Uma das mais comuns ideias de toda esta longa e penosa história da crise e dos cortes é de que Portugal gasta muito dinheiro do herário público. E talvez seja verdade. Em comparacao com esta Alemanha onde vivo há tres dados quase chocantes onde se prova que os portugueses se comportam como novos ricos esbanjadores.
1 - Iluminacao pública
Nao se percebe porque é que Portugal nao adopta o modelo alemao de apenas iluminar as estradas de cinquenta em cinquenta metros deixando os peoes e os ciclistas à merce de buracos e de jovens com pouco cabelo que gostam de aplicar pontapés com alguma forca a estrangeiros e nao só. A pouca iluminacao que existe nas ruas deriva simpaticamente dos comerciantes que deixam as luzes dos estabelecimentos ligadas ou a das entradas dos prédios. No caso do meu que já nao tem luz há coisa de seis meses, compreende-se que aparentemente também nao faz falta pois tenho conseguido entrar em casa com maior ou menor facilidade.
2 - Polícia
Caso um indivíduo seja vítima dos tais pontapés supracitados ou de um mero roubo à noite pode-se dirigir à esquadra de polícia mais próxima e irá muito provavelmente encontrá-la fechada. Tendo Hamburgo quase dois milhoes de habitantes, compreende-se perfeitamente que à noite só um par de esquadras estejam abertas. Afinal, a polícia é um servico público e nao serve para andar por aí a ganhar horas extraordinárias à parva. No meu caso, a esquadra nocturna mais próxima encontra-se a seis quilómetros. Claro está que já me imaginei a ser roubado à entrada de casa, ficar sem carteira, arrastar-me para o metro para ir até Hauptbanhof à esquadra e ser apanhado pelos picas no metro e acabar a noite na prisao por nao ter comigo qualquer título de transporte. Pelo menos teria companhia até à esquadra, que é coisa que nos dias de hoje vale ouro.
3 - Limpeza
A limpeza das ruas é da responsabilidade de cada prédio e de tempos a tempos lá se ve alguém a varrer os tres metros quadrados que correspondem à entrada do prédio. As zonas peatonais onde nao há prédios sao limpas ocasionalmente quando a rainha de Inglaterra faz anos ou o St. Pauli consegue derrotar o Bayern (casos de 2002, 1991 e 1949). Estando nós no Outono as folhas vao-se pois acumulando de forma selvagem escondendo o lixo anteriormente colecionado com bastante carinho. Ah, esqueci-me apenas de mencionar que nao é de todo incomum ver as pessoas as varrerem o lixo directamente para a estrada pois apanhá-lo pode provocar um conjunto de complicacoes físicas nada prazenteiras e isto os tempos nao estao para brincadeiras.
Estou confiante que caso Portugal aplique estas medidas, se pouparia muito e bom dinheirinho, tao precioso nos dias que correm. Estou até a pensar em propor aos nossos dirigentes a adopcao imediata destas medidas e verao como voltaremos a ser grandes e a dar cartas no negócio das especiarias.
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Da ausencia da metrópole
Esperando o metro
às vezes me soa
que a soma das vozes
à minha volta
é igual ao portugues
silencioso da minha terra natal
(em santarém nao se chega nunca
a falar,
murmura-se apenas).
Sinto um cochicho de ondas a descerem-me o pescoco
causando aquele arrepio
no qual me costumava aconchegar
quando aprendia os significados
da vida à minha volta.
Entrando na carruagem que
me leva a destinos que
decifro cada vez mais,
fecho os olhos e
ignoro as pessoas à minha volta
como se de bons amigos se tratassem.
às vezes me soa
que a soma das vozes
à minha volta
é igual ao portugues
silencioso da minha terra natal
(em santarém nao se chega nunca
a falar,
murmura-se apenas).
Sinto um cochicho de ondas a descerem-me o pescoco
causando aquele arrepio
no qual me costumava aconchegar
quando aprendia os significados
da vida à minha volta.
