No outro dia foi-me imposto um livro. Toma. Le.
Tremi.
Olhei para a capa e tremi ainda mais ao aperceber-me que nao se tratava de ficcao. Uma coisa foi o tremer incontrolável que senti quando o bibliotecário do Cervantes me encheu as maos com Onetti, Conto Espanhol do Pós-Guerra, Ana María Matute, Benedetti, Seleccao de contos equatorianos, Galeano, Luís Mateo Diez apenas para nomear alguns. Outra coisa é imporem-me um livro de nao-ficcao.
Fazendo um pequeno retrocesso temporal, acho que o último livro de nao-ficcao que li de forma livre (excluindo assim o livro de regras sobre higiene alimentar em alemao ou os diversos livros de linguística dos tempos universitários) terá sido Nietszche, numa tentativa de partilhar o entusiasmo contangiante com que o Goncalo (criatura de cariz mitológico de nacionalidade scalabitana que ainda hoje define a minha nocao de amizade) lia as suas obras. Isto há coisa de uma década atrás (bonita idade esta que tenho em que já comeco a medir o tempo em questao de décadas).
Sentindo a obrigacao de passar os meus olhos por textos (vd. http://narralhices.blogspot.de/2014/05/recomendo-talvez-nao.html) de um senhor ingles que nos tenta ensinar a viver numa cópia frágil da realidade quotidiana, nao consegui nunca esconder o tédio e até uma certa revolta quando alguma frase mais acertiva me entrava pupilas dentro. A afirmacao de realidades e a consequente tentativa de imposicao de uma forma de viver ou de uma realidade absoluta tem-me causado cada vez maior desconforto.
O drama do senhor Feliciano em El día de las puertas cerradas (http://www.amazon.com/El-Dia-Las-Puertas-Cerradas/dp/B002DID1NA) do Equatoriano Oswaldo Encalada Vasquez modela os meus padroes de vida muito mais do que qualquer conselho directamente dado. E isto tudo tendo em conta que estou a viver na democrática Alemanha onde o conceito de liberdade pessoal é algo confuso e, de certo modo, definido por uma estrutura de interesses económicos que coloca a Seguranca Social portuguesa na categoria de infanto-juvenil.
Respirando fundo, olho para o típico céu cinzentao de Hamburgo, ponho as maos à volta da chávena de chá e regresso à ficcao sem data definida para dela sair.
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