quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Da emigrante contracondicao

Ser-se emigrante é estranho. Ser-se emigrante portugues em Hamburgo é, porventura, mais estranho ainda.
É andar-se pela rua, ouvir um chorrilhao de asneiredo proferido na lusa língua e mudar estrategicamente para o outro lado ou simplesmente fingir que nao se percebeu patavina do que acabou de ser dito.
É achar catita haver uma Casa do Benfica em Hamburgo mas nunca lá ter posto os cotos (nem sentir-me tentado a faze-lo).
É ter ataques melancólicos às oito da manha e fustigar os meus vizinhos com cante alentejano.
É conseguir convites para uma feira de vinhos e acabar num restaurante alemao com dois produtores a discutir a qualidade dos vinhos ali servidos com o dono. É receber uma garrafa de valor incalculável entre dois abracos calorosos e desejos de sorte para o futuro.
É ter todos os meus emails para o Instituto Camoes ignorados e ir contar estórias ao Instituto Cervantes e lembrar-me inevitavelmente de Almada Negreiros (Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!)
É achar a identificacao de Portugal enquanto país exclusivamente produtor de fado como algo redutor e ficar de lágrimas nos olhos ao ouvir o valter hugo mae a entoar fado no Programa do Jo.
É nao conseguir deixar de celebrar o Magusto com castanhas e jeropiga na companhia de outros portugueses e ter pavor das casas que erguem a bandeira portuguesa por toda e qualquer razao.
É sentir-me bem em Hamburgo e ter uma saudade crescente e constante da terra que me viu nascer.
É, enfim, ser uma contradicao de mim mesmo e viver o dia a dia enquanto Pedro.