Entrando na carruagem que
me leva a destinos que
decifro cada vez mais,
fecho os olhos e
ignoro as pessoas à minha volta
como se de bons amigos se tratassem.
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Heimat stadt
Uma das obsessões das germânicas gentes prende-se com o conceito de heimat stadt. Claro está que poderia ser um querido e traduzi-lo directamente para português com um cidade natal mas, como muitos tradutores o saberão e poderão sabiamente afiançar, o poder do significado nem sempre é igual. Tirando o facto de que penso sempre em cidade natal como o sítio onde celebrei o último natal, o conceito de heimat stadt para os alemães é algo que os transporta para um sem número de ideias pré-feitas capaz de me excluir directamente dos 11 eleitos para figurar na equipa da semana pese embora tenha assinado um hat-trick e uma exibição de alto nível.
Tendo o café onde as minhas ossadas pousam dia após dia uma série de fotografias na parede a fim de fazer exercitar as mentes dos que aqui ousam entrar, claro está que já me perguntaram se alguma delas correspondia à minha heimat stadt. Sim, respondi eu a uma senhora de alguma idade. Esta, apontei. Recebi um sorriso aprovador com aquele sentimento paternalista que só um alemão consegue conceder em relação a um nativo do sul da Europa. Ah, e esta, disse apontando para uma fotografia de Varsóvia a preto e branco com um Trabi estacionado em frente de um prédio de outros tempos. Como boa alemã, a senhora não conseguiu esconder alguma estranheza e antes mesmo que conseguisse reagir, apontei para uma outra que tirei no Tarrafal. E para uma em Lisboa. E logo outra em Hamburgo.
Perante tamanha oferta de locais ela pediu a conta e deixou-me com esta profunda ideia de que a minha heimat stadt não é Santarém, mas sim essa mistura quase infinita de sítios por onde já passei e que me marcaram de forma indelével.
Tentei explicar isto. Ela deu gorjeta e saíu.
Na semana seguinte regressaria ao café com um sorriso estranho estampado no rosto quase me dando vontade de lhe perguntar qual é que era a sua heimat stadt.
Tendo o café onde as minhas ossadas pousam dia após dia uma série de fotografias na parede a fim de fazer exercitar as mentes dos que aqui ousam entrar, claro está que já me perguntaram se alguma delas correspondia à minha heimat stadt. Sim, respondi eu a uma senhora de alguma idade. Esta, apontei. Recebi um sorriso aprovador com aquele sentimento paternalista que só um alemão consegue conceder em relação a um nativo do sul da Europa. Ah, e esta, disse apontando para uma fotografia de Varsóvia a preto e branco com um Trabi estacionado em frente de um prédio de outros tempos. Como boa alemã, a senhora não conseguiu esconder alguma estranheza e antes mesmo que conseguisse reagir, apontei para uma outra que tirei no Tarrafal. E para uma em Lisboa. E logo outra em Hamburgo.
Perante tamanha oferta de locais ela pediu a conta e deixou-me com esta profunda ideia de que a minha heimat stadt não é Santarém, mas sim essa mistura quase infinita de sítios por onde já passei e que me marcaram de forma indelével.
Tentei explicar isto. Ela deu gorjeta e saíu.
Na semana seguinte regressaria ao café com um sorriso estranho estampado no rosto quase me dando vontade de lhe perguntar qual é que era a sua heimat stadt.
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Cidades Imaginárias (ou de como quase se rouba um título ao Calvino assim à descarada)
Quantas cidades nos cabem na cabeça?
Desde o regresso a Lisboa que não deixo de pensar nisto.
Uma vez mais atrasado e tentando cumprir um calendário desproporcionado de reencontros e cafés suficientes para me manter acordado durante algumas semanas dou por mim a pensar no melhor caminho para o Chiado. Rua do Paraíso e depois? Subo pela Sé para logo descer ou dou a volta por baixo, Campo das Cebolas, Cais de Santarém e por aí? Num momento um mapa de Lisboa abriu-se dentro de mim como se diante estivesse. Corri para mais um encontro sem hesitar nem por um instante nos caminhos a seguir.
