terça-feira, 30 de novembro de 2010

Que persistência

Há coisas que, por muito que viva, creio nunca vir a entender na totalidade.
Uma delas é a paixão italiana por serem esmagados nos matraquilhos.
Confesso que fazia tempo que não jogava quando por aqui surgiram uns italianos que já por aqui estiveram duas vezes e que ainda não se aperceberam que sinto um especial prazer em tratá-los mal.
Pois não obstante a minha dissimulada falta de simpatia com que os recebi uma terceira vez, eles sorriram, eles entraram a falar de tal forma alta que todos os possíveis fantasmas de almas penadas que nesta casa existam acordaram sobressaltados e assumiram um à vontade normal de quem já conhece os cantos à casa.
Até aqui, tudo normal em relação a pessoas nascidas na bota da Europa onde se elegem pessoas como Berlusconi como primeiro-ministro apenas para lhe partir os dentes da frente.
O que foi realmente estranho foi o facto de um deles, depois de já ter sido humilhado mais vezes que eu paguei impostos (e refiro-me aos comuns produtos do dia a dia), me veio pedir para jogar matrecos à frente de todos os seus amigos.
Sendo uma pessoa a quem a violência física e psicológica pura e simplesmente repugna, evitarei descrever aqui a forma humilhante como fui marcando golos enquanto enunciava e enumerava velhas glórias do futebol italiano como Paolo Rossi, Vialli ou Ravenelli para desespero e surpresa dos presentes.
No final, e cumprindo uma secular tradição italiana, não houve direito aos tradicionais apertos de mão, mas sim a um andar acabrunhado enquanto se vocifera em dialecto da Calábria ou uma qualquer outra zona que produza vinho espumante.
Se o intrépido jovem italiano continuar a vir cá até me ganhar, acho que tenho o negócio mais ou menos garantido pelos próximos tempos.
Grazie mile!

domingo, 21 de novembro de 2010

Gosh bless America

Depois de me ter amigado de forma facebookiana de uns catitas americanos que por aqui passaram (os tais do Nabokov e Tarantino), resolvi partilhar a tipicamente francesa "Putain Bordel de Merde" numa questão de mera ajuda cultural a uma pobre rapariga que demonstrou verdadeira preocupação por ir a Paris e não falar francês.
Claro está que a menina não percebeu o que queria dizer e eu fiz questão de traduzir de forma a que o percebesse quando os franceses lho atirassem à cara depois de um belo repasto no McDonalds.
Uma vez feito, dei com o seguinte comentário da senhora sua mãe nesse tal mesmo de facebook:
"Hey, let's keep it clean, we have children and ladies reading our pages."
Depois de ter controlado o meu riso desbragado, resolvi esquematizar mentalmente uma série de coisas que nada têm que ver com nada:

1) a referida expressão foi-me ensinada por uma jovem francesa com quem partilhei casa em Southampton e que a dizia mais que amiúde
2) clean???? puritanos de um raio! wtf is clean?
3) pensei responder de forma imediata com alguma referência à falta de capacidade de encaixe e à hipocrisia generalizada nos EUA onde se dizem coisas tão belas e épicas como "the f**** word"
4) ah, e pôr um qualquer vídeo do South Park
5) pôr, pura e simplesmente, LOL

Mas nada disto fiz, tendo aguentado este meu espírito semi-valdevino, respondendo de forma educada:

"Dear Jeannette,

I'm terribly sorry for the swearwords, but do believe me things work quite differently in Europe and it was not meant to be offensive.
"

Confesso que até eu fiquei impressionado com tamanha demonstração de boa educação, mas temi que a americana jr fosse recambiada para os Estados Unidos por conhecer pessoas de tão terrível índole como este estalajadeiro que vos escreve.
Mas não fiquei tão impressionado quanto com a resposta subsequente da tal de Jeannette:

"Thank you, I appreciate the apology, but swear words are offensive, no two ways about it."

