sexta-feira, 25 de novembro de 2011

De palavras em palavras

"Suele ocurrirme, las palabras me fascinan, me enamoran, me enferman, me golpean, me trasnochan, me hacen alucinar..."

Obrigado Nicolás.
Talvez também tenha que agradecer a todos os que, durante estes últimos quase trinta anos me têm alimentado a cabeça com palavras, pois ainda é o único que me vai conseguindo alimentar desde sempre e não há crise que afecte esta fome.
Daí ter ido até à Polónia em busca de palavras impronunciáveis por pessoas que nasceram em países onde o sol brilha como deve ser. Começando por opowiadanie, que muitas vezes soa a estranho até para os próprios locais... You do what?, perguntam. Com sorriso latino, expliquei infinitas vezes o que era, enquanto os doutrinava sobre a forma correcta de pronunciar Uwagaaaaaaaaaa, após ter descoberto que era palavras de origem japonesa.
Os locais respondiam as estes delírios com convites para Piwo, Wodca, Wino e outras bizarrias locais. Em Portugal, costumo ser escorraçado. Há que gostar dos polacos, penso.
No frio de Wroclaw pude caminhar sob uns simpáticos -2º e ao lado de um paquiderme de robusta constituição física que não hesitou em mostrar os braços cheinhos de Bigos enquanto afirmava de forma convicta que em Cracóvia estavam -12º e que o Outono era bem ameno por aquelas terras. Sedutor, pensei.
As poucas partes da minha cara ainda capazes de mover acenaram em reverente concordância. Logo me arrependi ao sentir que o meu nariz caiu perante a passagem de um belo de um eléctrico de inspiração soviética. Nesse momento percebi o Gogol e as questiúnculas com o nariz.
Não fosse uma sacrossanto grzane wino (vulgo vinho quente capaz de nos aquecer o coração e outras coisas, evitando problemas de saúde algo chatos como a gangrena) e não estaria aqui a escrever estas palavras.
Palavras, palavras, palavras...
Entre a fabulosa experiência de ter tido um cachorrito a fazer necessidades nas minhas calçasLink 10m antes de sessão de contos no Muzeum Bajek até ter levado reprimenda de olhares (os polacos são gente de boa e severa educação) por ter chegado 3 minutos atrasado a um encontro, posso-vos dizer que nunca tirei tão poucas fotos devido ao desejo de sobrevivência que me fazia não tirar as mãos dos bolsos.
Survival of the fittest, disse o Herberto. Beto, para os mais próximos.
Gostaria de dizer que vim da mesma maneira que fui, mas não. Vim com a experiência cheia de frios, sabores, cheiros, alguns zlotys, mas sobretudo, vim mais pessoa.
Dzięki!

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