Já antes as ruas de Santarém me tinham albergado em passeios onde consegui calcular onde haveria sombra em plena tarde assim evitando o impiedoso sol ribatejanno. Coimbra e Porto também pareceram não me esconder grandes dificuldades. Recordava ainda com infinito carinho o caminho para o Piolho ou as sinuosas ruas da Sé velha até à Universidade.
De regresso a Hamburgo dou comigo a calcular apanhar o U1 até Wandsbek Markt, o 23 até Horner Rennbahn e talvez o 213 até Hasencleverstrasse.
A somar às cidades que posso dizer que conheço e cujas ruas não me são, de todo, indiferentes pelo facto de a elas associar um sem número de memórias espaçadas em tempos de narração interna incoerentes como o são todas elas, há ainda as cidades nas quais deixei a fantasia tomar alegremente conta das memórias: uma Varsóvia onde o palácio de Wilanow até que bem que se poderia avistar do jardim que serve de telhado à biblioteca da Universidade, uma Istambul onde a Mesquita Azul está ali mesmo ao lado do Grande Bazar ou até mesmo uma cidade da Praia onde se pode mergulhar directamente do Plateau para as águas azuis do atlântico.
A todas estas cidades há ainda que juntar as cidades que foram crescendo dentro de mim sem que nunca lá tenha estado. Há uma Buenos Aires onde o Borges ainda anda a beber café, uma Montevideo onde facilmente se pode tomar uma cerveja com o Galeano ou discutir agricultura com o Mujica num desses intermináveis cafés com bancos de madeira onde ainda se fumarão charutos que desenharão no ar palavras de Onetti a jeito de promoção e dignificação das artes. Também por entre fumo seria possível falar com o Ginsberg em São Francisco na City Lights. Poderia até dar um pulinho de fim de semana a Big Sur e beber com o Kerouac enquanto haikus surgirião da sua boca com o bater das ondas nas rochas como música de fundo. O cheiro do mar seria igual ao de Ofir.
Como estas há muitas outras cidades onde conheço ou julgo conhecer ruas e cheiros, guiando-me de forma inconsciente de forma a garantir o prazer máximo de se usufruir de espaços que mexem connosco, nos fazem sonhar, querer viver mais e mais, ler mais, ser mais.
Mas no fundo há uma questão que me tem acompanhado nestes últimos tempos:
Quantas cidades nos caberão na cabeça?
Desde o regresso a Lisboa que não deixo de pensar nisto.
Uma vez mais atrasado e tentando cumprir um calendário desproporcionado de reencontros e cafés suficientes para me manter acordado durante algumas semanas dou por mim a pensar no melhor caminho para o Chiado. Rua do Paraíso e depois? Subo pela Sé para logo descer ou dou a volta por baixo, Campo das Cebolas, Cais de Santarém e por aí? Num momento um mapa de Lisboa abriu-se dentro de mim como se diante estivesse. Corri para mais um encontro sem hesitar nem por um instante nos caminhos a seguir.
Já antes as ruas de Santarém me tinham albergado em passeios onde consegui calcular onde haveria sombra em plena tarde assim evitando o impiedoso sol ribatejanno. Coimbra e Porto também pareceram não me esconder grandes dificuldades. Recordava ainda com infinito carinho o caminho para o Piolho ou as sinuosas ruas da Sé velha até à Universidade.
De regresso a Hamburgo dou comigo a calcular apanhar o U1 até Wandsbek Markt, o 23 até Horner Rennbahn e talvez o 213 até Hasencleverstrasse.
