À semelhança do que acontece em todas as outras grandes cidades europeias onde a bicicleta consegue vencer as intempéries diárias tornando-se num transporte comum, também em Hamburgo o roubo de bicicletas é elevado e tremendamente desconsiderado pelas autoridades.
Como é que sei isto?
Nada como viver as situações para de novo garantir a eternidade da "experiência como madre de todas as cousas" como uma frase sábia e actual. Frases destas surgiram por alguma razão. Confesso que ainda não consigo esconder algum desconforto ao chegar a casa e lembrar-me dos restos mortais do cadeado pendurados nas grades do jardim. Assim de duro e cruel porque, ao contrário do típico larápio lisboeta, que demonstra, trabalho após trabalho, merecer o título de Mãozinhas ou Levezinho sendo capaz de desmontar o mais sofisticado cadeado deixando para trás todas as pecinhas que desmontou caso o dono o queira voltar a montar, aqui corta-se os cadeados e já está. Não há cá pão para malucos!
Nada como o pragmatismo germânico, pensei eu enquanto removia o cadáver a fim de contribuir para o bem estar social e não obrigar as crianças do bairro depararem-se com esta bárbara realidade.
Ainda não recuperado deste choque eis que me deparo com a evidência de que me roubam igualmente o jornal. Tendo assinado gratuitamente quatro edições do Zeit (jornal equivalente ao Expresso) a fim de conseguir desenvolver um pouco mais o meu aleijadinho nível de alemão, apercebo-me de que recebi apenas uma e meia. E isto se a revista contar como meia.
Desta feita será um qualquer bondoso vizinho que ao ver a minha caixa de correio tão cheia não hesita em aliviá-la deste fardo. Sempre a contribuir para o bem comum, estes alemães.
Uma vez que me vejo assim privado de desenvolver por completo as minhas capacidades linguísticas sinto vontade de escrever uma pequena nota em bom português e deixá-la na caixa de correio dos meus vizinhos:
A próxima vez que me roubar o jornal, juro que lho emprenho pelas orelhas. Danke.
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