Depois de uma semana por Hamburgo resolvi então ver-me de outros ares só para fugir às ondas de frio que emanam deste tal canal Eilbek que fronteia a casa onde vivo.
Fugi de forma decidida para terras onde as bruxas fizeram em Goethe eco e onde uma muralha naturalmente demoníaca domina a paisagem. Para rimar com esta paisagem tão díspar do lusitano Ribatejo fui então convidado para um Raclette. Que chique, pensei. Queijo derretido, vegetais grelhados sobre finas camadas de molhos rigorosamente seleccionados e, surpresa das surpresas, uma selecção de salsichas que nunca estes meus olhos tinham visto. Havia brancas, rosadas, de meio metro, minúsculas, outras que recitavam excertos completos da autobiografia do Gunter Grass num sem terminar de demonstrações da arte salsicheira capazes de fazer corar a mais anciã enroladora de farinheiras do Arneiro das Milhariças.
E para acompanhar tamanho repasto?
Uma lista interminável de cervejas das mais diversas regiões deste país. Como se tal não bastasse, ainda me perguntaram se, por acaso, não preferia cerveja checa. E eu que só pensava em vinho verde...
Claro está que deste tremendo repasto estou a excluir a importante e vital informação de que tudo isto teve início às 18h, hora que quase me provocou um espasmo. Mas isto não há nada que vença um ribatejano, ouvi dizer.
Pelo sim, pelo não, resolvi fugir novamente, desta feita para Dresden como quem procura espiar os traumas originados pela leitura do Slaughterhouse 5 do Kurt Vonnegut aqui há uns anos.
De rosetas cravadas na cara logo percebi a paixão dos filósofos alemães de fins do século XIX pelas barbas farfalhudas. Mais que paixão, é uma questão de sobrevivência aos frios nevísticos desta gente. Juro que pensei que ia deixando um dedo junto ao rio apenas para tirar uma fotografia ao rio semi-gelado. Isto já para não falar no facto de ter visto a cidade por entre as bolinhas de neve que me invadiram os óculos, o que sempre é uma experiência de relevante valor artístico.
Salvou-se a originalidade do museu do Erich Kästner (onde não nevava nem fazia frio), as intermináveis canecas de Gluhwein e o comboio que dali me levou para outras paragens.
Talvez em Agosto seja bonito...
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