segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Eesti

De todas as estirpes de hóspedes que por aqui passam, há um género que me irrita particularmente:
Os indivíduos que vêm a outros países apenas para confirmar que o país de origem é melhor do que aquele que estão a visitar.
Pois ontem chegou-me um jovem de quase dois metros oriundo desse grande exemplo civilizacional que é a Estónia. Com pouco mais que um milhão de habitantes a Estónia é conhecida internacionalmente pelas coisas que todos nós conhecemos.
Pois a bela alma veio de lá com os seus conhecimentos adquiridos ao fim de um ano de aturado estudo da língua portuguesa com comentários como tudo é tão barato em Portugal, como as lojas portuguesas não aceitam pagamentos com cartão de multibanco para maquias de 1 e 2 euros, como o único café de uma aldeia ao pé de Góis não tem wifi, como o nosso leite ultrapasteurizado não presta, como o nosso leite fresco é apenas semelhante aos piores que têm na Estónia e de como é tão mais caro, de como o país é quente e de fácil vivência, de como é ridículo construir cidades em 7 colinas.
Depois de conversa aturada pelo pobre Alex sobre as especificidades e diferenças da língua portuguesa entre Portugal e Brasil com comentários como: no Brasil não se fala português correcto porque há imprecisões gramaticais, de como o português europeu soa a algo aristocrático, de como é uma língua simples e elementar, pese embora ainda não tenha da sua boca ouvido uma qualquer palavras portuguesa bem pronunciada.
Talvez seja este post uma homenagem à paciência do Alex que repetiu ad infinitum a palavra "moram" que a jovem alma dizia "mourão" e não se apercebia das diferenças fonéticas, afirmando, de forma convicta que estava a dizer bem e que não havia diferença.
O ponto alto da noite foi um magnífico berro afirmativo em pleno Bacalhoeiro sobre como eu não tinha percebido como o cantor brasileiro tinha cantado com sotaque português no início, tendo depois regressado ao registo natural dele.
Claro está que reconheci uma superioridade intelectual deste jovem, que saberá, melhor que eu ou qualquer outro nativo do português, reconhecer estas subtilezas.
Como tenho um hostel que se pauta pela mediocridade intelectual, convidei-o a sair.
Que isto o Natal não é todos os dias...

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