Gosto particularmente da abertura mental desta senhora. Quando quiser instaurar um governo ditatorial em Portugal, já sei quem hei-de chamar para Ministra do Bem Público, que substituirá de forma eficaz o Ministério da Saúde, da Educação e da Administração Pública, assim reduzindo os custos orçamentais. Ah, e dar-lhe-ei igualmente um simpático tempo de antena, substituindo o Marcelo Rebelo de Sousa e o Miguel Sousa Tavares, onde poderá falar com um simpático sorriso à Sarah Palin sobre a correcta postura dos cidadãos portugueses.
Haja decência, é o que vos digo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

De modas e modos

Deverá existir um qualquer ditado que nos põe de sobreaviso quando recebemos um telefonema de pessoas demasiado simpáticas que nos tratam de forma reverencial.
E assim fiquei no outro dia. Resulta que eram pessoas de uma seguradora a tentarem impingir sabe Deus o quê relacionado com saúde e higiene no trabalho.
Sendo que tomo banho bastante amiúde, não vi razões porque temer.
Mas aparentemente quem temeu foi uma mocita dos seus vinte e qualquer coisa anos e de acentuado sotaque coimbrão que, desde logo, passou ao ataque descrevendo um sem número de coimas e maldições eternas por desrespeito e falta de fé.
Claro está que tudo isto terminou num belo e claro "Então, assina?"
Não assinei.
Fazendo usufruto destas novas tecnologias da internet, pus-me em rápido contacto com quem de direito e cedo percebi que tamanhas ameaças não tinham razão de ser e que tomar banho amiúde bastava.
Quando liguei a comunicar esta brilhante verdade universal à roliça menina, assim me dispensando de gastar um dinheiro despropositado, fui brindado com um: "Então a que horas quer que passe por aí para assinarmos?"
Eu cá não sei, mas suspeito até agora que ela não percebeu o que lhe disse.
Seja como for, o encontro não se realizou, pois acabei por usar a cimeira da Nato como desculpa, que sempre é uma coisa que está na moda.

sábado, 13 de novembro de 2010

Quão assustadora pode ser a limpeza de um frigorífico?

Sei que poderá ser uma questão aparentemente simples, mas acreditem que de onde vos escrevo, é tudo menos isso.
O sentimento verdadeiramente altruísta que muito boa gente tem de achar que 2 tomates cherry poderão dar jeito a alguém ou que um resto de sumo invisível ao humano olho poderá matar a sede de todos os que se aventuram a subir até à Graça em dias de maior calor vai-se deteriorando até ao simples desleixo de deixar pacotes de saladas por abrir ou, pura e simplesmente, embalagens vazias.
Por muito desagradável que tudo isto seja, teremos que contar com a cumplicidade de todos os que não se importam e não comentam que os seus legumes estejam prestes a ser devorados de forma canibal por maioneses que foram trazidas para vida através de uma longa e saturada maturação. E isto para não falar em catranhurros que fazem os inspectores da ASAE parecerem playmobis e que fazem o processo de mutação das tartarugas ninja parecer coisa de meninos.
Uma vez equipado com luvas até ao pescoço e de cif power cream na mão (já que não se deve esquecer o meu diminuto olfacto) eis que, de tempos a tempos me lanço ao ataque de forma impiedosa.
Hoje foi dia disso. Amanhã não o será. E isso e só isso é que me faz sorrir no momento em que vos escrevo.

sábado, 6 de novembro de 2010

Californication

Contrariamente aos ditamentos de inúmeras associações anti-globalização, continuo a receber criaturas oriundas dos Estados Unidos, quer elas tenham votado Obama ou McCain. Recebo até alguns que não votaram. E isto sim, é abertura de espírito.
Pois acontece que ontem me surgiram 4 californianos e uma floridense ou como raio se chamam os habitantes da terra dos reformados americanos e dos imigrantes ilegais de Cuba.
Depois de ter ficado relativamente fascinado com o facto de estudarem coisas tão interessantes e diversas como Creative Writing (vulga Escrita Criativa) ou Cinema.
Fascinado, comecei a dissertar sobre Nabokov e Tarantino de forma descontraída até me aperceber, não muito tempo depois, que estes nomes nada diziam a estas boas almas.
Depois de se terem esquivado à minha pergunta inocente de quais eram as suas referências, fui invadido por expressões como "Gotcha" e "why speak another languages if English is so beautiful?".
Sorri então de forma profundamente cordial, fazendo mesmo inveja ao mais venerável sensei, e afastei-me em direcção a um tremendo Lapsang Souchong que me prometia salvação em goles prazenteiros.
Não me espanta que o Obama esteja a perder popularidade, que isto há coisas que o ser humano nem sempre aguenta

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ao tempo que não como uma boa cabidela

