segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Sobre o regressar

Depois de um mês por Portugal, o regresso à Alemanha deu-se com chuva apenas para fazer recordar que durante um mês a minha pele andou a beber sol como quem sofre de uma qualquer carência vital. Andou igualmente a beber o contacto com outras peles que me faziam tanta ou mais falta quanto o sol.
Da frustração que foi a passagem por Lisboa onde senti que nunca consegui estar com ninguém como queria à experiência intensa de três semanas num São Pedro do Rio Seco que terá menos habitantes que esta Hasencleverstrasse onde vivo.
Pelo meio ficaram deliciosas passagens anónimas por Coimbra e Porto. Matar saudades da Francesinha da Cufra ou da sandes de pernil do Guedes. Ouvir balada Coimbrã nas escadas da Sé. Regressar a uma capital do Ribatexas sob o sol escaldante que me modelou durante anos a fim.
Voltar a contar em português foi um desafio que só me senti vencer já perto do final da minha estada quando as minhas veias já estavam verdadeiramente entupidas de enchidos, pão caseiro e vinho. Difícil vida esta a que fui submetido em plena aldeia beirã! Histórias de contrabando e sacanices sem fim entre toques de calor e afecto que julgava apenas pertencerem a um país que já tinha como quimérico ou apenas de livros.
Talvez Torga, cujo diário me acompanhou neste regresso.
Contudo, não consigo deixar de agradecer a todos com quem me voltei a cruzar o prazer das palavras que contei e que me deram. Entre os votos de um regresso em breve e convites para germanices as palavras voltaram a ganhar calor dentro de mim e a vontade de viver cada instante como se de um momento único se tratasse foi quase imperial.
Em breve a Ryan Air me trouxe de regresso a este país onde contar em inglês perante um público mais frio já perto da bem mais fria Dinamarca.
Ainda meio de ressaca de tudo isto sinto-me finalmente aterrar em Hamburgo. O tempo está instável tal como, de certa forma, também eu me sinto.
Abraço-me à Rosa Montero e às suas leituras antes ainda de me entregar de volta às minhas análises antropológicas destas gentes. Não perdem pela demora.

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