Ainda com um jet lag existencial aterrei num comboio rumo a Niebull para ir para mais um festival.
À minha espera na estação de comboios estava uma educada senhora num volkswagen azul de inícios dos anos 90 e que desde logo me afiançou que o espírito do festival só se equiparava aos que houve em 71 quando o Jimi Hendrix ainda estava vivo. O facto de ele ter morrido em 1970 afiançou-me desde logo muita coisa fazendo-me esperar o melhor.
Herr Lôpez, ouvi enquanto saía do carro agradecendo a todos os antigos deuses egípcios o facto de ter chegado são e salvo ao local do festival.
De forma germânica fui intimidado a ir fazer o soundcheck que logo se tratava de me instalarem ignorando o real peso de umas malas que, mais que tudo, tinham uma identidade lusitana dentro.
Contar em inglês, reabituar-me às tão distintas reacções do público alemão e o tal de jet lag existencial aqui a martelar de forma constante foram barreiras que tiveram que ser vencidas nos primeiros 23 segundos, tempo de tolerância oferecido por qualquer público.
Ainda sem saber o impacto desta primeira sessão de contos de regresso a terras germânicas, vi-me a invadir uma tenda de circo com comida à qual só se tinha acesso mediante comprovativo de artista. No caso, uma pulseirita vermelha apertada de forma a cortar-me ao de leve a circulação sanguínea que isto esta gente não faz a coisa por menos.
Ao ser recebido por olhares frios não pude deixar de sentir que isto há gente que está para a simpatia como Hamburgo está para o sol e bom tempo. Mas ribatexano que se preze não se deixa intimidar nunca. Hora após hora regressei à tenda conquistando pedacinhos de pão com queijo e até um copo de água. No pequeno-almoço do segundo dia até ousei pedir café. Responderam um não sei quê e fui-me embora derrotado. Um desânimo profundo conquistou a minha alma. À saída da tenda apercebi-me que não era aquele o sítio para os artistas irem comer mas uma outra tenda ao lado onde me esperava um generoso buffet. Talvez, mas só por talvez ter andado a comer o que estava reservado à mocidade do circo é que me tinham sido dirigidos tão simpáticos olhares.
A acabar o segundo dia de festival e continuando eu de roda do buffet dou com dois jovens ingleses a meterem conversa, coisa assaz rara por parte das gentes da organização cuja única coisa que me iam perguntando era se tinha as minhas pulseiras que comprovavam a minha existência.
Quando dou por mim reparo que eram nem mais nem menos que estes mocitos:
https://www.youtube.com/watch?v=E8QpV8_WjrI
Já com a chuva a fazer-me lembrar de que é inerente à condição humana uma pessoa molhar-se e que isso pode acontecer mesmo sendo verão, lá vi o concerto enquanto pensava se a minha tenda ainda estaria montada ou já teria navegado qual caravela rumo a terras mais amenas.
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