebab e perguntámos onde podíamos trocar dinheiro.
O tipo que lá estava a trabalhar sai da loja a correr e eu pensei: já está! Vão chamar a Santa Brigada anti-estrangeiros, esquartejam-nos em 5 minutos e em breve rivalizaremos com o kebab de borrego. Mas não. Passado um bocado apareceu-nos um bonacheirão que logo franziu a cara quando lhe dissemos quanto dinheiro queríamos trocar. Fez-nos gestos para que esperássemos ali mesmo. Aha! Agora é que ele foi chamar a tal de brigada, pensei.
Não. Foi chamar um amigo que nos convidou a entrar no seu carro e...
(To be continued)
Subscrever:
Mensagens (Atom)