A somar às cidades que posso dizer que conheço e cujas ruas não me são, de todo, indiferentes pelo facto de a elas associar um sem número de memórias espaçadas em tempos de narração interna incoerentes como o são todas elas, há ainda as cidades nas quais deixei a fantasia tomar alegremente conta das memórias: uma Varsóvia onde o palácio de Wilanow até que bem que se poderia avistar do jardim que serve de telhado à biblioteca da Universidade, uma Istambul onde a Mesquita Azul está ali mesmo ao lado do Grande Bazar ou até mesmo uma cidade da Praia onde se pode mergulhar directamente do Plateau para as águas azuis do atlântico.
A todas estas cidades há ainda que juntar as cidades que foram crescendo dentro de mim sem que nunca lá tenha estado. Há uma Buenos Aires onde o Borges ainda anda a beber café, uma Montevideo onde facilmente se pode tomar uma cerveja com o Galeano ou discutir agricultura com o Mujica num desses intermináveis cafés com bancos de madeira onde ainda se fumarão charutos que desenharão no ar palavras de Onetti a jeito de promoção e dignificação das artes. Também por entre fumo seria possível falar com o Ginsberg em São Francisco na City Lights. Poderia até dar um pulinho de fim de semana a Big Sur e beber com o Kerouac enquanto haikus surgirião da sua boca com o bater das ondas nas rochas como música de fundo. O cheiro do mar seria igual ao de Ofir.
Como estas há muitas outras cidades onde conheço ou julgo conhecer ruas e cheiros, guiando-me de forma inconsciente de forma a garantir o prazer máximo de se usufruir de espaços que mexem connosco, nos fazem sonhar, querer viver mais e mais, ler mais, ser mais.
Mas no fundo há uma questão que me tem acompanhado nestes últimos tempos:
Quantas cidades nos caberão na cabeça?
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
Olha outro poema do Pacheco
Porquanto o teu olhar sejam pontes
andarei entre cá e lá
julgando ler esperanças
nas fantasias que se esfumam.
Sorrio, não.
Desrio-me em cerveja
tentando sei lá tudo.
Amanhã espero acordar
e voltar a ser.
andarei entre cá e lá
julgando ler esperanças
nas fantasias que se esfumam.
Sorrio, não.
Desrio-me em cerveja
tentando sei lá tudo.
Amanhã espero acordar
e voltar a ser.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Festival por terras germânico-dinamarquesas
Ainda com um jet lag existencial aterrei num comboio rumo a Niebull para ir para mais um festival.
À minha espera na estação de comboios estava uma educada senhora num volkswagen azul de inícios dos anos 90 e que desde logo me afiançou que o espírito do festival só se equiparava aos que houve em 71 quando o Jimi Hendrix ainda estava vivo. O facto de ele ter morrido em 1970 afiançou-me desde logo muita coisa fazendo-me esperar o melhor.
Herr Lôpez, ouvi enquanto saía do carro agradecendo a todos os antigos deuses egípcios o facto de ter chegado são e salvo ao local do festival.
De forma germânica fui intimidado a ir fazer o soundcheck que logo se tratava de me instalarem ignorando o real peso de umas malas que, mais que tudo, tinham uma identidade lusitana dentro.
Contar em inglês, reabituar-me às tão distintas reacções do público alemão e o tal de jet lag existencial aqui a martelar de forma constante foram barreiras que tiveram que ser vencidas nos primeiros 23 segundos, tempo de tolerância oferecido por qualquer público.
Ainda sem saber o impacto desta primeira sessão de contos de regresso a terras germânicas, vi-me a invadir uma tenda de circo com comida à qual só se tinha acesso mediante comprovativo de artista. No caso, uma pulseirita vermelha apertada de forma a cortar-me ao de leve a circulação sanguínea que isto esta gente não faz a coisa por menos.
