Já vos aconteceu ler um livro por puro engano?
E falo num verdadeiro engano e não naqueles que os críticos nos costumam impingir aqui e ali como me aconteceu com a Ípsilon e o B Fachada, caso que ainda hoje me alimenta pesadelos e sobre o qual não consigo ainda falar sem que me venham lágrimas aos olhos.
Já que estou a escrever como se estivesse sentado num divã de um psiquiatra, confesso igualmente que sou impulsivo com os livros. Como acontece com muito boa gente, sempre comprei mais do que consigo ler e as bibliotecas representam para mim inimigos mortais de frustração ao saber que nunca conseguirei jogar olho nem num quarto em acervos que sempre crescem a um ritmo mais feroz do que o da minha leitura.
Pois acontece que na minha última incursão à Zentralbibliothek desta Hamburgo deparei-me com este livro aqui do lado. Uau, pensei. Vou ler Patrícia Melo.
Num momento formulou-se na minha mente a imagem de uma das capas de O Prazer da Leitura da FNAC de há uns anos atrás quando li um pequeno conto que me tinha agradado de sobremaneira.
Contente, regressei a casa.
Dedicatória do livro a Rubem Fonseca.
Ela conhece o Rubem Fonseca pessoalmente? (Inveja crescente no meu peito)
Primeira página e vai de me deparar com escrita em português do Brasil. Hmm, estranho.
Espreitando a capa, dou-me conta que tenho nas mãos uma edição da Companhia das Letras. Uau, editada no Brasil e com direito a tradução!
É então que uma dúvida me começa a assaltar: será esta a mesma Patrícia que li na colectânea da FNAC? O estilo parece-me tão diferente daquilo que me lembrava, fazendo-me até crer que estou a ler o próprio Rubem Fonseca.
O mundo negro e insano de relações em estreita harmonia com assassinatos abençoadas por um ritmo narrativo ferozmente veloz... É Rubem Fonseca. Só pode ser.
Graças às prodigiosas capacidades da internet, lá descobri que quem eu queria ler era Patrícia Portela.
Mas não me queixo do que li, até porque o engano foi tão deliciosamente completo que não deixei de me espantar ao terminar o livro e ver que foi mesmo escrito pela Patrícia Melo e não pelo Rubem Fonseca.
Haja mais enganos assim!
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