Há coisas que, por muito que viva, creio nunca vir a entender na totalidade.
Uma delas é a paixão italiana por serem esmagados nos matraquilhos.
Confesso que fazia tempo que não jogava quando por aqui surgiram uns italianos que já por aqui estiveram duas vezes e que ainda não se aperceberam que sinto um especial prazer em tratá-los mal.
Pois não obstante a minha dissimulada falta de simpatia com que os recebi uma terceira vez, eles sorriram, eles entraram a falar de tal forma alta que todos os possíveis fantasmas de almas penadas que nesta casa existam acordaram sobressaltados e assumiram um à vontade normal de quem já conhece os cantos à casa.
Até aqui, tudo normal em relação a pessoas nascidas na bota da Europa onde se elegem pessoas como Berlusconi como primeiro-ministro apenas para lhe partir os dentes da frente.
O que foi realmente estranho foi o facto de um deles, depois de já ter sido humilhado mais vezes que eu paguei impostos (e refiro-me aos comuns produtos do dia a dia), me veio pedir para jogar matrecos à frente de todos os seus amigos.
Sendo uma pessoa a quem a violência física e psicológica pura e simplesmente repugna, evitarei descrever aqui a forma humilhante como fui marcando golos enquanto enunciava e enumerava velhas glórias do futebol italiano como Paolo Rossi, Vialli ou Ravenelli para desespero e surpresa dos presentes.
No final, e cumprindo uma secular tradição italiana, não houve direito aos tradicionais apertos de mão, mas sim a um andar acabrunhado enquanto se vocifera em dialecto da Calábria ou uma qualquer outra zona que produza vinho espumante.
Se o intrépido jovem italiano continuar a vir cá até me ganhar, acho que tenho o negócio mais ou menos garantido pelos próximos tempos.
Grazie mile!
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