Ao ser recebido por olhares frios não pude deixar de sentir que isto há gente que está para a simpatia como Hamburgo está para o sol e bom tempo. Mas ribatexano que se preze não se deixa intimidar nunca. Hora após hora regressei à tenda conquistando pedacinhos de pão com queijo e até um copo de água. No pequeno-almoço do segundo dia até ousei pedir café. Responderam um não sei quê e fui-me embora derrotado. Um desânimo profundo conquistou a minha alma. À saída da tenda apercebi-me que não era aquele o sítio para os artistas irem comer mas uma outra tenda ao lado onde me esperava um generoso buffet. Talvez, mas só por talvez ter andado a comer o que estava reservado à mocidade do circo é que me tinham sido dirigidos tão simpáticos olhares.
A acabar o segundo dia de festival e continuando eu de roda do buffet dou com dois jovens ingleses a meterem conversa, coisa assaz rara por parte das gentes da organização cuja única coisa que me iam perguntando era se tinha as minhas pulseiras que comprovavam a minha existência.
Quando dou por mim reparo que eram nem mais nem menos que estes mocitos:
https://www.youtube.com/watch?v=E8QpV8_WjrI
Já com a chuva a fazer-me lembrar de que é inerente à condição humana uma pessoa molhar-se e que isso pode acontecer mesmo sendo verão, lá vi o concerto enquanto pensava se a minha tenda ainda estaria montada ou já teria navegado qual caravela rumo a terras mais amenas.
À minha espera na estação de comboios estava uma educada senhora num volkswagen azul de inícios dos anos 90 e que desde logo me afiançou que o espírito do festival só se equiparava aos que houve em 71 quando o Jimi Hendrix ainda estava vivo. O facto de ele ter morrido em 1970 afiançou-me desde logo muita coisa fazendo-me esperar o melhor.
Herr Lôpez, ouvi enquanto saía do carro agradecendo a todos os antigos deuses egípcios o facto de ter chegado são e salvo ao local do festival.
De forma germânica fui intimidado a ir fazer o soundcheck que logo se tratava de me instalarem ignorando o real peso de umas malas que, mais que tudo, tinham uma identidade lusitana dentro.
Contar em inglês, reabituar-me às tão distintas reacções do público alemão e o tal de jet lag existencial aqui a martelar de forma constante foram barreiras que tiveram que ser vencidas nos primeiros 23 segundos, tempo de tolerância oferecido por qualquer público.
Ainda sem saber o impacto desta primeira sessão de contos de regresso a terras germânicas, vi-me a invadir uma tenda de circo com comida à qual só se tinha acesso mediante comprovativo de artista. No caso, uma pulseirita vermelha apertada de forma a cortar-me ao de leve a circulação sanguínea que isto esta gente não faz a coisa por menos.
Ao ser recebido por olhares frios não pude deixar de sentir que isto há gente que está para a simpatia como Hamburgo está para o sol e bom tempo. Mas ribatexano que se preze não se deixa intimidar nunca. Hora após hora regressei à tenda conquistando pedacinhos de pão com queijo e até um copo de água. No pequeno-almoço do segundo dia até ousei pedir café. Responderam um não sei quê e fui-me embora derrotado. Um desânimo profundo conquistou a minha alma. À saída da tenda apercebi-me que não era aquele o sítio para os artistas irem comer mas uma outra tenda ao lado onde me esperava um generoso buffet. Talvez, mas só por talvez ter andado a comer o que estava reservado à mocidade do circo é que me tinham sido dirigidos tão simpáticos olhares.
A acabar o segundo dia de festival e continuando eu de roda do buffet dou com dois jovens ingleses a meterem conversa, coisa assaz rara por parte das gentes da organização cuja única coisa que me iam perguntando era se tinha as minhas pulseiras que comprovavam a minha existência.
Quando dou por mim reparo que eram nem mais nem menos que estes mocitos:
https://www.youtube.com/watch?v=E8QpV8_WjrI
Já com a chuva a fazer-me lembrar de que é inerente à condição humana uma pessoa molhar-se e que isso pode acontecer mesmo sendo verão, lá vi o concerto enquanto pensava se a minha tenda ainda estaria montada ou já teria navegado qual caravela rumo a terras mais amenas.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Sobre o regressar
Depois de um mês por Portugal, o regresso à Alemanha deu-se com chuva apenas para fazer recordar que durante um mês a minha pele andou a beber sol como quem sofre de uma qualquer carência vital. Andou igualmente a beber o contacto com outras peles que me faziam tanta ou mais falta quanto o sol.