Pois faz-se este blogue não só de relatos pessoais, mas também de terceiros.
Depois de ter morto um(a) personagem, sinto que é meu divino dever construir uma nova.
Aos 35 anos, Alex, é um arquitecto brasileiro que se tem dedicado a remodelar a estalagem a partir do momento em que se apercebeu que os 3 dias iniciais que veio para ficar se prolongaram já por um período superior a um mês.
Pois acontece que este jovem resolveu ir conhecer ontem a lusa realidade das casas de fado. Estando acompanhado de brasileiros e franceses, eis que havia no grupo um jovem marroquino a residir em França a fim de terminar a sua brilhante carreira académica.
Pois foi precisamente com esse jovem que um idoso fadista resolveu dar uma de bom lusitano e perguntar que drogas tinha consumido por ter os olhos tão fechadinhos, assim denotando um profundo conhecimento sobre os jovens que tanto distúrbios causam em terras francesas.
Mas do outro lado, em vez de sorriso, houve um ar ofendido. Houve refilar. Houve conversa no final com o senhor fadista. Houve mão no pescoço do senhor fadista e gritos de falta de respeito e disto e daquilo.
Completamente alheado da realidade onde se encontrava, o jovem arabe (leia-se com o sotaque francês de Poitiers, local sagrado de travão ao avanço árabe na Europa há alguns anos atrás) levou uns merecidos sopapos (tapês, segundo o que me foi narrado, mas eu sou muito pouco fiel nestas coisas de narrar acontecimentos de terceiros), tendo sido posto no seu devido lugar pelo idoso fadista, pelo guitarrista, 2 empregados e mais alguns curiosos que não resistiram a juntar-se à garraiada.
Entre gritos de falta de respeito, lá foi posto na rua enquanto o Alex fazia contas à vergonha.
Neste episódio todo só lamento o facto de se ter passado num daqueles clubes de fado onde se paga bem e há gente benzoca. Houvera sido aqui na Tasca do Jaime e haveria cabidela para o jantar.
Por uma questão de respeito, claro está.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Besugfrei

Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem.

Bertolt Brecht


Se eu fosse uma pessoa letrada, acreditem que bem que punha um punhado de citações por cada post. Como não sou nem pretendo ser tal coisa, limito-me a achar piada quando tal coisa acontece, porque sempre dá um ar mais erudito aqui à coisa.
Mas indo directo ao gravoso assunto que aqui hoje me trouxe:
Queria anunciar a morte de uma das personagens. Depois de tempos e tempos de caracterização interior, até conseguir encontrar os adjectivos perfeitos para proceder a tamanha descrição, eis que o senhor estalajadeiro resolveu anunciar que o senhor Besugo só por cá poderá andar até fins do presente mês de Novembro.
Após acusações de perseguição pessoal quase fazendo lembrar o processo dos Távoras e de berritos de peixe, fui obrigado a dizer que não tinha paciência para tamanhas peixeiradas e dediquei-me a um empadão de carne que nesta coisa da culinária até é algo bem civilizado.
Portanto, eu, enquanto autor matei uma personagem. Enquanto estalajadeiro livrei-me de um puto que me consumia mais juízo do que o aceitável.
Sinto que estou a deitar material de posts fora, mas a vida real é mais violenta que a virtual.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Parem de comer, se faz favor

Numa altura em que parece que a ordem mundial se encontra ameaçada pelo aumento exponencial do consumo de carne e o hostel é invadido por fanáticos vegetarianos oriundos dos mais distintos pontos do planeta, eis que, no espaço de 4 dias, há quatro pessoas que resolveram parar de forma voluntária a sua digestão sem consultarem o centro de saúde mais próximo.
Devo confessar que era um sonho mais ou menos recorrente, tendo mesmo recorrido a várias pessoas que dizem saber o futuro (bruxas, professores oriundos de países africanos, políticos, o Alves e os carochos do Caracol da Graça) a fim de prever quando seria quebrado o jejum de limpeza asséptica das casas de banho, sendo necessário recorrer a medidas mais extremas e de cariz totalitário, fazendo a Líbia parecer uma democracia com a qual Portugal deveria fazer negócios.
Pois estes últimos dias trouxeram essa tal de cruel realidade que já andava a antever. Só não precisava de ser tão intensa, confesso.
Agradeço o atendimento dos meus sonhos, mas às vezes não precisavam de ser tão solícitos. Se isto é uma consequência directa da crise, então sou muito a favor do PEC.
Já agora, e à laia de consideração inocente, 3 dos 4 paralistas da digestão eram vegetarianos e a 4ª pessoa era hipo-termo-glicémica (ou qualquer assim), o que me faz enquadrá-la nos grupo dos defensores dos direitos dos animais.
Quando ao os vegetarianos a dar este tipo de exemplos, eu não sei, muito sinceramente, se o Benfica será capaz de ser campeão este ano.