terça-feira, 18 de junho de 2013

Diz-me o que contas e dir-te-ei quem és

Uma das perguntas que sempre me é mais difícil responder quando proponho  uma sessão de contos é a de que tipos de estórias conto.
Uma mistura, digo. Contos tradicionais e contos de autor que se misturam de tal forma que no final já nem se sabe bem onde começa um e acaba o outro.
Insatisfeitos com a resposta, costumam-me pedir referências. Nomes como os seguranças dos aeroportos pedem documento de identificação. De forma despiciente lanço alguns nomes que me passem pela cabeça na altura sem sequer ousar pensar que irão surpreender os meus interlocutores. Regra geral não surpreendem, sendo apenas interrogado sobre se esses nomes são boas referências.
São as minhas, ora porra, penso responder.
  Contudo, há referências, nomes aos quais não se pode fugir por muito que se queira. Um desses eleitos a que andei a fugir durante anos largos foi o de Antonio Rodriguez Almodóvar e os seus Cuentos al Amor de la Lumbre.
Desde que comecei nesta andança dos contos que o nome dele começou a saltar aqui e ali como um dos grandes desta cultura ibérica onde me vi nascer. Eis então que numa recente visita à Zentralbibliothek de Hamburgo ele me voltou a saltar das estantes de literatura em espanhol tornando-se irresistível não trazê-lo.
E lê-lo, claro está.
Assim fiz.
Tendo sido um dos pioneiros na recolha de contos, não posso deixar de destacar a extensa introdução, ideal para profissionais do conto e teóricos da tradição oral. Pessoalmente achei demasiado estruturalista, mas tudo bem. Há quem goste. Quem não goste pode sempre passar à frente e mergulhar verticalmente nos contos.
Em relação à recolha, a transcrição dos contos é irrepreensível e a selecção não se podia esperar melhor. A nível de organização encontra-se igualmente bem dividida por temáticas incluindo distintas variantes do mesmo conto oferecendo-nos uma visão globalizante. De certa forma estes livros representam um "best of" da nossa cultura popular ao mesmo tempo que nos faz viajar pela península com indescritível prazer.
As ilustrações do Pablo Auladell conferem-lhe uma magia ainda maior sendo, por si só, uma outra estória, um outro conto, uma outra oportunidade para viajar ou continuar a viajar.
Edição de luxo de um livro que é um luxo.
Indispensável para qualquer narrador que se preze e outros amantes dos contos.

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