segunda-feira, 13 de junho de 2016

Sol em Hamburgo?

Mais coisa menos coisa vivo e trabalho na cidade mais chuvosa da Alemanha, o que por si, já é dizer muito.
Um dia só se pode considerar normal quando morrinhar durante, pelo menos, duas horas e meia consecutivas, remetendo o bom humor das pessoas para mais longíquas e exóticas paragens como Maiorca ou, até mesmo, Portugal. Independentemente de ser Inverno ou Verao, o céu assume uma tonalidade cinzenta que, a pouco e pouco, dá processo a uma curiosa osmose resultando numa evidente perda de pigmentacao da pele.
Pese embora esteja a trabalhar numa escola para meninos aumentados, como o definiria a minha querida Mercè Escardó i Bas, a situacao, como está bom de ver, nao mudou.
Os dias continuam cinzentoes e carregados de uma insatisfacao atmosférica capaz de competir com o meu mau humor matinal.
Contudo, na turma onde trabalho há uma pequena com trissomia 21 que todos os dias, quando se lhe pergunta como está o tempo, num ritual pedagógico de utilizacao do Talker, responde invariavelmente que o sol brilha. E isto, mesmo quando confrontada com a realidade que nos entra pela janela dentro remexendo com as nossas emocoes mais profundas.
Ontem, quando confrontada com o intenso molha tolos que deixava impressas grossas gotas nas árvores que rodeiam a  escola, limitou-se a apontar para o céu cinzentao e dizer que tinha a certeza que, por trás das nuvens,  haveria sol e que ele continuava a brilhar todos os dias.
Num breve instante esse tal de sol voltou a brilhar e ela olhou para nós com o sorriso inabalável daqueles que sabem que a sua razao ultrapassa muitas vezes a nossa compreensao.
E sim, confesso, ela é um pequeno sol neste cinzento de Hamburgo.