Da frustração que foi a passagem por Lisboa onde senti que nunca consegui estar com ninguém como queria à experiência intensa de três semanas num São Pedro do Rio Seco que terá menos habitantes que esta Hasencleverstrasse onde vivo.
Pelo meio ficaram deliciosas passagens anónimas por Coimbra e Porto. Matar saudades da Francesinha da Cufra ou da sandes de pernil do Guedes. Ouvir balada Coimbrã nas escadas da Sé. Regressar a uma capital do Ribatexas sob o sol escaldante que me modelou durante anos a fim.
Voltar a contar em português foi um desafio que só me senti vencer já perto do final da minha estada quando as minhas veias já estavam verdadeiramente entupidas de enchidos, pão caseiro e vinho. Difícil vida esta a que fui submetido em plena aldeia beirã! Histórias de contrabando e sacanices sem fim entre toques de calor e afecto que julgava apenas pertencerem a um país que já tinha como quimérico ou apenas de livros.
Talvez Torga, cujo diário me acompanhou neste regresso.
Contudo, não consigo deixar de agradecer a todos com quem me voltei a cruzar o prazer das palavras que contei e que me deram. Entre os votos de um regresso em breve e convites para germanices as palavras voltaram a ganhar calor dentro de mim e a vontade de viver cada instante como se de um momento único se tratasse foi quase imperial.
Em breve a Ryan Air me trouxe de regresso a este país onde contar em inglês perante um público mais frio já perto da bem mais fria Dinamarca.
Ainda meio de ressaca de tudo isto sinto-me finalmente aterrar em Hamburgo. O tempo está instável tal como, de certa forma, também eu me sinto.
Abraço-me à Rosa Montero e às suas leituras antes ainda de me entregar de volta às minhas análises antropológicas destas gentes. Não perdem pela demora.
Da frustração que foi a passagem por Lisboa onde senti que nunca consegui estar com ninguém como queria à experiência intensa de três semanas num São Pedro do Rio Seco que terá menos habitantes que esta Hasencleverstrasse onde vivo.
Pelo meio ficaram deliciosas passagens anónimas por Coimbra e Porto. Matar saudades da Francesinha da Cufra ou da sandes de pernil do Guedes. Ouvir balada Coimbrã nas escadas da Sé. Regressar a uma capital do Ribatexas sob o sol escaldante que me modelou durante anos a fim.
Voltar a contar em português foi um desafio que só me senti vencer já perto do final da minha estada quando as minhas veias já estavam verdadeiramente entupidas de enchidos, pão caseiro e vinho. Difícil vida esta a que fui submetido em plena aldeia beirã! Histórias de contrabando e sacanices sem fim entre toques de calor e afecto que julgava apenas pertencerem a um país que já tinha como quimérico ou apenas de livros.
Talvez Torga, cujo diário me acompanhou neste regresso.
Contudo, não consigo deixar de agradecer a todos com quem me voltei a cruzar o prazer das palavras que contei e que me deram. Entre os votos de um regresso em breve e convites para germanices as palavras voltaram a ganhar calor dentro de mim e a vontade de viver cada instante como se de um momento único se tratasse foi quase imperial.
Em breve a Ryan Air me trouxe de regresso a este país onde contar em inglês perante um público mais frio já perto da bem mais fria Dinamarca.
Ainda meio de ressaca de tudo isto sinto-me finalmente aterrar em Hamburgo. O tempo está instável tal como, de certa forma, também eu me sinto.
Abraço-me à Rosa Montero e às suas leituras antes ainda de me entregar de volta às minhas análises antropológicas destas gentes. Não perdem pela demora.
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