“Es como el testigo silenciose del continente,
al cual, desde su occidente extremo, contempla a medida que es iluminado por el
sol que avanza. Mira de reojo para que no la deslumbre el astro, y a veces,
aburrida, le da la espalda. Es un lugar acolchado y tenue, sesgado, que se
aparece como en un estado de potencialidad infinita, de inacabables morosidad y
recato.” – Javier Marías
Isto há coisas que me chateiam de
sobremaneira. Pagar impostos cada vez maiores para um estado que espera ainda
que envie remessas é uma delas. Ver o Roberto a rubricar uma exibição de luxo
contra o Benfica é outra. Ter escritores espanhóis encantados por Lisboa e, de
certa forma, a apoderarem-se dela, é outra ainda.
Os últimos três escritores espanhóis que me
passaram pelas mãos no espaço de apenas semana e meia, vai de tecerem
comentários sobre Lisboa sem qualquer tipo de pejo.
O primeiro, o senhor Vila-Matas, já é um velho
conhecido deste género de abusos. A sua paixão por Pessoa parece servir de
justificacao para uma libertinagem de amante desavergonhado. Neste último Aire de Dylan tudo parecia indicar que
não o iria fazer. Barcelona, relações estranhas com a fama, o já costumeiro
mundo literário, Estados Unidos, problemas geracionais e… Lisboa. Se na minha
vida apenas tivesse como certa a obra de Vila-Matas da mesma forma que certos estados americanos tem a bíblia, quase conseguiria jurar
que Lisboa seria uma cidade catalã ou um bairro de puro luxo intelectual de
Barcelona.
Nos Contos
Negros do Montalbán, lá surge o
investigador Carvalho em Lisboa. Ao invés do que geralmente acontece, não há
mortos nem cenas sórdidas de sexo entre copos de uísque, mas sim um conto
lírico e apaixonado. Uma excepção nas lides de um dos mais icónicos
investigadores privados destes mundos das literaturas. Cá para mim o Montalbán
estava mesmo a fazer-se a Lisboa à espera que esta retribuísse e que, uma vez
mais, se tornasse catalã. Algo cansado deste expansionismo catalão, quase chego
a propor que se torne a Catalunha lisboeta e que se acabe com este assédio de
uma vez por todas.
Enfiando-me destemidamente por um castelanista
de afamada mala leche dou com um
prefácio onde se anuncia que Lisboa irá surgir. Irá Javier Marías dizer mal de
Lisboa como é de sua tão comum tradição?
Em El
siglo há todo um capítulo (o sexto) dedicado às desventuras de Casaldálida
num exílio lisboeta repleto de cafés e conspirações de tertúlias entre a
comunidade hispanohablante. Até aqui tudo bem. Mas dedicar cerca de trinta
páginas a descrever de forma embevecida Lisboa num bater de couro descarado, é
demais! Veja-se a frase com que inicia este desabafo! Isto é demasiado assédio
para o meu pobre coração! Estivesse
Espanha numa mais vantajosa posição económica e creio que o melhor que tínhamos
a fazer era vender Lisboa aos espanhóis para que estes finalmente possam ter a
capital intelectual e sensorial que lhes parece andar a faltar.
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