Neste sonho que me invadiu estava no metro. A caminho de casa. À minha volta havia as caras cinzentas do costume que reagiam com a indiferenca de sempre à irritante voz que sempre vai anunciando a próxima estacao sem nunca errar nem mudar de tom. Maravilhas da vida moderna, penso. Num momento lembro-me do senhor da estacao de comboios de Santarém que gritava de forma imperceptível a entrada da próxima composicao numa das duas linhas disponíveis.
Se há aculturacao que os alemaes conseguem implantar de forma categórica nos emigrantes é a do cinzentismo nos transportes públicos. De facto é um bocado indiferente de onde uma pessoa vem, que o nao sorriso e o olhar mortico para um telemóvel consegue ser exactamente o mesmo. Assim se esbatem as diferencas culturais criando uma unidade e identidade nacional, penso.
"Fahrkarte, bitte". De um pulo procuro o bilhete e pergunto ao revisor se isto já chegou ao ponto de ter que se pagar bilhete para se sonhar.
Na altura em que as nossas vozes já se levantavam mais do que o aconselhado pela OMS acordo com o coracao a bater e a repetir para mim incessantemente que tirei um bilhete diário e que posso sonhar noite fora sem ser interrompido.
Ao sair da carruagem chegando a Horner Rennbahn depois de um serao de contos deparo-me com um tipo a bater violentamente numa mulher da qual só vi cabelos e ocasionalmente as pernas. Na carruagem do lado onde tudo isto se ia passando, os cinzentoes iam focando os olhos no telemóvel e ninguém se dignou mexer como se fosse apenas normal o que ali se estava a passar.
Infelizmente esta última parte foi bem mais verdadeira que o sonho com o revisor e aparentemente ainda nao houve sonho que fosse capaz de afastar esta imagem tao real da minha cabeca.
Sem comentários:
Enviar um comentário