Por vezes recebo pessoas cuja idade facilmente dobra a minha.
Pois acontece que, num mesmo dia, recebi um alemão e uma russa dentro destes parâmetros.
O alemão, ostentando aquele sorriso sarcástico que tantas vezes aparece em filmes jocosos sobre a II Guerra Mundial, afirmou desde logo ser jornalista para um sem número de sítios de turismo, denunciou desde logo a sua nacionalidade ao pronunciar todos os "w" como "v" e insistir em chamar "abrói" à agência abreu.
A russa, de faiscante cabelo louro e óculos de sol a rivalizarem com os de Sofia Loren nos anos 70, aceitou, desde logo, um convite para ir à Tasca do Jaime para uma tarde de fado castiço, por parte do simpático alemão.
4 horas depois cá me apareceram no castelo com expressões em tudo opostas:
ele, claramente zangado por ter pago 22€ por uma tarde de boa música e pelo facto de ela lhe ter dito que não tinha dinheiro com ela e que lhe pagaria no dia seguinte, constituindo isso um motivo de alta desconfiança e de instauração de um inquérito das SS.
ela, com um sorriso de orelha a orelha a agradecer a recomendação de ter indicado um sítio tão castiço e típico.
O acerto de contas ficou marcado para o dia seguinte.
A russa foi passar uma última noite num hostel da zona do Marquês, deixando-me implacavelmente entregue às divagações do senhor alemão, que me acusou de não o ter avisado que um prato de tapas de queijo e presunto poderia custar 15€ e que a senhora era tão simpaticamente insistente em pôr comida e bebida na mesa, tendo levado com uma simpática resposta de que os donos do estabelecimento tinham que pagar aos músicos, pois ele também têm direito à vida.
No dia seguinte, veio-me logo perguntar a que horas estava prevista a vinda da senhora russa ao hostel. Respondi no meu melhor tom seco de quem acabou de acordar: Entre as 10 e as 11.
Às 11h05 veio ter comigo anunciando sobriamente que ela já não viria e que este povos de leste são assim mesmo e que já tinha perdido os seus 10€ e que isto há mulheres que assim vivem à custa dos homens.
Sorri de forma descontraída e quase tive para ir buscar uma nota de 10€ e enfiar-lha rabo acima. Felizmente que me foquei na lavagem da loiça.
O senhor por aqui andou até ouvir a porta tocar. Deu um pequeno salto, começou a arrumar os seus papéis.
Quando ela entrou na sala, já ele se tinha um sorriso espetado e largou um sonoro "Bonjourrrr Madame!" que a fez dar um pequeno salto de medo e ignorá-lo na medida do que ele tinha pedido.
Chateado com isto, desencadeou um sem número de ataques fazendo-me lembrar as miúdas que me apavoravam aos 12 anos, com toques de pura mesquinhez e insinuações de fazer corar as paredes.
Ao cair da noite, a senhora russa, vingou-se da mais elegante forma social gozando com ele toda um santo serão em que resolveu abrir uma garrafa de Porto e partilhá-la para com as pessoas do hostel num gesto de pura partilha, assim contrastando com a já famosa sovinice germânica.
Contudo, não se fez rogado ao deixar apenas acesa uma luz de presença e pôr Kenny G a tocar no pc aquando da primeira degustação de vinho, assim criando um ambiente do mais kinky possível, causando tremendo riso escarninho entre todos os presentes.
A este ambiente, respondeu a senhora russa com risos imensos, pedidos de música portuguesa e um sem número de perguntas sobre hábitos e costumes deste tão curioso e pacífico povo à beira-mar plantado.
Não aguentando tremendo ritmo de alegria e joie de vivre, o senhor viu-se obrigado a retirar para o seu quarto recusando entrar em tão hilariantes conversas .
Hoje de manhã havia um grande sorriso e uma cara de tremendo amuo.
Imaginem a quem pertencia cada uma...