terça-feira, 19 de março de 2013

Esta coisa estranha de viver

Joseph Conrad - The Hear of Darkness
Umberto Eco - The Name of the Rose
William Faulkner - The Bear
Jane Austen - Pride and Prejudice
Upton Sinclair - The Jungle
William Saroyan - Short Drive, Sweet Chariot
Stefan Zweig  -Ungeduld des Herzens
Jostein Gaarder - Sofies Welt
Erich Kästner - Herz auf Taille
Max Frisch - Homo Faber
Erich Kästner - Gesang Zwischen den Stühlen
Ernest Hemingway - The Old Man and the Sea
John Steinbeck - Travels with Charley
Volkliederbuch für gemischten chor
Vikram Seth - The Golden Gate
Knut Hamsun - Nach Jahr und Tag
Der Hamburger Musikant
Peter Tschaikowski und Nadeshda von Meck - Geliebte Freundin
Jane Austen - Emma
Heinrich Heine - Atta Troll
Nicolai Gogol - Taras Bulba
Walt Whitman - A Choice of Whitman's Verse

Estes foram os livros que passaram a habitar a minha modesta casa depois de breve incursão numa feira da ladra onde o frio convidava a não tirar as mãos dos bolsos. Como é costume por estas bandas, esta feira da ladra não tinha o encanto daquela outra que foi habitando as minhas terças e sábados. Não havia velhotas a gritarem um eurooo! Tudo a um euro! Não havia rapazes de aspecto duvidoso a vender os furtos da noite anterior. Não havia batalhão da polícia de intervenção. Não havia turistas de máquinas fotográficas em punho e pescoços vermelhuscos. Não havia cheiro a bifanas nem a simpática senhora que percorre a feira incontáveis vezes com um carrinho cheio de minis. Não havia música pimba a rivalizar com fado.
Havia, sim, bancas organizadas num espaço multicultural e pessoas com ar cinzento a vender o que restava do resto das suas vidas.  Batendo com os pés para tirar os restos de neve que insistiam em habitar as minhas botas esperando um convite maroto para entrar, ouvi o que me pareceu ser mentira: Oh menino, pode levar tudo o que quiser que não quero ir carregado para casa.
Desculpe?
É tudo grátis. Leve o que quiser.
Como sou um menino bem educado e obediente, assim o fiz. E por este pequeno manancial de livros paguei... zero.
Em seguida entrei numa loja indiana. Bem, como explicar? Não era bem uma loja. Um mundo, diria. Lá dentro era impossível descortinar a cor das paredes pois havia de tudo por todo o lado. Roupas. Incensos. Instrumentos musicais.  Toda uma parafernália tirada de um qualquer filme de bollywood. No ar ecoava uma versão indiana da lambada. Por trás de um conjunto de amuletos num balcão rodeado pelo fumo de diversos incensos que teimavam em queimar incessantemente, estava o dono. Com um sorriso perguntou se era de Hamburgo. Se tinha filhos. Se conhecia o Ronaldo pessoalmente.
Perante tamanho cenário claro está que fui de me apaixonar por uma marioneta que parecia estar ali ainda antes da abertura da loja.
Preço? Setenta.
Hmmm, desculpe. É um pouco cara.
Quanto quer pagar por ela?
Quarenta?
Amigo, disse-me. Ela vale cinquenta. O amigo paga quarenta agora e depois, quando contar estórias com ela e começar a ganhar bom dinheiro vem cá e dá-me os dez euros que faltam. Ou então, ainda melhor, dá para as crianças de Calcutá. Num papel rabiscou http://calcutta.de/ e despediu-se.
Estando à porta da loja a falar com um alemão que estava interessado nisto das estórias e que me deu um postal com um poema que comprou sabe Deus onde, eis que vejo o dono a correr porta fora ao meu encontro.
Amigo, amigo. Esqueci-me de te dar amuleto para que tenhas boa sorte e inspiração nas estórias. E da mesma maneira que saiu, entrou.
Troquei contactos com o rapazito alemão e lá me fui refugiar num café a fim de restabelecer a circulação sanguínea. Na boca tinha um sorriso.

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